segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012 em revista


O ano de 2012 não fica marcado por qualquer acontecimento decisivo ou sequer especial, apesar de há dez dias se ter anunciado o fim do mundo. Isso seria merecedor de destaque, caso tivesse ficado remotamente perto de se concretizar. Mais uma vez foi um ano em que se ultrapassaram limites, vimos gente a partir, e ficam registadas incidências para mais tarde recordar, usando o bordão da velhinha Kodak. Eis alguns dos actores principais do ano que agora finda.

PERSONALIDADE DO ANO


Escolhi Xi Jingping, recentemente eleito presidente da China, em deterimento de Barack Obama, reeleito presidente dos Estados Unidos, e passo a explicar porquê. Enquanto Obama cumpre um segundo e último mandato a braços com uma crise interna enorme que os americanos esperam que resolva, na China vamos ter Xing Jinping durante os próximos dez anos. É com enorme expectativa e uma dose de esperança que aguardamos o seu mandato, depois de uma década de Hu Jintao, que colocou a China no pódio da economia mundial. Se o desempenho de Xi for pelo menos igual ao do seu antecessor, não tenho dúvidas que no final desta década teremos uma China na liderança do mundo. A única dúvida é saber que China será essa, e cabe ao novo presidente encetar as reformas tão necessárias como urgentes, nomeadamente as de cariz democrático e social. Caso Xi Jingping consiga reformar esta China que já é um gigante de facto, entrará certamente para a História como um dos seus maiores líderes. Aqui em Macau vamos ficar a torcer por ele, pois o bem da China é também o nosso bem, por inerência.

PERSONALIDADE DO ANO (MACAU)


Jason Chao, presidente do Novo Macau Democrático (NMD) é uma figura enigmática, que de destacou durante o ano que agora finda. Educado, com perfil de intelectual, expressando-se num inglês imaculado, Jason deu-se a conhecer em 2009 quando foi o nº 2 de Au Kam San nas legislativas, falhando na altura a eleição para a AL. Foi o baptismo de fogo deste jovem de vinte e poucos anos, que muitos vaticinam como sendo o succesor natural do histórico Ng Kuok Cheong. Este ano esteve na linha da frente de muitas das lutas do NMD, ora pela habitação económica, ora exigindo explicações à organização da exibição dos cadáveres plastinados no Venetian, e mais recentemente liderando a primeira marcha gay da história do território (ficamos contudo sem saber a sua orientação sexual). O espírito contestatário está lá, resta saber se o conhecimento de ciência política o complementa.

ATLETA DO ANO


Estive tão indeciso entre Usain Bolt e Lionel Messi que criei uma categoria para cada um. Mas quando falamos de “atleta”, falamos de muito mais que futebol, e Usain Bolt teve mais uma vez o mundo a seus pés este ano, em que se realizaram os Jogos Olímpicos de Londres. O jamaicano voltou a conquistar o ouro em todas as provas que competiu, e continua a deter os recordes mundiais que fazem dele o homem mais rápido do mundo. Seis medalhas de ouro olímpicas na velocidade em quatro anos é obra, e é caso para dizer que este Bolt faz jus ao nome – é um “raio” fulminante.

FUTEBOLISTA DO ANO


Lionel Messi, claro. Os mais básicos instintos patrioteiros levam-me a preferir Cristiano Ronaldo, mas contra factos não há argumentos. O argentino juntou à seu extensivo currículo o recorde de mais golos marcado num ano civil, e continua a ser o “alvo a abater” por todos os seus adversários. Tivesse uma selecção argentina à altura do seu génio, e já tinha juntado aos muitos títulos que ganhou em menos de dez anos de carreira o campeonato mundial de selecções. Seja como for, somos testemunhas privilegiadas deste fenómeno. Os nossos pais e avós tinham Pelé, nós temos Messi.

DESPORTISTA DO ANO (MACAU)


Esta é a única categoria em que temos um empate. Nenhum dos contemplados nesta categoria merecia ser deixado de fora, apesar de um deles não estar afiliado com o desporto local. Assim a selecção de hóquei em patins do território é referida em primeiro lugar. Os hoquistas de Macau conquistaram em 2011 o sétimo título asiático da modalidade, obtiveram o 6º lugar no mundial “B” deste ano, e foram finalmente reconhecidos pelo Governo da RAEM com uma medalha de mérito desportivo. São um exemplo acabado da expressão “água mole em pedra dura…”, mas outra vez recorrendo ao léxico popular, “mais vale tarde que nunca”. Destaque também para António Félix da Costa, o jovem piloto português que se tornou o primeiro a vencer o GP de Macau correndo pelo ACP. Uma promessa do automobilismo mundial, Félix da Costa depende apenas dos patrocínios para que Portugal tenha finalmente um piloto que possa aspirar ao título mundial na categoria máxima do desporto automóvel, a Fórmula 1. Fica aqui a menção, que espero referenciar no futuro.

ACONTECIMENTO DO ANO


Foi no dia 14 de Outubro que o austríaco Felix Baumgartner (outro Felix nesta lista) desafiou os limites da nossa parca condição de frágeis seres humanos e saltou da estratosfera, de uma altura de 39 mil metros, sobre o deserto do Novo México. Foi o primeiro ser humano a quebrar a barreira do som, caindo a uma velocidade de 1342 km/h durante mais de quatro minutos, antes de abrir o pára-quedas que o fez aterrar em segurança, completamente consciente e sem um único arranhão. Um acontecimento que nos deixa orgulhosos das nossas capacidades, que não são assim tão limitadas quanto isso.

