sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Grandolemos, mas com cuidado


O ministro Maquiavel Relvas adere à moda do "Grândola".

A crise em Portugal continua a estar na ordem do dia, e poucos conseguem disfarçar a insatisfação com as medidas de austeridade impostas pelo Governo de Passos Coelho, cujo executivo é visto como uma espécie de “bando de malfeitores”, uma corja. As asas que são dadas ao povo pela liberdade de expressão levam-no a manifestar o descontentamento sem que disso resultem dissabores ou se sofram retaliações (bem, depende…). Algumas dessas manifestações chegam a primar pela originalidade, enquanto outras são simplesmente descabidas, ou mero pretexto para cometer actos de vandalismo. A “moda” agora impedir os ministros do governo do PSD de falar em público ou à margem de eventos cantando “Grândola, vila morena”, o hino à liberdade da autoria de Zeca Afonso que serviu de senha aos militares que levaram a cabo a revolução que acabou com a ditadura, e permitiu que se exerçam as liberdades – mesmo desta forma pouco ortodoxa. Os ministros Miguel Relvas, o maior figurão do executivo de Passos Coelho, e Paulo de Macedo foram nos últimos dias vítimas desta espécie de protesto-cantado, e já ontem Vítor Gaspar escapou ao “Grândola” (dito assim parece o nome de um vírus) numa conferência sobre coesão e crescimento levada a cabo pelo PSD/Lisboa e realizada no Hotel Sana –muito por culpa do próprio PSD, que limitou a entrada a militantes e convidados, deixando de fora os indesejáveis “grandoleiros” (eh, eh). Como bom democrata, considero todas as formas de protesto válidas, desde que não façam uso da violência ou interfiram com a liberdade de outrém. O que se passa neste caso particular (além do evidente desrespeito pelos mais elementares princípios da boa educação) é exactamente isso mesmo: usa-se o protesto como forma de impedir outros de se expressarem. Chega a ser irónico que a canção que serviu de banda-sonora à chegada da liberdade, e com ela o exercício da livre expressão sirva agora para silenciar alguém, por muitas culpas que esse alguém tenha no cartório. Não foi para isto que o Zeca “grandulou”, meus amigos.

PS: O vídeo acima é cortesia da equipa que produz o "Contra Poder", o programa que marca o regresso à RTP do formato do "Contra Informação", que saíu do ar há dois anos. A nova série terá início a 5 de Março.

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