quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Hin, Hon!....Wai



Meus amigos, deixem-me apresentar-vos Hon Wai, Chefe do Departamento de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência, uma sub-unidade do Instituto de Acção Social (IAS), criado no âmbito do combate a esse flagelo que é a droga. Hon Wai é um privilegiado. Porquê? Porque deve ser o único Chefe de Departamento da RAEM que vem todos os anos apresentar resultados desastrosos - ostentando um sorriso nos lábios - e consegue manter o emprego. Mas isto ainda se entende, estamos aqui a falar de droga, algo que ele é impotente de deter sozinho, mas o pior é o resto. Primeiro vamos situar o departamento de Hon Wai no organigrama do combate ao consumo de estupefacientes.



Pronto, e ali está ele, o Departamento de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência, mesmo por baixo do IAS, e verificamos nesta teia de "drugbusters" locais que se encontra sobre a tutela do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong Ü, que é por sua vez o responsável máximo da Comissão de Luta Contra a Droga, um organismo independente composto por uma espécie de "selecção" dos melhores ao serviço de uma guerra, que, e penso que eles não ficam tristes que eu diga isto porque estão fartos de saber que é verdade, estão a perder. Mas não vamos perder nós mais tempo e voltemos ao Departamento de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência, nomeadamente no que toca às suas atribuições.



Ora aí está, cabe a este departamento planear e executar acções de prevenção, tratamento reabilitação, etc., etc., mas esperem lá, o que é aquilo, "acções de educação sobre a prevenção do abuso da 'dorga'"??? Está explicado - andam entretidos a educar sobre e 'dorga' e esquecem-se por completo de esclarecer a população sobre os efeitos da DROGA. Aliás, educar não sei se educam, mas pelo menos "informam", e vamos ver como.



Assim, por exemplo. Depois de "investigação e estudos" chegou-se à identificação dos efeitos das várias drogas mais usadas em Macau, divididas pela sua classe, ou tipologia. Assim temos os "Analgésicos e Narcóticos", que incluem a heroína, a morfina e o ópio (?). Aprendemos que provocam a dependência, o que é mau, e ainda a sonolência, que não sendo sempre algo de positivo, sempre ajuda enquanto se "ressaca". E no que consiste a "ressaca", nome vulgar daquilo que designam ali ao lado por "síndrome de abstinência"? Coisas horríveis, meus amigos, eu nem vos conto. Lacrimejamento, "pingos no nariz", bocejos, a loja dos horrores, e dá logo vontade de não tocar naquelas porcarias, Deus me livre. Mas não é tudo: também há sudação, e...cãibra? É você!
Antes de passar ao quadro em baixo, reparem na legenda no canto superior esquerdo, que nos indica que as substâncias assinaladas com um asterisco vermelho "não têm efeitos terapêuticos". Portanto da lista dos estimulantes, quer o MDMA, vulgo "ecstasy", como as metanfetaminas, vulgo "ice", ou ainda a cocaína, vulgo "pó", têm efeitos terapêuticos! Sim, quanto a esta última, temos um exemplo, o argentino Diego Maradona, que foi só o melhor jogador do mundo, e consumia este terapêutico produto. Em qualquer dos casos prefiro evitar, por causa da "exaustação", pois se a exaustão já é o que é...



Agora falando mais a sério. Claro que aquilo que os esforçados senhores queriam dizer com "não tem efeitos terapêuticos" significa que as drogas assinaladas com asterisco existem numa variante terapêutica. Ainda bem, pois como vemos aqui neste quadro, a "cannabis" é utilizada para fins terapêuticos, para doentes oncológicos e todos sabemos disto, e depois há ainda a questão da legalização, da despenalização do consumo, e disso com toda a certeza não vamos ter aqui tão cedo, como vão ver mais à frente. Mesmo assim, olha, os senhores da prevenção disseram para vocês ficarem longe da erva, pois além de apanharem uma "pedra", ficarem com olhos vermelhos, tosse e pele seca, no momento em que começarem a rir feitos estúpidos pode ser que apareça a "bófia" e estrague a festa. Mas este quadro é para meninos de coro. Vamos ao seguinte.




Olhem só para isto, como é que dá para tratar o assunto de forma séria? Portanto a ketamina, substância inicialmente utilizada pelos veterinários para anestesiar cães e gatos, e pelos tratadores de cavalos de corrida para aliviar as dores musculares dos equídeos começou a ser usado pelas bestas humanas para a brincadeira e adquiriu estatuto de droga ilegal. Um dos seus sintomas é a chamada "voz arrastada", que aqui se designa por "difícil comunicação oral". Depois de ter acabado de olhar para este quadro, o que me dá vontade de perguntar é o seguinte: qual é a droga que V. Exas. andaram a tomar que provoca tamanha "difícil comunicação escrita"? E reparem na descrição de alguns daqueles sintomas; "depressão respiratória", "depressão dos reflexos", "prejuízo nos pulmões", e mais em baixo "na percepção" e "no cérebro" (é o que dá, nunca estão na loja...), e a mais intimidadora e dirimente consequência de dar no xarope: A PRISÃO DE VENTRE! Sim, é de facto assustador olhar para tudo isto e pensar em não se conseguir ca...deixam lá. Mas imagino que isto resulte, pois quando um puto do xarope oferece uma dose a outro numa daquelas salas de jogos onde os miúdos se metem nestas merdas, e o outro responde: "Não! Prezo a regularidade, em nome da minha flora intestinal. E tu devias fazer o mesmo, que já passaste das feições azul para roxa, e vais a caminho do cinzento". E reparem no potencial desta campanha anti-droga: "Diga não ao Dextromethorpan, combata a obstipação".

