segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Barba & Cabelo


Cortar o cabelo, aí está uma necessidade básica que chega a ser um enfado. Não me apetece perder quase uma hora no cabeleireiro, sentado e imóvel, enquanto alguém vai lentamente removendo as madeixas rebeldes que ganham um comprimento inaceitável com o passar das semanas. Quase que me deixo dormir, e o ambiente dos salões também não ajudam muito: praticamente só se ouve o som de tesouras, secadores e chuveiros. Como fui abençoado com um cabelo farto e sou completamente imune a uma indesejada calvície, o meu cabelo cresce rapidamente além dos limites do aceitável, e depois de dois meses assemelha-se a um ninho de andorinha. É um mal necessário em nome da estética, enfim.

Não será esta a melhor altura de abordar este assunto, agora que durante o Ano Novo os preços dos salões de cabelereiro duplicaram, e em alguns casos triplicaram. Mas durante o resto do ano, pelo menos, ninguém se livra de deixar uma nota de cem no “baeta” – no caso das mulheres umas três ou quatro, ou mais, dependendo do serviço. Tal como nas idas à casa-de-banho, as mulheres demoram mais no cabeleireiro. Não porque tenham um cabelo mais complicado que os homens, mas um macho que se preze quer entrar, ser tosquiado e sair o mais rapidamente possível, sem muita mariquice.

A comunidade portuguesa debate-se com enormes dificuldades de comunicação, pois não existem cabeleireiros que falem português em Macau, e com excepção dos filipinos, poucos falam inglês. No caso dos homens basta aprender uma ou duas palavras, como “tüen”, que significa “curto” (diz-se como o inglês “tune”, mas com mais ênfase no “u”), mas no caso das mulheres as coisas complicam-se. É curioso que nenhum cabeleireiro ou barbeiro português se lembre de vir exercer a sua profissão em Macau. Não faltariam clientes com toda a certeza. Será que a crise não os atingiu? Era interessante ter por cá um barbeiro português, daqueles que começa as conversas com “então e o nosso Sporting?”. O barbeiro é uma espécie de psicólogo dos pobres, um “compincha” de tesoura na mão.

As senhoras portuguesas que requeiram um tratamento mais elaborado terão que levar um tradutor, pois dificilmente conseguirão explicar ao chinês do salão o que querem de entre as mil e uma opções de penteados, permanentes, colorações e o diabo a sete. E não basta dizer o que querem; tem que se deixar claro também como querem. Os fins-de-semana são sempre o período crítico, e é normal encontrar nos salões senhoras chinesas de certa idade que não se importam de passar uma tarde inteira de Sábado com um “capacete” e rolos na cabeça. Chega mesmo a ser uma das poucas ocasiões em que convivem com outro ser humano.

O tempo que requer um corte de cabelo torna uma eventual espera completamente proibitiva. Se está uma ou mais pessoas à minha frente, desisto e volto noutro dia. Para evitar este problema, chego a acordar cedo no Sábado para ser o primeiro freguês no meu salão de eleição (já agora permitam-me a publicidade: salão Blossom, Rua de S. Lourenço, nº 36-38). Não há nada pior que perder horas de vida à espera de um corte de cabelo, e as deprimentes (sempre deprimentes…) revistas existentes nesses salões não chegam a ser uma opção de leitura.

Quem tem a sorte de ter uma esposa com jeito para a tesourada e um cabelo mais maleável não precisa de passar por este enfadonho processo que requer tempo, paciência e oportunidade, tudo em nome da estética e da higiene. E por falar nisso, estou a precisar de um corte mais ou menos urgente. Por enquanto vou adiando a ida, ao mesmo tempo que vou ganhando coragem. É preciso coragem…

1 comentário:

Anónimo disse...

então e o nosso Benfica?”Eu saia logo da barbearia.