ACONTECIMENTO DO ANO (MACAU)


Na recta final deste ano, deu-se um acontecimento que despertou a curiosidade da opinião pública e causou preocupação entre os responsáveis pela segurança do território. Wan Kwok Koi, ou Pan Nga Koi, o “dente partido”, foi libertado do Estabelecimento Prisional de Macau no início do mês de Dezembro, e à sua volta montou-se um circo mediático sem paralelo com outra personalidade do em tempos recentes. O ex-líder da seita 14 quilates pediu apenas “que o deixem em paz”, mas é difícil de prever que papel irá desempenhar no complicado mundo do jogo e das salas VIP de Macau apenas um mês após acabar de cumprir uma pena de 14 anos de prisão. Um homem que tem muito que contar, e que certamente terá uma palavra a dizer.

FIASCO DO ANO


Será que alguma vez na História as palavras “passos” e “coelho” foram pronunciadas tantas vezes juntas, e de forma tão derrogativa? Ah sim, em termos de fiasco tivemos também a tal previsão falhada do fim do mundo, mas não há por aí muitos Maias para chatear.

FENÓMENO DO ANO


Mais de mil milhões de visualizações à escala global para uma canção que apenas 50 milhões entende a letra? A internet é um mundo à parte, sem dúvida…

FILME DO ANO


A revolução de 1979 que derrubou o xá Reza Pahlevi e instaurou uma república islâmica no Irão foi um tema que sempre me fascinou. Um “case-study” interessante, de como um país moderno e ocidentalizado se transforma numa rigorosa ditadura clerical no espaço de meses. Em retaliação pelo exílio do xá nos Estados Unidos, o regime iraniano toma como reféns os 50 funcionários da embaixada norte-americana em Teerão. “Argo”, realizado por Ben Affleck, que também assume o papel principal, conta a história de como seis destes reféns conseguem escapar através de um esquema que os faz passar por actores de um putativo filme de ficção científica a ser rodado no Irão, aproveitando-se até de alguma ingenuidade da guarda islâmica iraniana. O filme é uma dramatização de acontecimentos verídicos relatados num relatório recente da CIA, mas tem qualidade que chegue para que o considere o melhor de 2012.

BRONCA DO ANO


Por falar em filmes e em islâmicos, eis uma polémica que deu que falar. Em Julho de 2012 apareceram no YouTube cenas de um alegado filme que contava a história do profeta Maomé. Esse filme, que na verdade não existe, seria intitulado “The Innocence of Muslims”, e dava uma imagem muito pouco favorável do profeta do Islão, que era descrito como um louco e um tarado sexual. As imagens causaram a ira em alguns países islâmicos mais radicais, e como não podia deixar de ser sucederam-se demonstrações anti-América. O responsável pela “brincadeira” foi identificado como sendo um tal Nakoula Basseley Nakoula, um cristão-copta egípcio naturalizado americano, proprietário de uma estação de serviço, e condenado a um ano de prisão e mais quatro de pena suspensa por tecnicalidades. Um tribunal egípcio condenou-o à revelia à pena capital, por blasfémia.

PARTIRAM E DEIXAM SAUDADES…

Whitney Houston
Não era um grande fã da cantora, mas reconheço que marcou uma geração. Uma série de equívocos e opções menos acertadas levaram à sua morte em Fevereiro, com apenas 48 anos.

Vidal Sassoon

Cheguei a lavar a cabeça com um champô desta marca, mas nunca soube muito sobre o homem por detrás do cosmético. Prezo a saúde capilar, e orgulho-me da minha farta e cheia cabeleira, por isso a minha singela homenagem.

Gore Vidal

Um dos mais prolíficos autores americanos na área da ficção política e histórica. Deixou escrito um rol de ensaios, peças, novelas e guiões, que fazem dele uma referência entre a elite intelectual norte-americana e uma inspiração para pelo menos duas gerações de aspirantes a escritores.

Neil Armstrong

Em Agosto de 1969 chegou à Lua, em Agosto de 2012 voltou a partir com destino incerto. Um homem que já chegou a dois sítios onde nunca estivemos.

José Hermano Saraiva

A maior perda este ano em Portugal, sem sombra de dúvida. O “professor” de História que foi ministro de Salazar e que tinha um à vontade extraordinário em frente às câmaras de televisão, transformava aspectos maçudos da História de Portugal em narrativas interessantes. Isto apesar de, e citando o próprio, “esta história, pode não ser verdade, mas digam lá se não é uma bonita história?”.

Sun Myung Moon

Se alguém remotamente semelhante a Jesus Cristo tivesse morrido este ano, esse alguém seria Sun Myung Moon. Este sul-coreano que nos deixou em Setembro aos 92 anos fundou em 1954 a Igreja da Unificação, uma seita cristã que tem actualmente um número indeterminado de membros – provavelmente bem acima do milhão – em todo o mundo. São os “moonies”. O mito parte, a obra fica.

Larry Hagman

O homem que todos amavam odiar, o JR da série norte-americana “Dallas”, a personificação do imperialismo americano e da sede de petróleo "yankee". Hagman era até um bom homem, e não o alcoólico e cocaínomano que encarnou no filme “Primary Colours”, de 1998, mas da fama de facínora não se livra, nem depois da morte.

Oscar Niemeyer

O creativo que idealizou Brasília e era sinónimo de arquitectura moderna cometeu a audácia de viver 104 anos, ignorando qualquer prazo de validade. Uma vida cheia, em que deixa obra que todos podem contemplar um pouco por todo o mundo civilizado.

1 comentário:

Hugo disse...

Concordo com quase tudo. O Bolt talvez substituisse pelo Phelps .Nos que deixam saudades acrescento o Bernardo Sasseti . E acho que o Messi tem uma seleccao poderosa do seu lado .
Bom 2013