sexta-feira, 3 de maio de 2013

Zelosos e perigosos


O excesso de zelo por parte das autoridades de Macau durante a manifestação do 1º de Maio fez correr muita tinta na imprensa nos últimos dias. É difícil justificar o aparato que levou a que existisse um polícia para cada 11 manifestantes, sem que houvessem sequer suspeitas da existência de elementos perigosos ou agitadores entre os grupos que cumpriram a parada do Dia do Trabalhador. Uma associação de jovens queixa-se de excesso de força desnecessária por parte das autoridades, e chegou a haver uma ligeira altercação na zona próxima do palácio do Governo, na Av. da Praia Grande. Os agentes fizeram uma "birra" e limitaram o acesso dos manifestantes à estrada junto dos Lagos Sai Van - isto apesar do trânsito estar temporiariamente impedido de circular.

Gostei de constatar a adesão de muita malta jovem na manifestação deste ano, e da forma incisiva como disseram "presente". É sinal que talvez estejamos a assistir à chegada de uma geração consciente, que pensa, que bate o pé, que se preocupa com o futuro. Desde professores a estudantes e jovens profissionais liberais, foram algumas centenas de cabecinhas pensadoras que aproveitaram o feriado para se fazerem ouvir. É um progresso. Podiam ter ido fazer um piquenique a Hac-sá, ou ficado em casa a jogar com a Playstation. Mas não. Foram até à Praia Grande fazer ouvir a sua voz.

Não compreendo a estratégia das autoridades, que têm a tendência para criar "casos" durante estas manifestações quando tal não se justifica. A manifestação foi autorizada, o percurso devidamente definido e cumprido à risca, então para quê todo este zelo? Duvido que a ameaça de um atentado bombista mobilizasse tantos agentes quantos os que se encontravam na Praia Grande. Quem passasse pelo Palácio àquela hora ia julgar que se tratava de alguma actividade do dia da PSP. São assim tão perigosos, estes manifestantes? Mais de metade dos agentes mobilizados para este autentico "circo" podiam ter antes ficado em casa a gozar o feriado com as suas famílias.

Tudo dá a entender que existe uma vontade por parte do Executivo em desencorajar as manifestações ou qualquer outra actividade que demonstre insatisfação com o estado de coisas em Macau. Não sei o que pensam os dirigentes chineses em Pequim deste evidente excesso de zelo, mas não terão ficado lá muitos satisfeitos. A repressão exercida pelas autoridades foi mais notícia que a própria manifestação. Foi pior a emenda que o soneto. Enquanto o Governo não avançar com medidas que atenuem as desigualdades e resolvam os problemas da população, haverá sempre quem se manifeste. Este ano foram 2000, e para o ano podem ser mais. E ninguém os vai obrigar a ficar em casa. Mesmo que se mobilize um agente por cada manifestante. E já faltou mais...

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