sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O país esquecido


Gostava de destacar um artigo publicado esta semana no Hoje Macau, da autoria do meu colega Carlos M. Cordeiro, e que aborda a desertificação do interior de Portugal. Um tema que me é querido, este do êxodo da população do interior para o litoral português. As consequências são por demais evidentes. Temos um país desenvolvido segundo os padrões europeus e mundiais junto da costa atlântica, e um mole de gente empobrecida e esquecida no interior, onde há ainda muita gente que nunca viu o mar. Os distritos de Bragança, Guarda e Portalegre, bem como a maior parte do Alentejo são o melhor exemplo disso: menos de um milhão de pessoas entre dez milhões de portugueses populam esta faixa de território que ocupa um sexto do território nacional. Fazia todo o sentido durante os anos 60 ou 70 que se registasse uma migração da província para as grandes metrópoles, mas não se justifica que esta tendência se verifique quase 40 anos após o evento da democracia, que deveria significar equalidade. É preocupante que as populações periféricas continuem a abandonar a esperança de um futuro melhor, pelo simples facto da sua geografia os colocar longe dos polos económicos de Portugal, e até de Espanha, onde se encontram a um passo da fronteira. É utópico esperar que se arregaçem as mangas e sque se invista num território onde não existe um potencial económico que justifique o investimento, e o atraso estrutural é endémico; é uma empreitada difícil que não chega a ser considerada um desafio. Sobram os resistentes, e depois deles o deserto. É um cenário com contornos menos românticos que a obra imortal de Júlio Dinis, "Serões da Província". É uma dura realidade.

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