sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ídolo com pés de carbono (é pena)


Oscar Pistorius chora em tribunal após primeira audiência sobre acusação de homicídio premeditado.

Oscar Pistorius, o multi-campeão para-olímpico, é o principal suspeito do homicídio da sua namorada, a modelo Reeva Steenkamp, que foi assassinada com quatro tiros de arma de fogo na madrugada do Dia dos Namorados. Uma tragédia. As primeiras notícias davam a entender que se tratou de um acidente, e que Pistorius confundiu a namorada com um assaltante. Dado que ambos são sul-africanos e a África do Sul é um país minado de criminalidade, seria uma justificação credível, mesmo que infeliz. No rescaldo ficou-se a saber que o casal tinha um passado conflituoso, e a tese de acidente poderá ser descartada. É bem possível que Pistorius tenha morto a namorada intencionalmente. É pena...

Pistorius é uma figura que nos diz muito. Amputado dos joelhos para baixo desde os 11 meses de idade devido a um defeito congénito, o sul-africano superou a deficiência através da prática desportiva, e ainda adolescente adaptou uma prótese de ligas de carbon que lhe permitiram ganhar seis medalhas de ouro nos “Special Olympics”. Nos últimos Jogos Olímpicos de Verão em Londres conquistou o direito de competir entre os “normais”, uma decisão polémica, pois alguns competidores consideravam que as próteses serviriam como uma vantagem para o atleta. Apesar disso Pistorius ficou pelas meias-finais da prova dos 400 metros, tendo participado da final dos 400 metros estafeta. Independente dos resultados, ficou o exemplo de coragem e resiliência de um atleta que nunca deixou que o infortúnio que o acompanhou desde a nascença se colocasse no caminho dos seus objectivos. Um verdadeiro herói. Outra vez, é pena.

Não sabemos os detalhes da vida privada de Pistorius, ou até que ponto a sua namorada – outra vez, uma modelo – lhe seria fiel ou se o trataria como um homem normal. Tivemos há alguns anos o exemplo de Tiger Woods, alguém completamente insuspeito e conhecido apenas pelas suas vitórias e patrocínios milionários que afinal era um adúltero sem vergonha. É difícil separar a imagem do campeão da imagem do homem. Gostariamos de pensar que Pistorius é inocente, pois custa-nos aceitar que alguém tão corajoso e empenhado na luta contra a adversidade seja na verdade um comum criminoso. É da natureza humana acreditar em contos de fadas, afinal. Mais uma vez: é pena.

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