sexta-feira, 6 de março de 2009

Os blogues dos outros


O discurso do primeiro-ministro foi claro. A crise existe também aqui e não é um sintoma só do Ocidente. As dificuldades vão ser várias para os mais fracos. Os tempos de euforia acabaram com os Olímpicos. Para muitos até, os Jogos já nem foram euforia. Mas se, de facto, parece que o governo está preocupado e disponível para tomar medidas, por outro, a abertura deu alguns passos atrás. A população está em alerta este ano com os aniversários a assinalar. Deixando o aviso que há tempos difíceis no futuro, o governo também legitima a sua actuação daqui para a frente. O peso policial na Praça Tiananmen parece ter crescido. Os turistas diminuiram. A atracção chinesa do Ocidente pela China pode esmorecer se a crise piorar. As ideias deixadas na abertura da ANP têm detalhes bizarros para estimular a economia. "Vamos favorecer a compra de carros e dar apoio ao mercado dos carros em segunda mão". "Deve apostar-se na construção de mais Outlets nas zonas rurais". Em Pequim as lojas têm estado vazias. Wen Jiabao vive num sítio qualquer da cidade que ninguém sabe qual é e não vai a lojas de certeza. O estranho de tudo o que não mudou passa por comparar discursos de um ano com outro e outro e outro. Este ano tivemos mais camponeses que desenvolvimento económico, há dois anos mais socialismo que desenvolvimento, etc. Em 2009 há mais expectativa que em 2008. E o grande acontecimento vai ser mesmo o sobreviver à crise.

Maria João Belchior, China em Reportagem

Mestre Confúcio disse:
"Não se preocupe com a sua falta de notoriedade, preocupe-se com a sua falta de Competência." Informe-se a classe política!


Pseudo-livreiro, A Leste da Solum

Na sequência das recentes selvajarias sucedidas nesse frondoso exemplo de democracia africana e lusófona que é a Guiné-Bissau, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, disse que era preciso continuar a apoiar esta antiga colónia portuguesa, e a "investir" nela. Mas investir no quê? Só se for no fabrico de catanas.

Victor Abreu, Jantar das Quartas

Esta noite durante o programa 'Quadratura do Círculo' da SIC Notícias, António Costa, na tentativa de denegrir a actual direcção do diário 'Público', salientou que as pessoas sentiam saudades do primeiro director do jornal, Vicente Jorge Silva.
António Lobo Xavier retorquiu e afirmou que as pessoas também têm saudades de um Partido Socialista dirigido por Mário Soares...


João Severino, Pau Para Toda a Obra

Quem disse que os franceses não são inovadores? Repare-se na polémica do momento em França: faismesdevoirs.com. É o sítio da Internet que, a troco de um punhado de euros, se propõe fazer os trabalhos de casa - para o menino e para a menina. O ministro da Educação francês diz-se chocado com esta iniciativa, que visa desenvolver o "mercado do menor esforço". Repetez-vous: menor esforço? Só pode soar bem a ouvidos tugas. Aguarda-se a todo o momento o aparecimento por cá de um faz-meoTPC.com para facilitar a vida à estudantada. É só registar o endereço e pôr a render: nada mais simples. Ou deverei dizer simplex?

Pedro Correia, Delito de Opinião

Os EUA, os mesmos que fazem relatórios sobre direitos humanos de todos os países menos de si próprio, cometeu todas as barbaridades com os presos de Guantánamo e agora livra-se do problema exportando esses presos para os países amigos. É a forma habitual de os americanos resolverem os problemas, exportam-nos tal como fazem com os portugueses que têm sido expulsos apesar de muitos deles nem sequer falarem português.

Jumento, O Jumento

Nos últimos quinze anos vivemos doze sob governação socialista. A sinistra crise que nos caiu em cima em ano de eleições, apenas tem servido para escamotear as responsabilidades do governo na gestão da coisa pública. Afinal quem são os responsáveis pelos adiamentos das grandes reformas, a asfixiante carga fiscal, o “monstro” da despesa pública, o gigantesco deficit externo, a debilidade do nosso tecido industrial e económico, a inexistente regulação financeira (patenteado na falência do BPN), a descredibilização da instituições? Serão estes por acaso são factores importados com a crise global? Como referia há dias o insuspeito António Barreto, o facto de se chamar “global” à crise confere-lhe um cariz abstracto, etéreo, que tem servido de desculpa à incompetência dos nossos governantes. Mas o “global” constitui-se inevitavelmente pela soma diversas causas concretas, e os socialistas não podem sacudir a água do seu capote. É por isso indigna e desonesta a vitimização de José Sócrates, e isso tem que ser denunciado todos os dias.

João Távora, Risco Contínuo

O Jornal Público, no seu suplemento P2, faz diariamente uma recolha de alguns excertos de textos de blogues que publica com o título Blogues em Papel. Não tenho nada contra o conceito, aliás, tenho tudo a favor, pois é uma forma de chamar a atenção para o que vem sendo publicado na blogosfera, que apesar de já ser muito "povoada" ainda está muito afastada da maioria dos cidadãos. No entanto, seria no mínimo desejável que o Público informasse os bloggers daquela publicação. Provavelmente a lei, essa malandra, não os obriga a fazê-lo, mas é sempre de bom tom pedir autorização ou pelo menos informar o autor antes de se publicar um escrito seu.

