quarta-feira, 4 de março de 2009

Macau vs. Hong Kong


As recentes polémicas do impedimento da entrada em Macau a algumas figuras da política e não só de Hong Kong deixa-me a pensar novamente na velha rivalidade entre os dois territórios. Claro que não tem nada ver, mas mesmo assim não consigo deixar de, como estrangeiro e portanto imparcial, de tecer comparações entre os territórios, as pessoas e as mentalidades. De Hong Kong, cidade cosmopolita de mais de sete milhões de habitantes, Macau é vista como o “campo”.

Os honconguenses em geral gostam de Macau. Passam a vida a vir cá comer os pastéis de ovo da Margaret, ou a imitação de comida portuguesa de alguns restaurantes “agrafados” aos roteiros turísticos, ou apostar nos casinos (cada vez menos) ou ainda “apreciar” o nosso património. Ficam os nossos indígenas cheios de orgulho cada vez que a malta de Hong Kong fica boquiaberta e pergunta “mas como é que vocês conseguem preservar o património?”, como se fosse um grande mistério. E a fachada da Igreja de S. Domingos (nada de especial, diga-se de passagem) continua a ser o património mais fotografado de Macau. Sinto que os honconguenses gostam de vir a Macau, andam por aí perdidos, de mapa na mão, a encher o Fernando de Coloane, a mudar de ares. Sai-lhes mais barato passar um fim-de-semana ou um feriado mais calmo, e a economia e o turismo de Macau ganham com isso.

Talvez seja essa a razão pela qual não entra quem quer: é um privilégio. Será? Não, mas sempre é uma explicação. Para quem vive em Macau ir a Hong Kong era sempre especial até há muito pouco tempo. Cheguei a Macau em 1992, quando já existia o McDonald’s na Rua do Campo. Uma amiga minha contava que nos anos 80 “era uma festa” para a criançada poder morder a carne do imperialismo yankee. Em Macau era mais o bacalhau da Vencedora ou as latas de sardinha do Tin Une, para quem podia. Ir a Hong Kong era (e ainda é) fazer uma visita à Sogo, ao Marks & Spencer, aos supermercados que “têm tudo”, aos mil e um restaurantes de todas as origens em Tsim Tsa Chui, aos bares de Lam Kwai Fong (ou Wan Chai, a minha preferência), à Tower Records, ou àquelas tasquinhas especiais onde “se come mesmo bem” e que os residentes de Macau conhecem de cor. Viver em Macau e visitar Hong Kong uma vez por ano é o equivalente a viver no Cercal do Alentejo e ir a Lisboa.

As crianças adoram o Ocean Park. Para um pequenote ir pela primeira vez ao Ocean Park é quase como um rito de iniciação. O sorriso de espanto dos miúdos é impagável. Existem agora em Zhuhai e arredores parques de diversões igualmente atractivos e até bem mais baratos, mas nada com o mesmo peso, qualidade ou limpeza. Sai mais em conta, até em termos de deslocação e estadia, mas não é a mesma coisa. Os cidadãos de Macau em geral não simpatizam com os honconguenses. Apesar de consumirem a música vinda de Hong Kong, a moda, o cinema, os jornais, revistas, programas de televisão, etc, etc. É uma rivalidade regional saudável, daquelas em que não gostamos do vizinho do lado por "achar que é melhor que nós". Deve ser isso...

8 comentários:

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Amigo Leocardo,
Gostei da forma clara como abordou este tema sobre Macau vs Hong-Kong, a realidade é mesmo essa.
Eu, para ser sincero detesto Hong-Kong, e conheço em parte todo o território.
Antigamente, para nos poder-mos deslocar a Hong-Kong, os fumcionários, eram obrigados a pedir autorização ao senhor Governador.
Por razões de trabalho estive muitas vezes naquela ex-colonia inglesa, tirei vários cursos na Coustms e igualmente na Polícia Marítima, nesse campo sim, sempre nos deram cartas.
O que eu admiro náo sáo as pessoas de Hong-Kong, pois para mim são as pessoas mais malcriadas do mundo, mas sim a sua administração.
Macau para os habitantes de HK não passava de um caixote de lixo, que sempre poderem entrar em Macau somente usando o BI, enquando os habitantes de Macau tinha que usar o passaporte, coisas dos nossos mais antigos aliados.
Nos anos 60 era o Wing On o local de destinos da malta de Macau, para poder fazerem compras, de resto bares e restaurantes de meia tigela em Macau também se encontram.
Quando havia o antigo terminal de navios em Hong-Kong as autoridades de HK tratavam o pessoal de Macau como se fossem carneiros, só abriam as portas alguns minutos antes do navio largar, se estivesse a chover a malta que se desenrrasca-se, era assim já.
Eu estou como se diz em Portugal, da Espanha nem bom vento nem bom casamento, e de Hong-Kong infelizmente Macau depende dele em quase todos os aspectos, até no valor da nossa Pataca.
Enfim, temos aquilo que semeamos.
Um abraço amigo

