sábado, 15 de dezembro de 2012

A quadra na TV


Durante o tempo que tenho passado em casa a descansar do trabalho e nos intervalos dos vários jantares de Natal, tenho assistido à programação da RTPi, que como não podia deixar de ser, tem sido dominada pela quadra natalícia. A programação desta época é sempre muito previsível, e marcada pela participação de personalidades diversas em programas que visam angariar dinheiro ou géneros para trazer um Natal mais feliz a quem necessita. A qualidade aqui importa menos que a intenção. Não interessa que se convidem cantores “apimbalhados”, ou que o play-back mal feito dite as suas regras, desde que as pessoas dêm uma ajuda. Temos o resto do ano para falar mal e exigir programação com mais qualidade. Atendendo que falamos da RTPi, é difícil que seja muito melhor que isto.

Contudo assisto a situações que me deixam boquiaberto e incrédulo. Na quinta-feira à noite assistia ao Natal dos Hospitais, esse clássico que já se realiza mesmo antes do evento da televisão em Portugal, desde 1944. Por acaso tenho recordações giras deste programa, a que assistia durante várias horas quando era pequeno. O momento alto era sempre a participação de Herman José, naquele tempo um jovem humorista muito mais espontâneo e popular, e menos elitista que hoje. Nem precisava de se esforçar muito para fazer rir e trazer boa disposição aos acamados que assistiam ao programa ao vivo e aos espectadores lá em casa. Era sempre um momento muito aguardado que só pecava por ser curto.

Mas voltando ao espectáculo deste ano. A certa altura estava no palco um indivíduo de cadeira de rodas, olho direito tapado por um adesivo, um ar muito deprimido, cabisbaixo, barba por fazer e depois de uma observação mais atenta, dentes muito mal tratados. Além de todos estes males, tinha um barrete de Pai Natal enfiado pela cabeça abaixo, com o logotipo da RTP a tapar-lhe a testa. Este senhor cujo nome não me recordo foi “vítima” da caridade de uma associação que lhe ofereceu a tal cadeira de rodas. Um médico explicou então que o indivíduo de 50 anos (apesar de tudo bem conservado) sofreu um AVC ao nível do tronco, que o deixou paralizado. A certa altura o coitado não resistiu a tanto mediatismo e desatou a chorar, imediatamente confortado por Catarina Furtado, que feita mãezinha dele dizia “atão, atão…”, ao mesmo tempo que lhe dirigia a atenção para outro lado e perguntava “Já viste quem está ali? Sabes quem é?”. O pobre senhor, meio atordoado e repito, com a visão limitada ao olho esquerdo, respondia assustado “não…não…quem é?”, “É o Toy!” anunciou a Catarina, como quem anuncia a chegada de Jesus Cristo mesmo a tempo de realizar um milagre natalício. O cantor setubalense entra então em cena e dá um abraço ao indivíduo, para quem já tudo valia. Durante todo este triste espectáculo o palonço do João Baião mantinha aquele sorrisinho idiota, ora enquanto se falava do estado de saúde lastimável do indivíduo, ora mesmo enquanto este chorava baba e ranho. E o pior é que nem o mínimo de dignidade lhe permitiram, insistindo no tal barrete de Pai Natal que lhe cobria a cabeça. Um momento televisivo exasperante. Queriam dar-lhe uma cadeira de rodas, tudo bem, mas foi preciso fazer disto um circo mediático?

Hoje de manhã foi com tristeza que fiquei a saber que o meu programa favorito, o “Cinco para a meia-noite”, chegou ao fim da 6ª série. Compreendo que toda a gente precisa de ferias, mas o “Cinco” vai deixar saudades, e penso que muitos leitores concordarão comigo. Contudo o convidado de Pedro “Pacheco” Fernandes foi Pedro Abrunhosa, e ainda foi pior do que eu pensava. Primeiro gostava de deixar claro que não sou grande fã do cantor, nem mesmo do primeiro disco, que foi um sucesso estrondoso em 1993, se estão lembrados. Foi uma revolução que não sei bem porquê, não me agitou por aí além. O restante reportório também não me enche as medidas, se bem que lhe reconheço um espaço na música portuguesa, que conquistou por mérito próprio, Não gosto, mas não detesto, nem me faz mudar de canal. Só que hoje não me faltou vontade. Quando não abre a boca para cantar, Pedro Abrunhosa debita as maiores inanidades, que muitas vezes me levam a pensar que está a brincar. Tem opiniões absolutamente desfazadas da realidade, fala da actualidade usando padrões completamente ultrapassados e opina sobre a crise e os problemas sociais sem o conhecimento de causa que o leva a parecer muito “revoltado” com o actual estado de coisas. Parece estar convencido (iludido?) que a música dele se insere no género de “intervenção”, que mudou, ainda muda e pode no futuro mudar qualquer coisa. A sério? Já alguém prestou atenção às letras das canções ditas “políticas” do Pedro Abrunhosa? Um misto de demagogia e rimas forçadas, sem uma mensagem que dê sequer que pensar. Quando chegou ao sofá do “Cinco”, Abrunhosa insistiu em sentar-se na almofada com a bandeira do Reino Unido, como “forma de protesto pelo ultimato” – sim, o ultimato britânico de 1890, um problema mesmo sério com que todos os portugueses actualmente se preocupam. Uma atitude que nem tem piada, nem chega sequer a ser original. O cantor Vitorino tinha feito o mesmo quando passou pelo programa umas semanas antes, e nem falou do ultimato; limitou-se a dizer que não gostava de ingleses. Foi um final de série sem chave-de-ouro. Ao Pedro Abrunhosa devia ser apenas permitido cantar e mais nada. Apesar de tudo, isto são “peanuts”. Fico à espera da 7ª série, e já tenho saudades.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este tripeiro do Abrunhosa julga-se o "rei" da música nacional. Já não manda uma para a caixa faz séculos, mas pensa que tudo o que faz é de "génio". Lembra-se quando ele caíu e partiu a cabeça num programa de TV há dois ou três anos? LOL com aqueles óculos e aquela careca parecia mesmo um palhaço.