O grupo do Facebook “Conversas entre a malta” comemorou ontem com pompa e circunstância no Clube Militar o seu 1º aniversário. O grupo, que conta com quase 900 membros, foi fundado no início de Novembro de 2011, realizou dois jantares-convívio antes deste, que assinalou um ano desde que um grupo de amigos macaenses decidiu fundar na rede social um espaço de discussão sobre temas de Macau. Uma espécie de fórum onde se debatem temas locais, e que contam com gente que conhece o território como ninguém, e que garantem uma discussão com sentido e objectividade.
A festa contou com (bem) mais de uma centena de convidados, e estiveram presentes, ou fizeram-se representar, praticamente todas as figuras de proa da comunidade macaense. A “malta” já não deixa ninguém indiferente. Conversei cá fora durante alguns minutos com o meu amigo Miguel da Rosa Duque, ele próprio descendente de uma ilustre família macaense, e ambos concordámos que estas são iniciativas que trazem de volta a antiga e salutar tradição das tertúlias entre elementos da comunidade portuguesa. Pouco importa que sejam eles macaenses, ou “filhos da terra”, portugueses da metrópole ou outros lusófonos radicados em Macau, ou chineses “aportuguesados”.
Ninguém se sentiu isolado, houve convívio do bom e do genuíno, música portuguesa e macaense, e não faltou o “nosso” Elvis, o macaense Rudy Souza, que mais do que apresentar o seu habitual reportório conviveu também com a “malta”, onde só tem amigos. E não foi só ele quem sentiu o calor e a amizade da “malta”. É da “malta” quem convive com a “malta”, e não existem requisitos de origem, estrato social ou etnicidade. As associações de matriz portuguesa estiveram presentes, tanto na figura do presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes, a presidente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de Língua Portuguesa (Macau), Rita Santos, que muito gentilmente distribuíu recordações entre todos os convidados, o presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), o deputado José Pereira Coutinho, e até o presidente da Santa Casa da Misericórdia, António José de Freitas. Todos se confundiram com a “malta”, e com ela conviveram.
O que mais me comoveu foi a própria valia do evento: portugueses de Macau e outros de origens diversas, juntos no Clube Militar, um dos espaços por excelência da lusitanidade de Macau, e sem elitismos ou diferenciações que muitas vezes existem quando a comunidade se encontra. Na “malta” não existem rótulos. Ou são todos da “malta”, ou não estão ali a fazer nada. Numa sala ao lado estava um grupo de sócios ilustres daquele grémio que usufruíam do espaço caro que pagam todos os meses e espreitavam com curiosidade o jantar da “malta”, e estranhavam o “cheiro do povo”; fazia-lhes confusão a simplicidade e a espontaneidade da “malta”. Também se estes senhores que se consideram elites um dia queiram dar o braço à “malta”, e cantalorar juntos o “Macau sã Assi”, são bem vindos. Só lhes falta o espírito da “malta”.
Mais do que o grupo de amigos que fundou a “malta” – não conheço todos e nem me interessa quem são – a “malta” é o produto de uma massa anónima e silenciosa que existe em Macau desde a transferência de soberania. São pessoas que nasceram e viveram sempre em Macau, ou passaram aqui a maior parte das suas vidas (como eu próprio) que optaram por permanecer na RAEM mas ficaram sem saber muito bem o papel que desempenhavam. Ora agora estão aí para ficar. É impossível ignorar o valor da “malta”, e só lhes resta manterem-se fiéis à ideia original, que é muito boa. Nada de adulterações, se faz favor.
Parabéns à “malta”, e que contem muitos e bons anos. Sobretudo que encontrem gente jovem que queira levar a “malta” aos ombros para todo o sempre, mesmo depois de 2049, aquela data que tantos vaticinam para o “fim de Macau”. Olhem que já tinham feito o mesmo para 1999, e enganaram-se. Enquanto houver “malta”, continuará a existir Macau. E não há prazo.
PS: O “pisidente” do grupo é um tal Hugo Silva Jr., um boémio por natureza que representa o espírito da “malta” melhor que ninguém. Para se juntar à “malta” basta ir ao Facebook e procurar “Conversas entre a malta”, e fazer o pedido. É bem vindo quem vier por bem, para fazer parte da “malta”.
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