Anónimo disse...

A malta de HK é mais stressada do que a de Macau, isso talvez. Mais malcriada é que não me parece.

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Respeito a opinião do Anónimo, mas talvez não saiba entender o cantonense a 100% e deve ser por isso que desconhece que os habitantes de Hong-Kong são os mais malcriados do mundo, e mais, muitos empregadoas das lojas em H-K então nem se fala.
Em Macau últimamente também ouvido muitos palavrões ditos até por miudos e miúdas das escolas, mas exitem pessoas que abusam dos tios!...

Anónimo disse...

"Abusar dos tios" é um vício dos cantonenses.
E de todos os cantonenses que eu conheço não me parece que os de HK sejam os piores.
Não são piores que os de Macau ou que os do outro lado das Portas do Cerco.

Concordo com o anterior anónimo quando diz que eles são mais stressados mas não mais malcriados.
E são mais civilizados, menos influenciados por comportamentos barbáricos da mainland, e incomparavelmente mais profissionais do que os de Macau ou de Guangdong.

Antigamente acredito que eles fossem mais arrogantes, talvez por influência britânica.
O amigo Cambeta é capaz de ter ainda memórias frescas disso.

Mas actualmente esse tipo de complexos de superioridade estão bastante mais atenuados.

ANTONIO CAMBETA disse...

É bem verdade o que diz o segundo senhor anónimo, para quem conhece bem o calão em língua cantonense, ficará a saber ao que me referi é uma realidade ainda bem patente em Hong-Kong.
Também é verdade que lá são muitos profissionais do que os de Macau, basta ver a postura das polícias.
No fundo em termos de civismo é ela por ela, eu conheço o interuor de muitas casas, pois tenho lá muita família.
Aqui na Tailândia só ouvi uma vez um senhor dizer um palavrão e foi chamado logo á atenção.
Eu que trabalhei em Hong-Kong, sei a que refiro.
Um abraço amigo, eu tenho uma memória bem fresca.

Anónimo disse...

Macau é HOJE um caixote de lixo quando comparado com HK. E nao preciso lembrar-se dos anos 60. Basta ver o que acontece nos voos da Air Asia de ou para Macau que ao nao ter lugares marcados aquilo é uma corrida a bruta. Em HK as pessoas tem educaçao, muita mas, em termos gerais, do que aqui. Macau enveja HK. Macau é um cagalhao no meio da nada e HK é uma capital financeira mundial. Aos británicos bastaram-lhes 100 anos. Os portugueses estiveran a mandar aqui 400...

Anónimo disse...

O comentário anónimo de 6 de Março é absolutamnte despropositado e infundado... denota desconhecimento da história da nação e administração portuguesa de causa e completa ignorancia do seu autor.
Durante quase três séculos, até à colonização de Hong Kong em 1842, a localização estratégica de Macau na foz do Rio das Pérolas significava que a cidade retinha uma posição única no Mar do Sul da China, assumindo um papel central no contexto de uma complexa rede de comércio marítimo, que trouxe grande riqueza e um fluxo constante de pessoas ao território.

Os portugueses e os macaenses ou "filhos da terra" (que nasceram e/ou moram ou moraram em Macau) são uma minoria étnica.
Actualmente, o crescimento populacional registado em Macau é sustentado principalmente pela imigração de pessoas oriundas da China Continental, das Filipinas e de outras partes do mundo.

PS: a palavra inveja escreve-se com "i".

Anónimo disse...

"...história da nação e administração portuguesa denota uma ausencia de conhecimento de causa e completa ignorancia do seu autor."