Comemora-se hoje em todo o mundo o Primeiro de Maio, dia mundial do Trabalhador. Um dia dedicado àqueles que precisam de fazer pela vida, saltando todos os dias da caminha e indo à luta. Um dia em que também lembramos os bravos homens e mulheres que no passado lutaram pelos direitos e das regalias que muitos de nós – infelizmente nem todos – disfrutamos nos dias de hoje. Não fosse essa luta e ainda hoje teríamos que trabalhar aos domingos, sem direito a férias, e quanto a subsidios, licenças de maternidade ou faltas por doença, nem vê-las. E falamos de barriga cheia, pois há ainda muitos lugares no mundo onde os trabalhadores são explorados, sujeitando-se a trabalhar em condições miseráveis por uns míseros trocados que apenas permitem que não morram de fome.
Os valores do 1º de Maio andam pelas ruas da amargura. Basta olhar para a actual situação do nosso país para perceber que se têm dados passos atrás quanto aos direitos dos trabalhadores. Os ditames da economia de mercado e a falência do estado social assim obriga. O dinheiro não cresce nas árvores, e começa a ser complicado cumprir com o pagamento de pensões e reformas. Em suma, vivemos num mundo onde não existem almoços grátis, e ninguém da nada a ninguém. Os bravos heróis das conquistas de Maio devem estar a dar voltas na cova. Como é possível que alguém que passou uma vida inteira a trabalhar e a descontar não pode usufruír de uma vida tranquila nos últimos anos de vida? O que falhou?
No programa “Contraponto” do passado fim-de-semana o director do Hoje Macau, Carlos Morais José, apontou o dedo ao neo-liberismo, que leva a que existam cada vez menos ricos, mas mais ricos, e cada vez mais pobres, e ainda mais pobres. Dinheiro chama dinheiro, e quem tem mais capital para colocar no mercado tem mais hipóteses de o multiplicar. Não será necessário acrescentar que quem não tem nenhum está condenado a ficar sempre à míngua. O enriquecimento vai sendo afunilado, e a distribuição equalitária dos recursos vai-se tornando cada vez mais uma miragem. Com o aumento da população mundial ao ritmo dos mil milhões em cada 12 anos, e a consequente escassez de recursos que isso implica, vamos ter mais meia dúzia de milionários entre milhões e milhões de pobres. A classe média anda na corda bamba: ou pensam rapidamente em enriquecer e juntar-se à festarola dos espertalhões, ou arriscam-se a acabar na penúria. É um “ou vai ou racha” assustador.
O modelo económico da China, o tal socialismo de mercado que de “socialismo” tem muito pouco produziu resultados que são agora aplaudidos de pé pelo próprio Ocidente. Estamos mal se este é o exemplo que queremos seguir durante o século XXI. Assim qualquer dia vamos regressar à escravatura. E a culpa não morre solteira, todos temos a nossa quota parte. Convencemo-nos que o modelo capitalista é o tal, o mais justo, e que assim todos têm uma chance de enriquecer. Quem lá tentou chegar e esbarrou com os vícios do clientelismo, da corrupção, dos monopólios e das oligarquias sabe que não é assim tão fácil. No fim acabam sempre por ser os mesmos gatos a fazerem-se às filhozes.
É demagógico pensar em restabelecer a ordem social e repôr um pouco de justiça neste mundo tão desigual. O ideal seria fazer um “reset”, deixar entrar um “pace-car”, e começarmos tudo de novo, cada um com exactamente o mesmo – e isto não tem nada a ver com o comunismo ou outras ideologias bafientas que já provaram não produzir resultados. É importante reflectir, e nada melhor que o Dia do Trabalhador para o fazer. Vamos pensar bem para que “boneco” andamos afinal a trabalhar, e com que propósito.
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