quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Obrigado e volte sempre!


O cônsul-geral de Portugal na RAEM, Manuel Cansado de Carvalho, deu hoje uma recepção na sua residência oficial, no Hotel Bela Vista, com o objectivo de se despedir da comunidade que serviu nos últimos 3 anos. A missão deste diplomata chega assim ao seu termo, e o seu substituto, Vítor Sereno, chegará ao território no próximo dia 27 de Maio. A comunidade aderiu para se despedir de Cansado de Carvalho, desejou-lhe a melhor das sortes, e aproveitou para “molhar o bico” no pequeno lanche que o sr. Cônsul ofereceu, como é habitual nestes encontros. O clima foi de festa, e do lado do sr. Cônsul existe a sensação de dever cumprido.

Não é fácil analisar o trabalho do Cônsul-Geral de Portugal na RAEM. É um cargo que obedece a um protocolo estabelecido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, e por mais competente seja a forma que um diplomata desempenha esta função, não se perpetuará no cargo, e muito dificilmente ficará mais de três ou quatro anos no território. O primeiro cônsul que ocupou o Bela Vista foi Carlos Frota, que recentemente fixou residência na RAEM depois de se ter aposentado da carreira diplomática, e o segundo foi Pedro Moitinho de Almeida, que curiosamente permaneceu em Macau durante cerca de seis anos. Vítor Sereno será o quarto ocupante da Estrada do Tanque do Mainato, e certamente que teremos um quinto dentro de poucos anos.

A função do Cônsul-Geral passa sobretudo por representar o Estado Português, uma função que se reveste de maior importância quando se trata de Macau, o território “estrangeiro” onde existe a maior percentagem de “portugueses”. A maior parte da comunidade chinesa do território tem nacionalidade portuguesa, apesar da esmagadora maioria não falar português ou conhecer bem a cultura portuguesa. Para estes o Consulado Geral, situado na Rua Pedro Nolasco da Silva, no belíssimo edifício do antigo Hospital de S. Rafael, é o local “onde se tira o passaporte”, que é ainda um documento de viagem útil e oferece vantagens a quem queira estudar ou residir na Europa. Se há pelos menos uma coisas que os chineses de Macau respeitam de Portugal, é a nacionalidade. Portugal fez aqui uma bem sucedida operação de charme, trazendo estes portugueses ultramarinos para o seu regaço. Já os honconguenses não tiveram tanta sorte, pois os antigos senhorios britânicos não foram tão generosos ao ponto de lhes atribuir o passaporte de Sua Majestade.

Apesar desta componente “funcional” do Consulado Geral, a chegada de um novo Cônsul é sempre notícia para a comunidade portuguesa. Gostamos de pensar que é “um dos nossos”, e que vem para este cantinho do sul da China para nos servir – e já agora para travar amizade connosco, porque não? Quem não sente não é filho de boa gente, e não queremos um diplomata apenas “em serviço”, indiferente à realidade que o rodeia e à importância histórica que Macau tem para Portugal. Muitos esperam dos consules que por aqui passam que se interessem pelos nossos problemas, e que de uma forma ou outra tenham pelo menos uma palavra a dizer, mesmo sobre as incidências da vida política ou social do território, que no fundo também mexe com o dia-a-dia da comunidade. É compreensível que a posição do Cônsul seja muitas vezes neutra, e que se evite o choque com as estruturas que governam a RAEM, mesmo que por vezes nos dê uma certa sensação de indiferença ou frieza. Se há algo que os representantes da República que passaram por Macau têm feito bem é manter uma relação cordial com o Executivo local. Nunca é demais ouvir dos dirigentes locais palavras positivas sobre os portugueses que aqui vivem e trabalham, dando assim também um contributo válido para a construção e para o funcionamento do território. É uma relação de amizade que está bem e que se recomenda.

Do novo responsável consular espera-se então que continue na senda dos seus antecessores, reforçando os laços de amizade com a actual administração, sempre consciente de que a nossa presença secular é uma herança pesada, e que o cargo requer uma sensibilidade muito própria. Vamos esperar pela primeira oportunidade para lhes darmos as boas-vindas e desejar-lhe um bom trabalho, e isso deverá acontecer já no Dia de Portugal, a 10 de Junho, curiosamente logo duas semanas depois da sua chegada. Para Manuel Cansado de Carvalho desejo-lhe toda a sorte do mundo, e pessoalmente gostava de lhe agradecer. Foi o único até hoje a que apelei para a resolução de um problema relacionado com um pedido urgente renovação de passaporte, e atendeu-me com toda a simpatia e profissionalismo. Como sou um rapaz agradecido, não podia deixar de mencionar a forma prestável com que se dispôs a ajudar-me. Um abraço para si, meu caro. Leve saudades de Macau e volte sempre!

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