quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A núvem (típico)



A censura na China não tem tido mãos a medir: Hong Kong está a "arder", e a núvem de fumo vai chegando ao continente com os responsáveis da célebre Grande Muralha chegam a censurar milhares de entradas na rede social Weibo por dia, e proibir expressões consideradas "sensíveis", o que causou ainda mais irritação entre os utilizadores das redes sociais no continente, bem como do "website" LinkedIn, conhecido por alojar perfis profissionais e outras informações dos seus utilizadores. Os responsáveis da LinkedIn vieram dizer que "estão a reconsiderar" o apoio inicial que deram à censura na China, depois de em Fevereiro último aceite as condições de Pequim para entrar no mercado chinês através da internet. Típico.



O movimento "Occupy Central with Peace and Love", liderado por um grupo de académicos do sector pró-democrata que tem colocado o governo da RAEHK numa situação sensível e dado dores de cabeça ao Governo Central, que não cede nas pretensões de se realizarem as eleições para o Chefe do Executivo em 2017 através do sufrágio universal. No dia 17 de Agosto o sector pró-Pequim organizou uma manifestação que contou com dezenas de milhar de participantes (mais de cem mil de acordo com as autoridades, menos de 60 mil de acordo com o "Occupy Central" - irónico, isto), pedindo aos apoiantes do movimento que pretende paralisar o centro de económico de Hong Kong que "reconsiderem", fazendo apelos à "harmonia". Típico.



A iniciativa do campo pró-Pequim não agradou a muitos dos residentes da RAEHK, e teve um impacto pouco habitual em Pequim. Wang Liming, um cartoonista satírico que assina por "Rebel Pepper" (变态辣椒), publicou no dia seguinte na sua página da internet esta caricatura, onde se podem ver os manifestantes com a cara vermelha (cor do partido), segurando um cartaz de Mao Zedong, ostentando sacos de compras de marcas estrangeiras caras, e dizendo "vamos mostrar aos honconguenses como nos ajoelhamos na China". Depois disto o desenhista tem sido alvo de uma "campanha negra", com o China People Daily a publicar uma notícia no dia seguinte que o acusava de ser um "traidor a soldo do Japão". Típico.



Enquanto a imprensa internacional alerta para a crescente censura aos seus colegas de Hong Kong, o ex-governador Chris Patten criticou o apelo de Pequim para que "as potências estrangeiras não interfiram na questão de Hong Kong". Igual a si próprio, descontraído mas incisivo, Patten recordou os compromissos da China com os países com quem assinou as declarações conjuntas que devolveram os territórios de Hong Kong e Macau ao continente. O Barão Patten, que afirma que tem feito o possível para não comentar os assuntos da região de que foi o último governador há 17 anos, acrescenta num tom apaziguador que "a China é um concorrente bem-vindo ao panorama global, mas deter as aspirações da população de Hong Kong não ajuda nada". Aqui desta lado há quem já a tenha aprendido toda, e considera o discurso de Patten "inflamatório", lembrando ao mesmo tempo a tal alma penada da Lei Básica, que não diz nada sobre...tanta coisa? Típico.



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