A ANIMA, Sociedade Protectora dos Animais de Macau, entregou uma carta ao Governo apontando várias lacunas na legislação, que levam a que os bichinhos no território sejam autêntica carne para canhão. O IACM abate anualmente, em média, cerca de 800 cães. Isto são pelo menos dois cães por dia, quinze por semana, mais de 60 por mês. Isto é um verdadeiro Holocausto que está a acontecer bem debaixo dos nossos narizes. E nem os gatinhos, muito mais espertos, escapam ao sabor da injecção letal, sendo abatidos perto de 200 por ano. Isto não é digno de uma sociedade desenvovlida. Isto é uma chacina.
Já nem falo do Canídromo, onde os galgos de corrida são "despachados" quando já não servem para correr. Esta é uma situação que se vai perpetuando e muito boa gente encolhe os ombros. O caso dos galgos do Canídromo só é equiparável à crueldade que são as lutas de galos, e pior que as touradas. É que o boi pelo menos ainda se come. O que mais me choca é que o canil municipal só mantém os animais durante um (1) dia. Alguém que perca o cão de um dia para o outro e por acaso chega lá atrasado fica a saber que o Bóbi já foi parar à inceneradora. Mas porquê só um dia, e não três ou quatro? Não há dinheiro? Não há capacidade? O que se passa aqui? A ANIMA socorre muitas vezes cães zarolhos, pernetas ou portadores de outro tipo de deficiência, os mais vulneráveis ao abandono, toma conta deles e eventualmente coloca-os para adopção. Isto é muito nobre, mas não é suficiente. Por cada cão que é salvo deve haver pela menos meia dúzia que vai servir de adubo.
Já disse aqui o que penso disto. Quem não tem capacidade para tomar conta de um animal de estimação, nunca devia ter um. Os cães são sem dúvida o maior problema, uma vez que os gatos são um bichano desenrascado, que pode dormir debaixo da cama ou dentro do cesto da roupa suja, e tem a tal caixinha onde pode ir fazer as necessidades. Algumas famílias têm um cão em apartamentos de 50 m2 ou menos, e onde vivem três ou quatro pessoas. Há gente - normalmente algumas senhoras de meia idade - que trata os cães como se fossem pessoas. Vestem-lhes roupinha, sapatinhos, um chapéuzinho, dormem com ele e dão-lhes beijinhos, e levam-no ao cabeleireiro ao fim-de-semana. Mas isto são casos pontuais. Muitos outros fartam-se do bicho, ou porque dá muito trabalho, está velho, ladra a meio da noite ou mordeu o puto que lhe puxou a cauda. Depois abandonam o animal, assim sem mais nem menos.
Um espectáculo lamentável com que deparo todos os dias são pessoas a levar o cão à rua para fazer os cocós e xixis. Levam um jornal, metendo debaixo do rabiosque do canino quando este tem vontade de se aliviar, e uma garrafinha de água para salpicar no rio de urina que o bicho deixa no passeio, como se isso fosse uma medida muito sanitária. Se outras civilizações numa galáxia distante estiverem a observar isto, vão pensar que são os cães que estão no comando. Depois há os casos dos cães nos elevadores, que interfere com a liberdade individual de quem não quer partilhar um elevador com um cão, e aqueles mastins que ocupam o passeio inteiro, assustando as pessoas mais sensíveis e as crianças. Macau não é uma cidade muito propícia para que se tenha um cão. Não é "dog-friendly".
Não me entandam mal, adoro cães e gatos. Dou sempre uma festinha a um canito mais engraçado, convivo bem com eles, até porque cresci com cães, e não tenho medo ou nojo deles. O problema é que um cão é um animal que precisa de espaço, um quintal ou uma varanda grande e verdusca onde possa fazer as sua coisas de cão. Constringir um cão a um apartamento é quase como torturá-lo. Não consegue correr, pular ou abanar a cauda sem bater numa mesa ou num armário. E já agora, onde dão banho ao cão? Na mesma banheira onde se lavam as pessoas? Em Macau os únicos sítios ideiais para se ter um cão será em algumas vivendas em Coloane ou na Penha, onde ainda há espaço, e pouco mais.
A solução para que se acabe com este holocausto seria que existissem menos cães. Menos cães, menos mortes. E é claro, que se puna quem abandone os animais, e não assuma a responsabilidade de ter um ser vivo dentro de casa. Um cão não é um animal de sangue frio, não é um peixinho de aquário, não é uma peste como os ratos ou as baratas. Neste aspecto ainda é preciso sair do neolítico e entrar na modernidade. E não digam que não é importante, ou prioritário. Os senhores legisladores andam muito ocupados com o quê, exactamente? Chegou a hora de sermos mais humanos.
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