Tiago Moreira Ramalho, Corta-Fitas

A cimeira europeia a que José Sócrates não se quis associar no passado fim de semana deve ter marcado o fim da Europa que nos queriam impingir (felizmente). A Constituição Europeia, agoniza e já ninguém fala dela. Barroso vai proferindo umas banalidades tentando ocultar a realidade: uma divisão cada vez maior, já não em dois grupos (grandes/pequenos), mas também entre leste e oeste! Paz à sua alma! E como há eleiçóes em breve, até lá, não mexem mais no assunto, "as usual"... Depois, "comme d'habitude", virá a enésima tentativa, mas a força é cada vez menor e a oposição a este modelo cada vez maior. Pode ser que um dia se convençam e mudem de rumo!

João Carvalho Fernandes, Fumaças

Agora que se fala muito de Salazar e que há até um filme a passar na TV embora o Salazar namoradeiro que aparece não seja o que me interessa (a mim interessa-me o Salazar do Aljube, de Caxias, de Peniche e do Tarrafal), descobri no alfarrabista «Telles da Silva» o livro de Norberto Lopes sobre a imprensa em Portugal. Chama-se «Visado pela Censura» e foi publicado pela editora «Aster». A história conta-se em breves palavras. No dia 11 de Junho de 1926, na sequência do 28 de Maio, Oliveira Salazar chegou a Lisboa para tomar conta da pasta das Finanças. Norberto Lopes estava no «Diário de Lisboa» e foi à estação de Entrecampos onde entrou no comboio e manteve com o novo ministro uma conversa até ao Rossio mas as respostas foram zero: «Não posso ainda dizer-lhe. Não trago programa. Não tenho ideias a priori sobre aquilo que vou fazer. Sobre a questão dos tabacos por enquanto nada posso dizer-lhe. Ainda é cedo para falar.» Perante a insistência de que havia milhões de portugueses ansiosas pelas suas respostas, Salazar apenas disse: «Os senhores jornalistas são terríveis». O grande jornalista Norberto Lopes recorda então a célebre anedota do papagaio que um dia foi pedido a um brasileiro que trouxesse para um amigo. Em vez de um daqueles sem papas na língua, o bicho era verde e oiro, parecia ser um palrador de primeira ordem mas nada dizia. «Então o papagaio não fala?» - perguntavam os vizinhos. E logo o dono respondia: «O papagaio não fala, não; mas pensa». E foi esta anedota inofensiva que o Diário de Lisboa publicou na sua edição do dia 12 de Junho de 1926. Talvez porque a Censura ainda não estava bem oleada.

José do Carmo Francisco, Aspirina B

Li as críticas a "Quem quer ser bilionário" do Daniel Oliveira e da Joana Amaral Dias onde ambos fazem referência à estetização da pobreza, ao glamour e às cores fortes, presentes neste filme de Danny Boyle. Não serão os bairros da lata da Índia um pouco assim, caóticos e imundos (como diz o meu colega) mas com um certo glamour, com a seda a fazer milagres no meio da miséria? A estetização da pobreza é sempre um risco para quem filma em bairros da lata. Na "Cidade de Deus", por exemplo, a estetização das armas e dos tiroteios é bem mais potente do que o glamour dos vestidos de seda de Bombaim. Muitos viram a "Cidade de Deus" só pela cowboiada concluindo pobremente que aquilo só se resolvia com uma bomba atómica em cima da favela. Justamente, concordo com a Joana quando diz que o mais importante é o que cada espectador faz do filme. Presta o espectador mais atenção ao glamour ou à violência a que estão sujeitas as crianças dos bairros da lata? Não me refiro à violência física, mas sim à violência das hierarquias sociais e institucionais, à corrupção generalizada, à exploração laboral, ao machismo, à intolerância religiosa, ao oportunismo, a esse cocktail de violências invisíveis ou menos visíveis que infernizam a vida daqueles jovens a extremos inimagináveis para um confortável europeu. Foi precisamente essa violência que faz com que a maior parte daqueles jovens não tenha forma de sair do ciclo vicioso do bairro da lata (excepto através de um concurso) que lhes oferece um futuro sem opções, um futuro em linha recta, foi essa violência bem presente na película de Boyle que me fez apreciar o filme. Vi a denúncia e escapou-me completamente o glamour e as cores fortes.
A vous de juger!


Rui Curado Silva, Klepsýdra

Se continuarmos e deixar de poder confiar nas instituições como está a acontecer, qualquer dia ainda temos que começar a confiar uns nos outros.

João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

2 comentários:

joãoeduardoseverino disse...

Agradeço o destaque com um abraço.

Pseudo-livreiro disse...

Agradecemos-lhe a referência.
Cumprimentos!