Edmund Ho deu hoje uma entrevista à Lusa onde fala de forma muito resumida dos últimos dez anos de governação da RAEM. Falou sobretudo de forma elogiosa de Portugal e da comunidade portuguesa, assegurando a sua importância para a realização do segundo sistema, bem como do território ser "ponte" dos contactos comerciais entre a China e os países africanos de expressão portuguesa. Fico sentido da parte que me toca, e nunca tive uma sombra de dúvida de que Edmund Ho é nosso amigo, e amante da diversidade cultural.
É preciso não esquecer que o pai de Edmund Ho foi o Comendador Ho Yin, maior líder da comunidade chinesa do pós-guerra no território, que cultivava com o regime colonial português uma rivalidade feroz mas desportiva. Ho Yin terá dado a Edmund Ho a liberdade de escolher, e o ainda Chefe do Executivo escolheu a via do diálogo, da compreensão e da amizade. Nunca vi Edmund Ho dizer que a culpa disto e daquilo em Macau é da anterior administração. Nunca o ouvi dizer que a língua portuguesa é um "obstáculo" a esta ou aquela realização da RAEM. Nunca o vi virar as costas à nossa comunidade ou não aparecer ou ser representado nos nossos maiores eventos.
Há quem acuse Edmund Ho e o seu executivo de ajudar estes e aqueles, mas é preciso não esquecer que o Governo nunca se absteve de ajudar as instituições portuguesas nas horas de maior apuro. Mesmo a negociata do terreno da Escola Portuguesa, que ainda ninguém esclareceu, o problema foi resolvido com calma, sabedoria, e sem necessidade de recorrer a violências como se alguns ocupantes ilegais de barracas fossemos. Se há alguém que não tem razões de queixa da governação de Edmund Ho, é a comunidade portuguesa.
É claro que Macau não é só a comunidade portuguesa, aliás, 99% da população não é ou não se sente "comunidade portuguesa". Não vou julgar o desempenho de Edmund Ho em questões que dizem respeito à qualidade de vida da maioria da população, porque o meu julgamento está obstruído pelo sentimento de gratidão que tenho (e devíamos todos ter) com ele. Não vou exagerar afirmando que o CE é ou foi um príncipe perfeito, ou questionar a capacidade de julgamento de quem não se rende incondicionalmente às suas capacidades, como fazem alguns. Não me vou armar em personalidade importante que quer manifestar publicamente o seu agrado dando um "10" à governação do CE, ou manifestando o seu desagrado dando-lhe um "3". Que infantilidade tão grande.
Os resultados são discutíveis, mas não é difícil vaticinar que são sem dúvida positivos. Os números falam por si, toda a gente tem emprego, imenso dinheiro para gastar (mas por alguma razão não gasta), quem não tem casa "está a tratar-se do problema, e as conturbações do 1/5/2007 são uma memória distante. Existe uma esperança que a continuidade implementada no novo Executivo seja pelo menos mais sensível aos problemas que não estão resolvidos (saúde, diversificação da economia, alguns aspectos da segurança), e que continue aquilo que tem sido feito de bom.
PS: Hoje foi mesmo um daqueles dias cansativos em que não há vontade nenhuma de pegar no blogue. Fiquem atentos amanhã.
4 comentários:
Tomaram muitos países ter presidentes ou primeiros-ministros como Edmund Ho. Não é perfeito (ninguém o é), mas sempre mostrou uma postura humilde, assumindo que terá cometido erros e chegando ao ponto de pedir desculpa à população por isso. Uma postura bem diferente de outros, noutras áreas geográficas do globo, que sempre se limitaram a prejudicar a população que trabalha, tudo em nome das contas do país, e que, apesar da opressão sobre os trabalhadores, não só não conseguiram endireitar contas nenhumas, como ainda as agravaram e, apesar de tudo isso, sempre cairam na facilidade do auto-elogio, nunca tendo reconhecido qualquer erro da sua parte. Senhores que se julgam perfeitos, mas que, sem terem feito nada de útil pelos seus países, ainda atiraram milhares para a pobreza. Edmund Ho não fez nada disso, não se auto-elogiou e, se não conseguiu erradicar a pobreza, também não a agravou. Pode não ter feito muito, mas fez certamente melhor do que noventa e tal por cento dos recentes líderes de todo o mundo.
Muito bem dito.
não será que ficou chaeado com o comentários de alguém?
Até parece que o Leocardo virou sapo. Estará à espera do beijinho da princesa, eh?
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