quinta-feira, 12 de março de 2009

Vale a pena?


Realizou-se ontem no Clube Militar um debate entre várias personalidades da comunidade portuguesa do território sobre o futuro da língua e da cultura portuguesa em Macau. Começa já a ser habitual que a nossa diminuta comunidade venha de vez em quando acudir em forma de palratório aos inúmeros sismos que ocorrem na nossa permanência na RAEM como meros actores secundários. Mao Zedong disse um dia que se os chineses batessem todos com o pé no chão ao mesmo tempo, o mundo sofreria as consequências. Para a comunidade portuguesa local bastam uns cortes de subsídios ou a ameaça de alienação de património. Nem um pé propriamente dito bate no chão, ou um simples murro na mesa. Conversa-se e muito, isso sim. Para desabafar, quem sabe, já que falar não resolve nada.

Até quando se vai manter a EPM na antiga Escola Comercial? Até quando se vai manter a Livraria Portuguesa no espaço do IPOR localizado na Rua de S. Domingos? Até quando se vai manter o IPOR, period? Sem que se tenham estas certezas é impossível que se passem aos projectos que visam cimentar a língua e a cultura portuguesa em Macau. Sem as bases, como é possível que se faça a afirmação? Como já disse, até parecia bruxedo. Os chineses provavelmente nunca se preocuparam em deixar o português ser uma das línguas oficiais, porque já sabiam que nós próprios nos encarregariamos de dar cabo disso. Procuram-se agora "novos parceiros"? Para começar agora? Já sei que é fado lusitano chegar e começar sempre atrasado, mas...10 anos?

A Administração Portuguesa nos anos antes de 1999 só se preocupou em encher os caixotes, mandar os contentores e manter o status quo. Até o episódio da Fundação Jorge Álvares foi um percalço menor que teve apenas eco na imprensa em português. O mínimo indispensável para a continuação da influência portuguesa é ter o ensino assegurado num local fixo, e já agora a respectiva Livraria como património inalianável. Todas estas incertezas que se repetem ciclicamente deixam um muito mau agoiro no ar. O que acontece se um dia a EPM acabar? Tenho lá dois filhos, e para onde vão depois? Mandá-los “à frente” para Portugal nem é opção, uma vez que não faço planos de me ir embora. Tememos o dia em que a malta esteja um pouco mais distraída e lá entram “eles” por ali dentro com as escavadoras e lá se vai a escola.

Quem tem ficado muito mal na fotografia é o dr. Carlos Monjardino (bastante criticado no sarau de ontem), a quem muitos apontam agora o dedo. A nossa conhecida diplomacia não nos permite atacar o senhor com ovos ou tomates caso ele resolva aparecer por Macau, mas também não seria recebido com loas e flores. Isto caso se desse ao trabalho de vir, o que sinceramente duvido muito. Se agora o presidente da FO resolveu não vender o espaço da Livraria Portuguesa “devido à má conjuntura económica”, o que vai acontecer quando essa conjuntura for favorável? Se for para andar assim, na corda bamba até 2049, então não vale a pena. Será que vale a pena?

8 comentários:

Anónimo disse...

Ya não vale a pena, dá um tiro nos miolos hojes quando acordares!

Anónimo disse...

"O episódio da Fundação Jorge Álvares foi um precalço [sic] menor que teve apenas eco na imprensa em português"? Mas tu drogas-te, ó Leocardo??? Queres que te empreste os jornais chineses da altura? E o South China com a caricatura do careca em cima do avião e com um saco de dinheiro às costas?

Anónimo disse...

São uma vergonha estes comentários (sempre a mesma pessoa?) que pegam em pequenos detalhes em vezes de falar do assunto principal. É só trolling. Depois o Leo responde à letra, ficam chateados e perguntam se não se pode brincar.

Anónimo disse...

Ó último anónimo, és da censura? Vai mas é catar piolhos e não chateies.

Anónimo disse...

Anónimo das 19.49: infelizmente, não acho que seja sempre a mesma pessoa. São os portugueses no seu melhor... Por isso é que as coisas são o que são, até porque alguns desse calibre chegaram a governadores e coisas do género.

Anónimo disse...

O que é que se há-de fazer ao colectivo que faz este bloguinho?

Leocardo disse...

O primeiro comentário não merece resposta.

Ao segundo anónimo: não, não me drogo. Mas ainda bem que gosta de cartoons, que assim um dia destes faço o blogue em banda desenhada para que o sr. perceba melhor. Quando eu disse O episódio da Fundação Jorge Álvares foi um percalço (não "precalço", também as pessoas que não se drogam se enganam a escrever num teclado) menor que teve apenas eco na imprensa em português" não quis dizer que a notícia não saiu nos jornais chineses ou na imprensa estrangeira. Até o Chefe do Executivo comentou o assunto. Quando digo que teve ECO quero dizer que só a imprensa portuguesa escalpelou o tema (ainda hoje o faz ocasionalmente) muito além dos dias seguintes ao conhecimento do alegado "roubo" dos 50 milhões. Que se saiba não foi por isso que o sr. foi preso ou os portugueses corridos ao pontapé de Macau. Capisce?

