segunda-feira, 9 de março de 2009

Páginas ao serão


A telenovela brasileira “Páginas da Vida”, exibida de Segunda a Sexta no canal 1 da TDM, é uma novela diferente das outras. Diferente no sentido de que é uma parada de problemas sociais, que supostamente “dão que pensar”, e que levam o público a “reflectir”. Não sei se a novela teve sucesso no Brasil, onde como se sabe passam pelo menos 20 novelas diferentes em vários canais, mas a julgar pela envergadura do elenco (Regina Duarte, José Mayer, Marcos Paulo, Sónia Braga e a nova coqueluche da TV brasileira, Graziela Massafera) diria que sim, terá sido um sucesso.

Assim “Páginas da Vida” lida com situações como os síndroma de Down, o alcoolismo, a infidelidade conjugal, a desagregação familiar, a bulimia, o racismo, e mil e uma coisas. Não há personagem que não esteja directa ou indirectamente ligada com um destes males que minam o mundo. Outros aspectos (aliás comuns à maioria das novelas) são o amor, o ciúme e a traição. Amor esse, em que os brasileiros continuam especialistas, dando às novelas a “pasión” que por muito que tentem, nem portugueses, mexicanos ou coreanos conseguem transmitir nas suas. É mesmo um país tropical, esse.

Voltando à novela, que vejo sempre que posso. Conta a história de Helena (Regina Duarte) uma obstetra que ajuda uma menina acidentada e grávida de um casal de gémeos, que morre depois do parto. Um dos gémeos – a menina – é mongolóide (Abro aqui um pequeno parentesis para reiterar que o uso desta palavra pode não ser muito politicamente correcto, mas como se chama a uma pessoa com síndroma de Down? Downista? Downense?) e recusada pela avó da menina, Marta (Lília Cabral) uma mulher materialista e sem coração, que fica apenas com o rapaz. Uma das “lutas” de Helena é a integração da filha deficiente numa escola “normal”. Uma batalha justa, mas irrealista. Mas como é de ficção que se trata, Helena – que também tem um outro filho adoptivo de cor – consegue levar avante os seus intentos.

Outro enredo conta-nos a história de uma família rica chefiada por Aristides (Tarcísio Meira, um actor excepcional), e os seus filhos mimados Jorge (Thiago Lacerda) e Carmen (Natália do Vale) é casada com Gregório (José Mayer), um mulherengo que mais tarde se envolve com Sandra (Danielle Winits, muito sexy), que em tempos namorou Jorge, e tornou-se uma mulher amarga e viperina, de ambição desmedida e sem valores. Uma personagem feita para as velhotas que se sentam em frente ao sofá a consumir avidamente a novela suspirarem: “ai esta mulher é tão má!”. Jorge apaixona-se por Telma (Graziela Massafera), irmã de Sandra, e os dois proporcionam alguns dos momentos mais "quentes" da novela.

O primeiro marido de Carmen, Bira (Eduardo Lago) torna-se num alcoolico, para desespero da filha de ambos, Marina (Marjorie Estiano). Bira é um alcoolico-tipo, que cumpre todos os clichés, humilhando-se publicamente, bebendo até cair, passando pelo tratamento, a recaída, a impotência, a estupidez e tudo mais a que a roda do alcoolismo dá direito. Outra filha de Aristides é Olívia (Ana Paula Arósio), que era casada com Sílvio (Edson Celulari), até à chegada de Tônia (Sónia Braga, em grande forma apesar da idade), uma arrebatadora artista plástica. Olívia apaixona-se por Leo (Thiago Rodrigues), que é o pai dos gémeos. Confuso? Nem por isso.

Existem outros enredos paralelos, com o caso de Giselle (Pérola Faria) que sofre de bulimia e vive obcecada com o peso, ou de Selma (Elisa Lucinda), uma vítima de racismo, ou ainda de Lavínia (Letícia Sabatella), uma freira que morre de amores por Diogo (Marcos Paulo) e leva uma vida de clausura num hospital-convento onde a irmã Maria (Marly Bueno) dita as regras com mão de ferro. De tudo um pouco, até o fantasma de Nanda (Fernanda Vasconcellos), a mãe que morreu a dar à luz nos primeiros episódios. No final de cada episódio assistimos a um testemunho da vida real, de pessoas que encontraram todo o tipo de adversidades na vida, e conseguiram dar a volta por cima. Muito encorajador.

Finalmente uma palavra de apreço à malta da TDM por apresentar uma versão legendada em inglês (deve dar trabalho traduzir e legendar 203 episódios), pois assim a minha mulher vê e percebe. Continuo contudo a defender uma versão legendada em chinês, pois chegaria a um público muito mais vasto, que sempre teria uma alternativa às horripilantes novelas de Hong Kong.

22 comentários:

Anónimo disse...

caro leacardo, deixa de mandar postas de pescada das legendas em chines, isso e'para a TDM chinesa.

