Foto: Conversas entre a malta (Facebook)
O tema que anda nas bocas do mundo em Macau estes dias é sem dúvida o caos que se verificou durante a semana do Ano Novo Chinês, com centenas de milhares de turistas a “entupir” o território, tornando a vida mais complicada a residentes, e mesmo aos próprios visitantes, que dificilmente terão achado a situação divertida, ou até mesmo normal. Macau recebeu 1,2 milhões de visitantes nos últimos dez dias – mais que o dobro da população local – e foi no centro comercial e histórico da cidade que mais se notou a sobrelotação. A semana dourada ficou marcada por vários episódios caricatos, que levaram a que se abrisse a discussão: terá Macau capacidade para receber tantos visitantes? A cidade chega para todos ou será necessário repensar estratégias? Depois de escutar e ler as mais diversas opiniões, eis o que eu penso.
A resposta é clara: não, Macau não tem capacidade para receber mais de um milhão de visitantes em tão poucos dias. É de salutar que tantos turistas queiram visitar o território, é óptimo para o comércio, mas torna-se urgente que existam meios para acomodar os visitantes. Deixar entrar sem mais nem menos e depois “que se desenraquem” não se aceita. Macau não tem dois ou três andares de rua, e as pessoas não são automóveis que se podem “estacionar” em meia dúzia de metros quadrados sem chatear ninguém. O alojamento foi outra dor de cabeça, e chegou-se ao ponto de ter turistas a acampar (!) em Hac-Sá por não terem conseguido reservar um quarto ou encontrar acomodação de acordo com as suas possibilidades financeiras. Assim não dá. Agora acampam na praia, qualquer dia acampam no meio do Largo do Senado.
Não posso concordar com as afirmações da directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, quando esta diz que a época “não deve servir para avaliar a capacidade do território”. Se não vamos avaliar agora essa capacidade, quando é posta à prova, quando é que o vamos fazer? Quando não vier ninguém? É no limite que se testam as capacidades, e não nos podemos desculpar com situações de “excepção”. Foi o primeiro grande teste para a sra. Directora, explicar esta caótica situação. Quero acreditar que com mais alguma dose de experiência fará melhor da próxima vez. De resto as opiniões são quase unânimes: foi um verdadeiro inferno, a circulação nas principais ruas da cidade nos últimos dias.
Dois episódios mereceram destaque especial no meio de toda esta confusão. Na noite de terça-feira a fronteira das Portas do Cerco registou uma afluência anormal, com cerca de 300 mil pessoas a tentar passar para o continente. Nem a acção policial conseguiu conter a loucura, com milhares de turistas impacientes a furar as barreiras que as autoridades improvisaram para evitar o impossível. Já se justifica que as fronteiras estejam abertas 24 horas. Por muito que isso possa ferir a identidade de Macau e tudo mais, o afluxo de pessoas para um e outro lado da fronteira decorreria muito melhor com a fronteira a funcionar a tempo inteiro. Se isto já não acontece – e não será por falta devontade do Governo central – será apenas por interesse de alguns empresários locais, nomeadamente os do sector do imobiliário, que ainda não conseguiram vender todas as fracções.
Outro problema foi o inflacionamento no sector da restauração, justificado pelo facto dos proprietários dos restaurantes precisarem de pagar o triplo aos seus funcionários durante os feriados obrigatórios. Para já esta lei é muitas vezes contornada, especialmente no caso dos trabalhadores não-residentes: se não vão trabalhar são despedidos, com ou sem pagamento suplementar. E depois porque recai esta despesa suplementar no consumidor? Não terão os restauradores lucro suficiente, ainda para mais nestes dias em que o volume de negócio justifica ter a porta aberta. Isto só fazia sentido se oferecessem descontos quando têm lucro suplementar, o que obviamente não acontece. É mais uma daquelas “tipicidades” de Macau, que para ser sincero, já começam a enjoar.
Eu próprio aproveitei os feriados do Ano Novo para me remeter a um isolamento sabático, evitando sair de casa a não ser para o estritamente necessário. Contudo na quarta-feira à tarde precisei de me deslocar ao centro por motivos de força maior, e foi impossível circular naquele segmento de via pública entre os Correios e o BNU – uma verdadeira loucura. Muitos residentes se queixaram do mesmo, e muitos atribuem as culpas aos turistas da China continental, a maioria dos visitantes durante este período. Não concordo com este tipo de ressentimento, chamesmo-lhe assim. São estas pessoas que vêm contribuir para a saúde da nossa economia, e temos a obrigação de os receber bem. Mas no actual estado de coisas, isso torna-se difícil. Cabe apenas às entidades competetentes apretechar Macau de forma a que situações como as da semana que agora termina não se repitam.
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