Ao terceiro anónimo: não estou minimamente preocupado que sejam um, dois ou dez. Não lhes devo nada.

À Dulce Lemos (que tem a "coragem" de se "identificar", com o senão de eu não conhecer nenhuma Dulce Lemos): o que fazer? Porquê? Tenho algum mandato de captura internacional? Ofendi a senhora e a sua família? Ooops! Já me esquecia. Somos um "colectivo". Leia-se "temos" e "ofendemos". Não? Então não me chateie. Quanto ao "bloguinho" deixe-me tirar da gaveta uma que de vez em quando aplico neste caso particular: não gosta, não coma.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Muito bem, a Livraria fica onde está. Estou contente, como a maioria dos cidadãos de Macau. Mas o que se poderá fazer daqui para a frente? Agora não é altura de caça às bruxas, de queimar X ou Y, de nos ficarmos pelas críticas, de dizer que "isto é mau, que não serve", e, depois, de baixar os braços, algo que tanto gostamos de fazer, por aqui. Em Macau, temos tendencia a deixar tudo em águas de bacalhau, deixar como está. Não estamos, mais, nesses tempos. Deixar que a livraria fique como está é manter um projecto em coma, ligado à máquina. E isso não é projecto, não é conceito, não é um caminho para que se tenha uma Livraria Portuguesa de futuro. A Livraria precisa de um projecto, de um "conceito", de algo que tenha pernas e cabeça a curto, médio e longo prazo.

Gostava de partilhar convosco um "post que deixei no Blog da "Bloom", a livraria que supostamente iria ficar encarregue da gestão da Livraria Portuguesa.

No meio deste processo todo, a "Bloom" terá sido quem menos responsabilidades teve em todo o processo, mas acabou por ser uma das partes prejudicadas, não numa perspectiva económica, mas numa perspectiva de imagem, de nome- algo que, para quem viu o projecto "Bloom" aparecer desde o início, e o que acrescentou ao panorama cultural de Macau, me pareceu injusto.

Aqui vai o "Post" (com algumas correcções) que lhes mandei.


"Como cidadão de Macau que acompanhou a "Bloom" desde o seu aparecimento, é para mim evidente o quão significativo foi a sua criação no panorama cultural local.A Bloom apresentou um novo conceito de Livraria em Macau, envolvendo o leitor , dinamizando o seu espaço não apenas como um local de compra de livros, mas um local de convívio, de partilha de literatura, de aprendizagem. Aliás, a própria dinâmica da Bloom colocou em evidência o potencial de uma Livraria dinâmica como polo de divulgação cultural, que, julgo eu, se pretende com a Livraria Portuguesa. Parece-me, assim, mais que óbvio que, acabando a actual concessão de gestão da Livraria Portuguesa em 2010, a Bloom, como empresa gerida por portugueses residentes permanentes da RAEM, conhecedores da realidade do território, das suas comunidades e das suas especificidades, seja seriamente tida em conta no processo de atribuição da nova concessão da Livraria Portuguesa. E que seja tida em conta, não apenas pela ligação cultural materna à lingua Portuguesa dos donos e o estatuto de residentes permanentes que tem, mas sim pela qualidade e mais valia que todo o projecto “Bloom” trouxe ao território.

Quanto ao espaço da Livraria, confesso que fico contente por ter ficado onde está. É realmente um local sem igual do ponto de vista de visibilidade, acessibilidade e de fluxo de potenciais clientes. Perguntam-me então porque a Livraria actual dá prejuizo. Certamente que não é pela sua localização. Como leigo, como mero comentador de "bancada" diz-me o bom senso que o que falha, actualmente, naquele espaço, é, claramente, o "conceito", a falta de visão de futuro e gestão, algo que a "Bloom", como verificamos durante o desenvolvimento de todo o projecto até hoje, tão bem tem definidos- e que se mostrou capaz de concretizar.