O pessoal da TDM tambem le o teu blog e ainda te da' ouvidos como aconteceu no "cantonense one minute",
As legendas em INGLES estao um espectaculo, muito bem mesmo, do melhor que tem feito a TDM.

A minha mulher tb e'chinesa e adora ver a novela muito por culpa das legendas em INGLES, pois de portugues nao entende nada...

por isso Leocardo deixa-te de inventar que ja' vais tendo algum "peso" na sociedade o que significa alguma responsabilidade no que escreves...ja' nao podes continuar a dizer que e' somente a tua opiniao (pensa nisso), e tudo por culpa do numero de visitas ao blog

Anónimo disse...

viva o vitinho!

Anónimo disse...

Este anónimo das 22:57 é um bronco.

Anónimo disse...

Ou isso ou ser o canal chinês a transmitir também a telenovela. Mas legendada em chinês, e não dobrada como eles gostam. As dobragens são a pior coisa que jamais foi inventada.

Anónimo disse...

dobradas prefiro as transmontanas...

Anónimo disse...

Leocardo, não o fazia tão noveleiro!

Umas questões me assaltaram após ler atentamente a sua posta,

porque diz "Uma das “lutas” de Helena é a integração da filha deficiente numa escola “normal”. Uma batalha justa, mas irrealista." ?

Não me parece de todo provável, nem viável que a novela seja legendada em chinês e passar no canal português. Se o propósito seria chegar à comunidade chinesa,como reagiria o canal chinês vendo alguns dos seus poucos "clientes" serem roubados?

E por fim, uma correcção, a Globo tem uma versão internacional para as novelas que exporta, portanto que passa na TDM é uma versão mais curta (não percebo essa decisão da Globo, mas...) Sei disso porque acompanhei a novela em Portugal e dei por falta de algumas cenas na versão que passa aqui e fui tentar saber porquê. Portanto não se admire de a Páginas da Vida não ter 203 episódios.

Leocardo disse...

Ao último anónimo: não sou assim tão "noveleiro", mas vejo sempre que estou a actualizar o blogue a essa horaa, pois tenho a TV mesmo em frente.

Quanto às suas questões: Por muito que gostassemos que os deficientes fossem integrados em escolas "normais" (por isso existem as "outras" escolas), sabemos que isso é muito difícil, e referia-me especificamente a alguns episódios em que a Helena trava uma guerra de palavras com a directora de uma escola que não aceita a menina, e fala mesmo do "incómodo de outros pais". Sabemos que é assim, e por muito que nos custe a negar, contribuimos também um pouco para isso. Na vida real, a Clarinha (penso que é assim que se chama a menina) frequentaria uma escola de deficientes. Atenção, sei que há excepções. Não radicalizemos.

Obrigado pela sua informação em relação à versão encurtada da novela. Quanto às legendas (e isto serve também para o primeiro anónimo), penso que seria interessante legendar a novela noutra das línguas oficiais, sem prejuízo do canal2 da TDM (vê a novela quem quer...). O que não faltam em Macau são pessoas com capacidade de fazer esse trabalho.

Ao primeiro anónimo: não penso que o meu "peso na sociedade" seja assim tão grande. Leio outros opinadores nos jornais que às vezes escrevem enormidades, e mesmo tendo um maior alcance e visibilidade que o blogue não mudam assim tanta coisa. O caso do "Cantonese in one minute" foi apenas uma sugestão, e temos que convir que passando o programas à 8:28 em vez de só às 10:58, todos podem aprender ;)

Obrigado a todos pelos comentários, e cumprimentos.

Anónimo disse...

Leocardo, queria chamar-lhe a atenção para o facto de as escolas em Portugal serem inclusivas, o que quer dizer que crianças como a Clarinha da novela teriam tanta dificuldade em Portugal em encontrar uma escola quanto os seus filhos. Outra chamada de atenção, em Macau também há escolas inclusivas, uma delas ao pé de sua casa. Não são escolas para crianças com deficiência, são escolas onde crianças com algum tipo de problema têm um lugar na escola e estão inseridos nas turmas como qualquer outra - tal como tanto desejava a Helena da novela-.

Para responder a uma pergunta sua, uma pessoa com Down não é mongolóide. Esse é um nome pejorativo que derivou das características físicas que apresentam nomeadamente os olhos amendoados, daí mongolóide, de mongol. Uma pessoa com Down, é simplesmente uma pessoa com Down, é assim que se deve dizer.

(atenção que não pretendo ofendê-lo, estou apenas a discutir um assunto de forma respeitosa.)

Cumprimentos,

o anónimo das 7:00

Anónimo disse...

Hoje em dia tudo é pejorativo. Os cegos são "invisuais", os surdos são "deficientes auditivos", os ciganos são "indivíduos da etnia roma". Um dia é preciso inventar o dicionário do politicamente correcto para não ofender tantas sensibilidades.

Leocardo disse...

