domingo, 6 de julho de 2008

Verde que te quero verde ou Um sonho de uma tarde de Verão


Cestos cheios de alface velha, batatas cheias de olhos, cebolas moles e alhos tocados, sacos de plástico pretos e um cheiro nem sempre muito agradável, é o que por vezes nos calha cada vez que nos deslocamos a um dos muitos mercados municipais espalhados pelo território. E aquele odor inconfundível a penas e a merda que anuncia a chegada à secção das aves? E os banhos que por vezes se tomam ao passar pelas bancadas com peixe vivo? E as notas molhadas, cheias de escamas com um cheirete a tripas de peixe que por vezes recebemos de troco? É tudo muito natural, é o que seria de esperar. Mas e a alternativa?

Em Macau faz mesmo muita falta um supermercado como aqueles que existem em Portugal ou mesmo aqui ao lado, em Hong Kong. Qualquer coisa do tipo Carrefour ou Pão de Açucar. O mais parecido que temos é mesmo o Park’n’Shop, que apesar de nos garantir “frescura” e “preços imbatíveis”, fica muito a desejar nesses dois departamentos. Depois há o Hyper Gourmet, situado nos Jardins do Oceano, na Taipa, caríssimo por sinal, onde se podem comprar meia dúzia de folhas de alface vindas directamente de terras gaulesas (dizem) por quase 100 patacas. Não é para todos. Se os preços aí praticados já são o que são, a brincadeira ainda sai mais cara se tivermos a pouca sorte de regressar e encontrar uma multinha no pópó, já que em frente ao super ali no Ocean há praí apenas uns dois ou três lugares para estacionar.

Lembram-se dos gloriosos tempos do Welcome, ali ao lado do Edifício Hoi Fu? Era um ver se te avias entre a nossa comunidade, principalmente nos fins-de-semana, sempre com produtos de primeiríssima qualidade vindos directamente do rectângulo. Não era muito, mas sempre era o suficiente para gastar uma milena por visita semanal. Hoje é vê-los, os queijos moribundos, os fiambres acizentados, as carnes pálidas e um leque pouco vasto de escolhas. Houve aqui alguém que se deixou contagiar pela vulgaridade, e hoje o Welcome (e é preciso lembrar que já fecharam os da Horta e Costa, NAPE e o da Taipa parece que ia fechar também) não é melhor do que qualquer Royal ou San Miu que por aí andam.

Um amigo meu chinês que visitou Portugal no ano passado diz ter ficado maravilhado pela qualidade das batatas, a verdura das alfaces, o tamanho dos tomates (!?). Dizia-me que o solo português, aliado ao clima, era “muito bom”, e que na China “só crescia longan”. “E chá...”, acrescentei eu. Mas não é pedir muito, atendendo às modernas práticas de refrigeração e acondicionamento, que tivessemos por cá um pouco mais da frescura dos verdes, que não os do New Yaohan, onde se paga uma pequena fortuna por melancias quadradas do Japão ou tofu “golden” não-sei-do-quê ou morangos que custam dez patacas cada um. Às vezes penso que estes supermercados são um truque para enganar os turistas mais incautos (eufemismo para parvos). É que já provei alguns desses morangos milionários e não atingi o nirvana frutífero.

E depois que timidez é esta das multinacionais em virem para Macau? Onde anda a Sogo? A Marks & Spencer? A Subway Sandwiches? A Dunkin Donuts? A Burguer King? Já chega de 7-11’s a cada esquina. Ou será que é o preço do metro quadrado que também os intimida? E estes americanos, Deus meu. Depois de termos o tio Stanley durante quarenta anos a manter Macau no marasmo do completamente nada de novo e bom (e não me falem do jetfoil, queriam que os apostadores de Hong Kong viessem a nado?), estes também vieram, assobiaram para lado e levaram as pataquinhas em forma de dólar lá para a terra do Tio Sam.

Já sei, já sei, o consumidor local não está habituado a ao do bom e do melhor. Atira-se-lhe o pé para o chinelo de plástico que agora tanto se vê nesta época de chuvas. Abrir uma grande superfície onde se pudesse encontrar figos e morangos gregos, iogurtes da UCAL ou da Gresso, salsa e hortelã espanhola ou queijos de todo o mundo estaria condenado a uma falência lenta e dolorosa. Só me resta ficar de boca aberta como quando ontem fui a Hong Kong e deparei com uma panóplia de cores, cheiros e sabores. Quando a minha mulher perguntou “queres levar alguma coisa?” só tinha mesmo que responder: “pode ser...tudo?”.

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