Aproveitei o feriado de hoje para fazer umas compras, e a última paragem foi no New Yaohan, onde aproveitei para comprar brinquedos para eventuais festas de aniversário que os miúdos sejam convidados. É muito mais fácil comprar brinquedos para os rapazes do que para as raparigas. Os rapazes contentam-se com uma porcaria qualquer, mas as chavalinhas e os respectivos papás têm “bom gosto”, e nunca se sabe que tipo de paneleirice as miúdas gostam, ou que está na moda, se é o My Little Poney, ou se a Barbie tem um chapéu novo, ou o c... .
No 5º andar do New Yaohan existe uma gama de brinquedos, dos mecânicos aos peluches, dos jogos de PlayStation aos puzzles (sempre uma boa escolha, torna as criança mais inteligentes), e sempre o último grito em termos de jogos ditos educativos vindos directamente de sistemas educativos do primeiro mundo” os “Scrabbles”, os “Trivial Persuits”, os “Monopólios”, mais os cubos mágicos e o camano. É um bocado deprimente observar que por muitos jogos educativos em língua inglesa que se vendam nas lojas de brinquedos, os miúdos de Macau não saibam falar inglês. Quer dizer, esqueçam lá o português um bocadinho. Era giro que a malta nova falasse pelo menos inglês qu’era p’ra gente comunicar um coche.
Voltando aos brinquedos, acho muita piada âquilo dos “tek-dek”, uns skates em miniatura que se podem coleccionar e os putos ficam ali entretidos com aquilo um bocado, a virar os skares, a mudar as rodas e tudo mais. E nem é caro. Também gosto dos dinossauros mecânicos (agora também há pandas), que ficam sempre bem numa secretária no escritório de casa, ou no quarto dos miúdos. É algo mais estético e decorativo, e normalmente é um investimento interessante. Fico no entanto um pouco apreensivo quando ainda se vendem nestas lojas brinquedos de guerra e pistolas de plástico.
Quando era miúdo e o meu pai me levava aos armazéns do Grandela em Lisboa no Natal, comprava mil e um jogos e brinquedos maravilhosos. Gostava muito daqueles soldadinhos de plástico, que vinham com diferentes tipos de armamento, tanques, bazucas, e atá bandeirinhas para depois colocar no terreno do inimigo derrotado. Brincava ainda com pistolas de fulminantes (aquele cheiro a pólvora...), e ainda me lembro de pregar uns valentes sustos na minha vizinha, quando lhe tocava à campainha e “dava-lhe um tiro” logo que ela abria a porta. Tinha uma pistola de “laser” que fazia barulhos “espaciais” com que “fritava” os meus inimigos (os outros miúdos do bairro), era tão giro. Penso que naquele tempo ainda era inofensivo, e nos finais dos anos 70 era bom estar sempre preparado, não fosse dez anos depois estoirar a III Guerra Mundial.
Mas já crescidinho e em tempos de paz relativa, aprendi que os brinquedos de guerra são não só perigosos, mas também uma parvoíce. Nos dias que correm, quanto menos os miúdos souberem o que é uma pistola, uma caçadeira ou um lança-mísseis, melhor. O mundo já é tão violento, e todos os dias somos bombardeados com notícias de que fulano matou, fulana mandou matar, favelas do Rio de Janeiro, cartéis de droga no México, já enjoa. Era o que faltava que ainda andassem os putos a correr pela casa a disparar uns contra os outros e a gritar “morreste!”, e a discutir se matou ou não, não há pachorra.
Não comprem brinquedos de guerra, armas de plástico e esse tipo de merdas aos vosos filhos. Não dêem ouvidos aos pais que dizem que “é natural”, ou outros que dizem que “tomando contacto com isto desde novos, cansam-se depressa e quando forem grandes não querem”, teorias educacionais recolhidas na Universidade da Merdónia, e publicadas em revistas do Círculo de Leitores. Brinquedos de guerra, simplesmente, não. Quanto muito podem-se coleccionar aqueles modelos de aviões de guerra, que a modelagem é uma coisa que entretém, e fica difícil aos adolescentes adquirirem um MIG-42 Foxglove no Wallmart perto da escola.
Também não acho muita piada aos jogos de guerra para a PlayStation, especialmente os da escola do "Grand Theft Auto", em que os miúdos se põem aos berros com disparates do tipo "só tenho duas vidas", ou "se rebentares com não-sei-o-quê ganhas um bónus", e que acabam irremediavelmente com um "já morri". Mesmo assim é melhor os piolhos andarem ali a apertar uma consola do que apertar um gatilho. Além disso ainda não têm idade para entrar nos tais salões de jogos, esses sim, verdadeiros antros de vício onde delinquentes de cabelo pintado vou para "matar um bocado".
Quando insisto com a minha mulher em não comprar brinquedos de guerra, ela diz-me que o colega da minha filha tem aquela pistola que dispara bolinhas de plástico, e “é o melhor aluno da turma”. Pois, até um dia quando tiver 20 anos, passar-se dos carretos e entrar na sua Universidade com uma caçadeira de canos serrados e brincar às “bolinhas de plástico”. Só que depois não são de plástico.