Ainda neste quadro, se repararem bem, vemos que estão incluídos o álcool e o tabaco, numa lista de substâncias psicotrópicas onde está incluída a ketamina, por exemplo. Não percebi muito bem aquela última entrada da lista, "solventes orgânicas", pois não estou a par de quanta malta anda por aí a snifar o gás dos isqueiros ou a beber o mercúrio dos termómetros, mas pelo menos esta tarde antes de eu ir para casa o álcool e o tabaco eram substâncias LEGAIS, tanto como marmelada ou a couve-galega. Mas é curioso que incluam estes dois produtos na lista, pois reparem, o alcoolismo e o tabagismo explicam muito do enredo desta trama que é o combate à droga - permitam-me que "refraseie", palavra que inventei mesmo agora para juntar com "exaustação" - a pesca dos joaquinzinhos, pois combate à droga, bem, o que se faz aqui é o mesmo que montar uma instalação feita com milhares de colheres de alumínio com um projector apontado e chamar-lhe "arte", ao mesmo tempo que se afirma estar a combater a fome no mundo. (Porra! Andei este tempo todo a evitar, não aguentei e saíu! Devia ter tomado codeína, bolas...)

Falando portanto do álcool e do tabagismo. Imaginem que fulano gosta de acompanhar as refeições todos os dias com um copo de vinho branco, não mais que 20 cl, digamos, coisa que mal dá para temperar as iscas, e depois do jantar bebe uma pitada de "brandy" que nem chega a lavar o fundo ao balão, e vem fazendo isto todos os dias sem excepção durante os últimos 15 ou 20 anos. Dificilmente se poderá considerar este indivíduo um alcoólico, certo? Só isto já deita por terra a célebre teoria de que as "drogas leves são meio-caminho andado para as drogas duras", pois fosse isso definitivo, ao fim de meia dúzia de anos o nosso amigo passava dos dois copitos de vinho branco e o farrapito de "brandy" a uma destilaria escocesa completa. Mas agora experimentem ilegalizar o álcool, e vão ver se ele pára de beber. Ia dizer: "só se fosse parvo", mas nem assim. O mais provável era que fosse adquirir estes produtos ilegalmente, por dez ou vinte vezes o preço que estava habituado a pagar, com menos qualidade, e ainda arriscando-se a ser preso por querer fazer algo que sempre fez e nunca chateou ninguém com isso.

Agora o tabaco, e para este exemplo peguemos num primo distante de fulano: sicrano. Portanto este sicrano é fumador desde a adolescência, actualmente tem trinta e poucos anos, é (ainda) saudável, mas sabe que se arrisca a "prejuízos nos pulmões", como consta daquela me...maravilhosa lista, e pensa desistir um dia - mas por ora não, apetece-lhe fumar, dá-lhe prazer, e até nem fuma muito, talvez sete ou oito cigarros por dia, dez ou onze ao Sábado e Domingo. Fossem ilegalizar este produto que causa milhões de mortes em todo o mundo, e cada vez que apetecesse a sicrano um cigarro, teria que pagar pela unidade o triplo que pagaria por um maço, e adquiri-lo a um indivíduo suspeito que passou uma fronteira qualquer com um volume de tabaco metido sabe-se lá onde.

E meus senhores, acabei de apresentar não só os argumentos a favor da legalização da "cannabis", como ainda a razão pela qual a maioria das drogas existem, são produzidas e comercializadas ilegalmente: o lucro. O que tem o álcool e o tabaco, as drogas sociais, que as outras não tenham? Viciam, fazem mal à saúde, existe o tabagismo e o alcoolismo, então? Ai "não é a mesma coisa"? Que giro, então quer dizer que um tipo que fuma um pintor hoje está condenado a andar por aí a cheirar mal aos cantos e a chutar na veia daqui a uma semana, e "depois começa no gamanço, para sustentar o vício".  Entretanto o Zé Pingas, o bêbado da aldeia, um descoordenado que já nem diz coisa com coisa e nem sabe o ano nem o planeta onde estamos e muito menos o nome, é "um coitadinho", que "por acaso roubou a mala a uma velhinha, coitado...foi para a bebida". Epá sejam coerentes, faz favor. Drogam-se ou quê? E por falar nisso, quem se droga, afinal? E porquê?