Sugiro, Bloom, se, de facto, acabarem por ser os gestores da nova Livraria Portuguesa, que apliquem o conceito “Bloom” de Livraria a este excelente espaço. Se me permitem, aqui vão algumas sugestões : imaginem, por exemplo, a cave como espaço para mostras Multimédia, filmes, palestras, local de convívio, e venda de produtos multimédia. Piso 0, onde o cliente/turista/cidadão tem contacto imediato com a Livraria- um pequeno café com Livros actuais e revistas/Jornais de actualidade, e uma pequena selecção de discos e CD's,alguns livros de relevo, actuais e ou selecção "Bloom/Livraria Portuguesa" seguindo os vossos excelentes criterios de selecção, e, está claro, disponibilizar para compra pequenas publicações estrangeiras de interesse ao turista, em Inglês e Chinês. No terceiro piso, a Literatura com a vossa criteriosa selecção de autores, e Literatura especifica às principais áreas onde a comunidade Portuguesa tem peso, no território: Arquitectura, Direito, Artes, Lusofonia, e, claro, edições Locais e livros sobre a cultura e autores locais, etc. Esta literatura estaria disponivel em Português, Chinês e Inglês. É impensavel uma livraria existir em Macau sem o envolvimento da População- sendo que 90 por cento ou mais da população fala e lê chinês, não faz sentido não existir um espaço onde esteja disponivel literatura nesta lingua, e também na “lingua "global", ou “do capital” do mundo, o inglês. A Livraria, contudo, não poderia esquecer nunca a manutenção do serviço de apoio à Escola Portuguesa e aos estabelecimentos de ensino em Português na RAEM, mas não só. Coloco, aliás, outra sugestão: a de cimentar e criar contactos com as instituições de ensino de Português na China, e, quiçá, na Ásia. Procurar desenvolver uma rede, uma mailing list e uma forma de tornar a Livraria portuguesa um importante ponto de encontro entre as diferentes entidades de ensino de português, disponibilizando a possibilidade de partilha de conteudos literários e de fornecimento de conteudos Literários provenientes de toda a Lusofonia. A Livraria Portuguesa estabelecer-se-ía, assim, como uma importante plataforma e ponto de referência para académicos e estudantes de Português, da Cultura Portuguesa e da Lusofonia na China, e tornar-se-ia num local de visita obrigatória local para os interessados em Literatura Lusofona. Naturalmente que isto seria extremamente ambicioso, e não seria imediatamente possivel, mas julgo que é perfeitamente viavel, tendo nós consciência da popularidade do Português na China e na Ásia e dos números de actuais estudantes de disciplinas ligadas ao intercâmbio com o mundo Lusofono.

Imaginem, portanto, este espaço, dinamizado segundo o vosso Conceito "Bloom": não só na perspectiva de selecção literária, mas também na vossa já provada capacidade de trazer oradores de interesse, de criação de workshops e de desenvolvimento de actividades culturais diversas de qualidade. Imaginem tudo isto, tendo em conta um projecto que obedecesse a um plano rigoroso de futuro, de curto, médio e longo prazo. Imagino que, numa primeira fase, uma livraria que respeitasse tais conceitos necessitaria do apoio de instituições Lusofonas Locais, mas que, a médio e longo prazo, teria todas as condições de se tornar autosuficiente.

Pessoalmente veria isto com bons olhos, pois, se não julgo mal o projecto “Bloom”- e julgo pelo trabalho que vi feito até agora, pelas Bloom Red e Yellow(absolutamente inacreditavel a catastrofe que foi o Tufão, que nos tirou aquele espaço único que reaproximou a comunidade Portuguesa ao Porto Interior, que trouxe workshops, tertulias, Poetry Readings, etc aquela zona histórica da cidade ), pelo que conheço das pessoas responsaveis e pelo mérito de todo um trabalho desenvolvido ao longo de vários anos de existência ,acredito que são quem melhores condições tem para a concretização do imenso potencial que todos nós vemos numa Livraria Portuguesa em Macau.

Mas tudo isto é apenas a opinião de um humilde cidadão local. O que digo, aqui, , é o que pessoalmente gostaria de ver na Livraria Portuguesa em Macau.

Parte deste conceito de livraria encontrei na “Bloom”, um espaço de iniciativa privada, que não tinha obrigação institucional ou legal para desenvolver as actividades culturais que desenvolveu (e desenvolve). Acredito que, se lhes fosse atribuido a responsabilidade de gerir um espaço como a Livraria Portuguesa, certamente fariam um trabalho muito mais satisfatório do que o actualmente desenvolvido. E digo isto, com todo o carinho que tenho para com os funcionários da Livraria, que lá trabalham à decadas e que sempre me trataram bem.

Para que haja mudança, para que se avance é necessário, contudo, que as comunidades se unam neste processo. Que não haja interesses de instituições na atribuição da futura concessão, que não se pisem uns aos outros, que se encontre um concenso. Casa de Portugal, Bloom, IPOR, F.O, ADM, APIM... Longe vão os tempos onde se permitiam as típicas guerrilhas entre as diversas associações Lusofonas. Estamos em tempos de definição, nesta terra que se diz resultado do encontro de culturas, e que se pretende como polo de ligação entre a China e os paises Lusofonos. Agora é tempo de união, de se olhar para a frente. Peço apenas aos meus camaradas Lusofonos que pensem seriamente nas decisões que tomam, cada dia que passa. Peço que tenham em conta, neste caso, o excelente trabalho que a Bloom fez ao longo dos anos. E que deixem a politiquice de lado.

Que venha 2010, e que a "nova" Livraria represente também esta nova etapa, onde a Lusofonia Local se assume pronta a responder, independentemente de Governos ou instituições, como cidadãos de Macau e como representantes de parte da riqueza cultural deste espaço único na China, enfrentando os desafios da responsabilidade de lutar pelo valor e interesse da Lusofonia para esta terra. Como diz o outro- pensem com o BIR, e não com o passaporte!"