De todo, caro anónimo das 8:13. As escolas são inclusivas dependendo do grau de deficiência da criança ou mesmo da adaptação da mesma a essa escola. No caso da Clarinha (e não sou médico nem educador) parece-me que a deficiência é relativamente profunda. Em todo o caso existem estabelecimentos de educação especial bastante bons (e caros).

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Leocardo, claro que depende da deficiência da criança. Se for uma criança com um atraso profundo que nunca venha a aprender uma letra sequer, qual é o benefício para ela ou para a turma onde poderia estar inserida? Nenhum, essa criança não teria o cuidado que necessita, e as outras não a veriam como igual. Quanto ao caso da Clara da novela, acredite, as crianças com Down em Portugal vão à escola "normal". Sei do que falo pois sou professor. (É escusado tentar decifrar a minha identidade, não trabalho na EPM, e como diz o Leocardo, mesmo que dissesse quem sou, perguntariam, quem é esse?. Tal como as crianças autistas, com ADHD, hiperactividade. Como já referi, há escolas dessas em Macau. Quando fiz o estágio havia nessa escola 5 crianças com atrasos muito profundos. Entraram no início do ano a babar-se e acabaram o ano a comer de talheres. Mais uma vez, numa escola de ensino corrente e oficial, mas obviamente não estava inseridas numa turma, conviviam com os outros alunos durante os recreios e essa foi uma convivência positiva para ambos os lados.

Leocardo disse...

E fala quem sabe. Um grande bem haja para si.

Anónimo disse...

As legendas são um espectáculo? Minha nossa senhora, também aqui já se faz o aplauso da mediocridade... As legendas são uma merda. Um inglês pobre que muitas vezes diz precisamente o contrário daquilo que as personagens afirmam. E com tantos, tantos erros que dá dó. Mas não deve haver ninguém para corrigir.

Anónimo disse...

Mas ó anónimo, tem boa solução, até ouvi dizer que andam à procura de tradutores. Ofereça-se.

Anónimo disse...

Merda foi aquilo que vi ontem nas legendas do documentário sobre o Louvre!

Anónimo disse...

Ena, ò anónimo das 23:25... Fico contente por termos entre nós em Macau um Shakespeare ou um Daniel Webster. Ao menos vê a novela, o cavalheiro (ou a dama)? Se há coisa que a tradução não é, é pobre como diz. Mostra um domínio do inglês mais abastado que aquele que muita gente portuguesa bem qualificada cá de Macau tem e alguma vez terá. E mais importante, mostra também um conhecimento bastante seguro da variante brasileira do português.
Há faltas pontuais aqui e ali mas em cento e tal episódios difícil seria se não houvesse. De qualquer forma exorto-o a identificar cinco erros que possam ser voltuosos ao ponto de transformar a tradução numa tradução de merda como diz. E deixo-lhe outro desafio.Arranje-me um vocábulo em inglês com a mesma carga semântica de palavras como "cafetina" ou "flanelinha".
Faça-se gente!

Anónimo disse...

Sem dúvida que as legendas em inglês são uma grande iniciativa da TDM. Concordo com as legendas em Chinês. Gostava de sugerir o mesmo tratamento aos programas "Musica Movimento" e "Montra do Lilau". São programas de produção local que, a meu ver, são de grande interesse para as várias comunidades locais. Será assim tão caro contratar um tradutor? (sendo a TDM do Governo e com tantos novos formados em tradução...)

Anónimo disse...

Este último anónimo anda um bocado a leste, nao? Se há coisa que não há em Macau é tradutores decentes de português-cantonês. Tirando a àrea da justiça (e mesmo assim sabe deus) é tudo muito fraquinho. Outra coisa: a Montra do Lilau ainda existe?

Anónimo disse...

A acrescentar, os recursos da TDM NÃO SÃO tão avultados quanto se pensa. Imagino o balúrdio que custa cada jogo, e claro que não falo dos comentadores, que para se deslocarem, muitas vezes às tantas da madrugada, por aquilo que recebem, é mais amor à camisola. Mas ninguém agradece. Jogos não faltam, mas ninguém louva isso.

Anónimo disse...

Os tradutores da TDM não são contratados. São outros que fazem por amor à camisola e que depois ainda têm que ouvir merdas de gente que não sabe do que fala. Não, não sou tradutor, mas aflige ver como os portugueses se maltratam uns aos outros. Por isso nunca vamos para a frente. É ver os americanos a protegerem-se uns aos outros para verem a diferença.

Anónimo disse...

O anónimo das 3:15 é que disse tudo. Entre os portugueses só há maledicência. São todos muito bons, mas é a criticar os outros. No resto, é o que se sabe.

Anónimo disse...

Como é que uma tradução pode ser rica se o original é pobre?

Já prestei atenção às falas das personagens e muitas vezes não têm pés nem cabeça. Novela muito pobrezinha nesses termos. Valorizo o esforço da temática, mas fica-se por isso. Espero que a TDM continue a emitir novelas da Globo, mas já lá vai o tempo em que os enredos eram originais e cativantes. Qual será a próxima?