Os franceses são muito "papa-mamã".
O “lobby” gay anda a esfregar as mãos de contentes. São tempos gloriosos, estes, a idade do ouro cor-de-rosa, um horizonte onde reluz um eterno arco-iris, um sentimento de vitória obtida com muito sangue, suor e lágrimas. Ser homossexual é agora visto no mundo civilizado como algo banal, e assumi-lo está na moda. Pouco importa que ainda exista discriminação, rejeição, ou que ainda se oiçam umas bocas. Quem ainda insulta os homossexuais está completamente “out”, os pais que cortem relações com um filho “gay” estão certamente dementes, e quem discrimine alguém com base na sua orientação sexual arrisca-se a ser acusado de “crime de ódio”. As sociedades mais conservadoras ainda vão resistindo, e os homossexuais vão continuando a temer represálias devido ao seu estilo de vida, mas mais cedo ou mais tarde vão aderir à tendência. No Ocidente o ambiente é de festa, com paradas animadas, muita beijocada e gritinhos de “uh!” ao som dos Scissor Sisters. Elton John, Boy George e companhia foram em tempos tidos como “excêntricos”. Hoje são pioneiros.
O tempora, o mores.
Não sou homófobo nem escolho as minhas amizades com base na orientação sexual. Conheço e conheci vários homossexuais, mesmo antes de se tornar moda, e nunca me meteram medo. Fui contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, afirmei-o aqui várias vezes, mas agora estou-me nas tintas. Continuo a achar uma subversão de uma instituição, e com as instituições não convém brincar, mas não ligo. Façam o que entenderem, casem à vontade, que isso nem me diz respeito directamente. Mesmo a questão da adopção deixa-me indiferente, e na realidade uma criança está melhor num lar com duas mães ou dois pais do que enfiada num infantário qualquer entregue ao Deus-dará. Mesmo quem se mantenha firme e se oponha convictamente contra as uniões, casamentos, co-adopções e tudo isso está apenas a remar contra a maré. Um dia dá-se o evento de se realizarem mais casamentos mono do que casamentos mistos, depois irrita-se, sofre do fígado e aparecem mais rugas e cabelos brancos. Deixem lá, que não vale a pena.Isto é para vocês, ó franceses. Os rabetas vão levar a melhor, e não adianta reclamar.
A homossexualidade deixou de ser um conflito pessoal, e afirmá-la estava reservado ao sussurro no consultório do psiquiatra. Era preciso esconder a todo o custo, evitando fraquejar perante família e amigos, casar para eliminar suspeitas, procurar prazeres furtivos pela calada da noite em locais ermos, obscuros e insalúbres, como parques e casas-de-banho públicas. Hoje dizer alto e bom som “sou gay!” pode ser recebido com uma ronda de aplausos pela “coragem”, e o pior que pode acontecer é ouvir algo como “pfff…grande coisa, eu também e não ando aí a ostentar, ó vaidoso”. Qualquer dia vai ser chique ter amigos “gay”; um Maserati, uma vivenda no Guincho e milhões depositados num paraíso fiscal não ficam completos sem aquele amigo “gay” na agenda do telefone. Imagino uma futura conversa entre “tias”: - “Ah já sabiam? O filho da Tucha é gay!” – “Não posso! Que inveja, rica. O meu Eurico é que não tem remédio, sempre a sair com miúdas, o pateta”.
O que está mesmo a dar é ser “o primeiro”. Há uns tempos ficámos a conhecer o primeiro jogador da NBA assumidamente “gay” (isto do “assumidamente” tem muito que se lhe diga, aparentemente quase toda a gente é gay, e a diferença está em assumir), e agora o primeiro futebolista a sair do armário, curiosamente também na América. Um tal Robbie Rogers, jogador do LA Galaxy, deu o passo em frente. Lá vão por água abaixo as teorias de que os atletas de alta competição não podiam ser homossexuais. Esqueçam as lésbicas do arremesso de peso da ex-RDA ou da selecção de andebol feminina da Dinamarca, cuja masculinidade até dava jeito em termos de desempenho. Os homens também podem ser bons atletas e gostar de pau, e depois? Pensando bem um jogador de futebol gay até pode ser bastante útil, especialmente se for central de marcação. Os avançados da equipa adversária pensavam duas vezes antes de entrar na área ou discutir uma bola dividida, e seriam menos afoito na marcação dos cantos a seu favor.
Mas agora falando um pouco mais a sério. Fico feliz por poder assistir a uma era onde se encaminha para a aceitação da sexualidade alternativa, em que ninguém é ostracizado por recusar uma conduta que a sociedade lhe impõe como sendo a única aceitável. Isto aplica-se não só ao plano das relações afectivas como a todo o resto. A liberdade e a simples possibilidade de poder escolher são valores inestimáveis que devem ser defendidos a todo o custo. É triste pensar que durante séculos os homossexuais foram perseguidos, presos, torturados, executados, vítimas de todo o tipo de horrores pelo simples facto de não comer o que lhes metiam à frente. Ainda nos dias de hoje, em países como o Irão ou a Arábia Saudita os homossexuais são enforcados e decapitados. Isto é simplesmente barbárico e inaceitável à luz dos mais básicos valores humanos. Nem os cães raivosos merecem este tratamento. E esta nova “onda gay” que leva a que cada vez mais homossexuais se assumam até tem um lado positivo. A Igreja, por exemplo, terá inevitavelmente que se adaptar a esta nova realidade, sob o risco de parecer retrógrada e ultrapassada. Longe vão os tempos em que uma simples pira resolvia os problemas e purificava o mal. Agora é o arco-iris que se vê quando antes eram labaredas. E não é melhor assim?
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