Aqui está um anúncio anti-droga mais ou menos bem feito - deve ser de Hong Kong, pois os que fazem por cá são piores que a própria droga. Bem feito, disse eu, esteticamente, claro, mas será realmente eficaz? As campanhas, e penso que isto não é exclusivo de Macau mas passa-se um pouco por todo o mundo, dizem que as drogas fazem mal, destroem o tecido social, e depois leva-se o tecido à loja e dizem que já não dá para coser, e a esposa chora porque era o enxoval que a avó lhe deixou, epá estão a ver onde eu quero chegar, não é mesmo? Fala-se muito e não se diz nada. Uma das primeiras percepções que os jovens têm droga é que se consome para ficar melhor, para se sentirem melhor. O termo "dissociativo" não tem necessariamente uma conotação negativa. Dissociarmo-nos do que é mau ou do que não gostamos parece convidativo. E como vão convencer os jovens de que a droga "mata" se alguns deles têm lá na rua um carocho qualquer que já dá no pó desde que eles nasceram? Assim vão pensar que lhes estão a mentir, ou a negar-lhes uma coisa boa, por maldade, e nestas coisas os jovens são muito curiosos e espertos.

Quem não pensa assim é Hon Wai, para quem isto é tudo um caso de polícia. Viu a luz durante a participação num seminário sobre a prevenção de droga entre a juventude, organizado pela Associação Promotora da Saúde de Macau, onde, imaginem só, foi relatado o caso de uma jovem de nove anos que consumiu "droga". Hon Wai, depois de enxugar a lágrima que lhe rolava pelo rosto de tão comovido que ficou (ou então estava com o "síndrome da abstinência" de "analgésicos e narcóticos", segundo a tabela lá em cima) anunciou que está na calha uma revisão da lei, e agora segurem-se à cadeira, para tornar obrigatórios testes de despistagem de drogas nas escolas! Mas...mas...ai que me cai a dentadura...ele pode fazer isso? Alguém pode? Não, pois não se pode obrigar ninguém a fazer um teste de despistagem de drogas a não ser que se tenham fortes suspeitas do consumo, mas sabe-se lá o que mais estes gajos vão inventar, e cuidado que para este senhor a culpa do aumento do consumo entre os jovens deve-se ao facto de "consumirem em casa", por oposição a consumirem no meio do Largo do Senado a um Domingo à tarde com sinalizadores e luzes de néon apontadas para eles e vestidos com uma camisola estampada onde se lê: EU ♥ DROGA - acho que só assim é que o gajo apanhava alguém, ou "prevenia o consumo", função que ele insiste em ser pago para fazer e na  qual fracassa miseravelmente.

O que se passa aqui, sr. Hon Wai, é que o problema da droga, por que muitas escolas de pensamento que V. Exa. tenha conhecimento, não obedece a padrões como a idade, a condição social, o ambiente familiar,  a área de residência e todo o resto que fica tão bonito escrever lá nos testes do curso de Acção Social ou lá o que é, que só serve para depois ir levar sopa a casa dos velhos pernetas e das viúvas dementes. Toda a gente que tem veias para injectar, nariz para snifar ou boca para engolir está sujeito ao vício da droga - desde a freira da Ordem das Carmelitas Descalças até ao baterista de uma banda de "trash-metal". Não há aqui lógica nenhuma que nos diga que hoje temos uma miúda de nove anos metida na passa ou na ketamina, e um dia destes aparece um recém-nascido a sair da barriga da mãe a ressacar e a meter as mãos na carteira da enfermeira para ir comprar um "chuto", entendeu? Não é por alguém ser pobre, excluído ou estúpido, ou ainda "jovem", como você pensa, que se vai meter na droga. O charrinho que um sem-abrigo fuma entre as latas do lixo de um beco imundo é droga, e a cocaína que um bilionário cheira das tetas da amante dentro do "jacuzzi" não é? Acha que um jovem "inteligente" nunca se vai meter na droga? E se ele achar que é tão "inteligente" que pode experimentar à vontade e não lhe acontece nada?

A única forma completamente eficaz de acabar com a droga, e você sabe muito bem disso, é não deixar a droga entrar, mas isso não é possível pois não? Ui cala-te boca, que ainda é mais complicado do que mudar a lei para obrigar os alunos a realizarem testes de despistagem do consumo ou entrar pela casa das pessoas para ver se alguém está a consumir. Faça favor de não aparecer lá na minha casa, ouviu? E o que é isso de "Dicas para os pais" caso os filhos consumam estupefacientes, que chamem logo a polícia, como fez há um par de anos uma senhora que encontrou um saquinho de ketamina na gaveta da roupa da filha? É esta a "educação", "sensibilização" e "prevenção", "parvalhão"? Se é para aumentar as penas e deixar tudo com a polícia, para quê criar estes gabinetes da treta? E quem é este gajo, afinal?



Epá sim senhor, já não está cá quem falou. Marrão o moço, 92,19 pontos, e assumo que seja na escala de 0 a 100. Mas espera aí...aquela data...está explicado. Já entendi, e agora se me permitem vou-me retirar, que desconfio que estou à beira de um "prejuízo da paciência" crónico.

PS: Já agora recomendava que fossem aqui à página da "Anti Drugs" ver na secção de "Investigação e estudos" o muito que se tem feito nesse sentido, e recentemente, também. Aquilo é que é trabalhar, vejam lá se não vos dá uma "depressão respiratória", e aguda!

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