Faltam menos de três semanas para o Natal, e como não podia deixar de ser, estão aí as decorações natalícias, um pouco por todo o lado. No Largo do Senado já temos a gigantesca árvore, as iluminações, o palco decorado com o Pai Natal e as renas, e mesmo o edifício do IACM já pendurou o estaminé natalício. É pena que o edifício dos correios esteja actualmente em obras, não nos deixando usufruír das suas decorações de Natal, sempre simples e dentro do bom gosto. Já estão montados os presépios da Sé e da Praia Grande, e nem o anúncio do Papa Bento XVI demoveu o burro e a vaca. Estão os dois lá, marcando a sua habitual presença, alheios ao veto do Vaticano. A obliteração destes dois animais do Presépio só encontra paralelo no afastamento do planeta Plutão do sistema solar. Pode-se mesmo dizer que é uma forma de discriminação. ..e deixem-me perder a cabeça, racismo!
Eu próprio já montei as minhas decorações de Natal: dois sininhos verdes na porta da casa, que surrupiei do jantar de Natal do serviço o ano passado. Não tenho lá muita paciência para árvores, luzes, presépios ou sapatinhos vermelhos forrados de lã. Dá trabalho desarrumar e montar aquilo tudo, e depois dá trabalho desmontar e arrumar, e além disso os motivos natalícios vão contra o meu agnosticismo crónico. Vou passar o Natal a casa da minha mãe, que de certeza tem lá todo o arsenal necessário para dar cor à consoada. Isso, e mais o bacalhau, o perú, as azevias e tudo mais, e aquele bolo tipo torta tão patusco que dá pelo nome de “tronco de natal”. Ah sim, e o bolo-rei, do qual sobra sempre imenso.
Quando era miúdo era uma festa louca montar as decorações natalícias, com destaque para a árvore. Como bom tuga que era, o meu pai ia ao pinhal de Pegões cortar um pinheiro de tamanho médio, indiferente ao facto de estar a cometer uma infracção, nomeadamente invasão de propriedade privada. Mas não era o único, deixem lá. Mesmo em Lisboa vendiam-se pinheiros que serviam de árvore de Natal durante mais ou menos um mês, e depois dos reis eram jogados no lixo. A consciência ambiental e o bom senso substituiram os pinheiros por imitações de plástico, que sempre dão para guardar para o ano seguinte, para toda a eternidade mesmo, passando de geração para geração. Os Verdes e a Quercus já podem parar com a choradeira.
Montar a árvore é um exercício interessante, uma cerimónia com o seu quê de zen, que requeria muita paciência. As bolas e as fitas de Natal, que então saíam da hibernação de quase um ano num caixote dentro da despensa, eram dispostas de modo a não deixar muitos espaços em branco (ou neste caso, “em verde”), e o mais irritante era desatar as luzes de Natal, que têm uma tendência caricata para se enrolarem em complicados nós. Era quase preciso chamar um escuteiro para resolver aquele imbróglio. Haviam sempre umas luzinhas que se fundiam de um ano para o outro, mas como o pai era electricista, não havia problema. Colocar a estrela no topo da árvore e depois os presentes à volta da dita davam a sensação do dever cumprido. A árvore ficava perto da janela da sala, e assim os vizinhos podiam ver as luzes a piscar, não fossem eles esquecer que era Natal.
Acho piada a alguns presépios, que insinuam que caía neve em Jerusalém quando nasceu o salvador – que ainda por cima está completamente nu, coitado. Admiro a criatividade das pessoas que colocam outra bonecada no presépio, como soldadinhos de chumbo, X-men ou Power Rangers. Não sei porquê, mas acho que o Pinóquio ficava ali bem, passo a provocaçãozinha maldosa. Um problema que urge resolver é o das músicas de Natal. É preciso criar músicas novas. A sério, o “Jingle Bells”, o “I saw mommy kissing Santa Claus”, o “Silent Night” ou o “A todos um Bom Natal” do Coro de Sto. Amaro de Oeiras já enjoam. Curiosamente a canção “White Christmas”, de Bing Crosby, o single mais vendido de todos os tempos, é menos popular na época natalícia que as outras que referi. Mas percebo a falta de voluntários para renovar o reportório musical natalício. Deve ser frustrante escrever música que só faz sentido durante duas ou três semanas por ano. Só um maluquinho vai escutar um disco de Natal em Junho.
E pronto, assim temos a cidade preparada para o Natal, esse conceito que é ainda estranho para muitos nesta região. É engraçado como esta época começa a ter mais penetração na comunidade não-cristã, nomeadamente a chinesa, muito por culpa do potencial comercial do evento, e não tanto pelo seu significado religioso. Na China o dia de Natal ainda não é feriado; é um dia como outro qualquer, e os chineses vão trabalhar e vão à escola. Creio que será uma questão de tempo para que se rendam ao Natal, até porque as luzes, as árvores e os pais natais estão ali para os lembrar. O Menino Jesus é que não, que tem muito pouco de revolucionário.
1 comentário:
Hahahaha, na verdade Jesus não tem é pouco de revolucionário. Os judeus daqueles tempos que o digam. :)
Quanto à vaca e ao burro, aquilo foi apenas a opinião do Papa enquanto leigo, não proclamou dogma algum. ;)
Vai passar o Natal com a sua mãe? Ai sim? Ela está em Macau? :)
Abraço.
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