quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Estou fora de moda! (E o Arcebispo da Cantuária também)


O mundo está em constante mudança, o caminho é para a frente e tudo começa a acontecer demasiado depressa. O que era impensável há ainda poucos anos começa agora a materializar-se, e parecem não existir obstáculos inultrapassáveis. O engenho humano é capaz das mais incríveis empreitadas, e começo mesmo a pensar que a nossa geração é a mais progressista de toda a História. Somos espectadores privilegiados da nova ordem, e depois de nós nada será como antes. Isto tudo a propósito do quê? Saíu a nova geração de smart-phones? Ainda não. Os iranianos mandaram um macaco para o espaço? É verdade, mas não importa. Os ingleses aprovaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sim, os ingleses. Surpresa? Não, e até já vão tarde.

Em breve será possível a um bife contraír matrimónio com outro bife, e uma bifa com outra bifa. Já não precisarão de casar aos pares, os bifes. A respeitável “House of Commons” britânica aprovou a moção por uma respitável maioria (400 a favor e 175 contra), e vai ser difícil voltar atrás. O Arcebispo da Cantuária (o orginal, não o "blogger" português João Moreira de Sá), líder espiritual de 80 milhões de anglicanos, vai ficar a pregar para os peixinhos. O casamento gay na Inglaterra e em Gales espera agora apenas pela legislação, que deverá ficar terminada ainda antes do Verão. Elton John e o seu companheiro David Furnish deixarão de ser notícia cada vez que ostentam a sua bichanice.

O Reino Unido é apenas, e pasme-se, o 9º país europeu a aderir a esta nova modalidade de matrimónio, e ainda por cima depois de Portugal! Esperava-se mais de um país que esteve sempre na linha da frente das tendências mais progressistas. Como é que o país que deu ao mundo a mini-saia se deixou atrasar tanto neste departamento? Os mais conservadores perdem agora um importante aliado: se os ingleses embarcaram na moda do casamento gay, o resto mundo que se cuide. O mundo civilizado vai-se lentamente rendendo à tendência, e é inevitável que a própria Igreja reconsidere a sua posição. São os tempos modernos que se sobrepõem a qualquer convicção e desafiam as próprias instituições.

E aqui em Macau, como vai ser? O casamento gay ainda não chegou a nenhum país asiático, e os activistas “cor-de-rosa” deverão estar à espera que o Japão tome a iniciativa – e não deve faltar muito. Aqui ao lado, em Hong Kong, existe um lobby gay significativo, e já se fala mesmo numa proposta no sentido de oficializar as uniões entre pessoas do mesmo sexo, ainda que timidamente. Deste lado duvido que esta seja uma realidade no horizonte, e a Conservatória do Registo Civil de Macau não terá que enfrentar este problema pelo menos até que a China dê o primeiro passo, o que se adivinha complicado. Mesmo que Hong Kong desafie a mãe-pátria e vá em frente.

É complicado aceitar que o casamento entre pessoas do mesmo sexo seja considerado uma coisa “normal”, como os grupos que o apoiam querem dar a entender. Mas basta recuar um século e perceber que outros direitos semelhantes foram adquiridos, como o voto das mulheres, o divórcio ou o aborto. O casamento gay é apenas a primeira grande “batalha” do século XXI. Não aceito nem nunca aceitarei, mas depois de ser devolvido ao pó, a minha opinião deixa de valer, e as novas gerações ditarão as regras do jogo. E o mais provável é que para eles isto seja mesmo “normal”, e os “retrógrados” como eu, o Papa, o Arcebispo da Cantuária e muitos outros sejam apenas parte do passado. Uma mancha no progresso. Epá, e que progresso!

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