segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Médico e o Cura



Duas entrevistas, duas realidades, dois mundos. Fernando Gomes, médico do Hospital Conde S. Januário e elemento activo em várias associações de carácter sindicalista e com ligações às diásporas portuguesa e macanese, dá uma entrevista ao Jornal Tribuna de Macau onde fala da situação da saúde em Macau. Um tema sempre pertinente, pois com o actual estado de coisas o melhor mesmo é manter-se saudável, e quem sabe se não era melhor ideia em vez no fundo de previdência. Do que serve "arriscar" chegar aos 65 anos sem nunca ter uma doença mais ou menos grave? É bastante improvável. Sobre os temas mais sensíveis, Fernando Gomes chama a atenção para a falta de especialistas na área da medicina, e de como o segundo hospital público, prometido para as calendas gregas, e na Taipa, dizem, pode até ser o mais bem equipado do mundo, mas de nada adianta se não se conseguirem contratar profissionais de qualidade. Do actual estado da saúde em Macau, sairam também palavras nada simpáticas, nada que não fosse verdade, e só fica bem a um profissional denunciar o está mal na sua área, em vez de se desculpabilizar apenas com a finalidade de mostrar que está a fazer "um bom trabalho", e que existe "coesão" entre uma "equipa unida".

No que toca aos outros aspectos sociais, o médico e membro do Conselho das Comunidades aponta a habitação como o maior problema com que os residentes se debatem, especialmente os que não têm casa própria - qualquer coisa como a grande maioria da população que entrou para o mercado de trabalho nos últimos 10 anos, e que contribui para o pagamento de uma hipoteca com dois terços do vencimento, em alguns casos. Tocou em alguns pontos sensíveis, Fernando Gomes, e foi crítico quer com o Executivo, quer com o seu chefe, Chui Sai On, e ainda censurou o comportamento do governo perante a realização do referendo civil em finais do mês passado. Interessante como combina estas críticas quando lhe perguntam se o recém-eleito CE "é a pessoa indicada para o cargo: "De acordo com a Lei Básica, não tenho o direito de opinar sobre isso. Naturalmente que tenho a minha opinião privada, mas em público não vou dizer, não estou para ter a polícia amanhã à porta de minha casa. Não é a questão de receio ou medo, quando o jogo não é sincero e proactivo, não vale a pena. Não é desistir, mas há outras formas de intervir". Muito bem dito.



Já na sua edição de sexta-feira, O Clarim, sabão azul-e-branco, perdão, jornal da Igreja Cata-caca-ca-Católica! (resisti a fazer uma das minhas habituais gracinhas, e assim Deus todo Podre e Grosso já não me castiga), uma entrevista com...sabem quem? Estão preparados ladjijanjentleman? Nem mais...nem menos que...o Bispo José Lai! Isso mesmo! Quem diria! Ora bem, a entrevista é muito gira, muito "fast-food", pois lê-se em dois minutos, e como alguém sugeriu e bem, "em alguns casos as perguntas são mais longas que as respostas". Exemplo:

CL – No voo de regresso ao Vaticano, após visita à Coreia do Sul, o Papa Francisco, embora sem dizer de que forma, defendeu o uso da força para travar a ISIS, deixando ao critério da Comunidade Internacional o modo de intervenção...
D.JL – Não estava presente, por isso não posso comentar.


Muito objectivo e muito informativo, e sucinto também. Além disso o entrevistado presenciou-nos com momento místicos, de fiambre e queijo:

CL – Como travar, então, esta força cada vez maior da ISIS? Esperar por uma intervenção divina?
D.JL – Talvez por isso é que devemos rezar para que o Senhor nos ajude e o Espírito Santo ilumine aquela gente. Não temos outra arma, senão rezar e ter paciência.


Ah...e anda aí o Ban Kin-Moon a tentar negociar a paz e sentar juntar um sem número de partes beligerantes à mesa, quando tudo o que bastava era "rezar e ter paciência". De resto todas as recomendações do Bispo José Lai passam por "não fazer a guerra", e "não matar inocentes" - "nem pecadores" pois essa "não é a lei de Cristo", além disso "tanto cristãos como muçulmanos são filhos do mesmo Deus, portanto não se percebe", e no fim há só mesmo "que rezar, acreditando que no final de contas Deus há-de conquistar tudo". Epá juro que fiquei completamente inteirado da opinião do "xô" Bispo, que tem os pés bem assentes na terra e soluções que só não se aplicam por má vontade. Amen...doins.

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