A venezuelana Gabriela Isler é a nova Miss Universo, após mais um destes leilões de chicha ao quilo, que desta vez teve como palco a Rússia. Em primeiro lugar gostava de denunciar a presunção deste concurso que s auto-intitula "Miss Universo". Como é que se pode falar de "universo" se as únicas concorrentes são do planeta Terra? E os restantes planetas do sistema solar? E das outras galaxias? Onde páram as famosas venusianas? Ah, bem...
Posto isto, tenho reparado que nestes concursos de beleza as vencedoras, damas-de-honor, finalistas e tudo mais são sempre dos mesmos países. Não sei quantas vezes a Miss Venezuela venceu este concurso, mas tenho a certeza que não foi a primeira vez. Das candidatas normalmente apuradas para as fases decisivas, raramente ficam de fora as dos Estados Unidos, das Filipinas, do Brasil, da Austrália, da India, e claro, da Venezuela. A tendência é para que a vencedora seja originária do continente asiático ou americano, e pelo menos uma Africana é contemplada com um lugar no pódio, ou com o prémio de miss fotogenia, tudo em nome do politicamente correcto. Curiosamente este ano esse prémio foi para a Miss Polónia. Vá lá, que deram um docinho às menosprezadas mulheres europeias.
As candidatas, jovens na casa dos 20 mas sempre com menos de 25 desfilam as pernas de metro e meio em fato-de-banho, exibindo o sorriso de plástico, o cabelo passado a ferro e a maquilhagem que lhes confere uma feição muito diferente da que Deus lhes deu. A fase mais deprimente é a das perguntas, quando o apresentador entrevista as candidatas. Se a pergunta é "o que pensa fazer na condição de Miss Universo, caso conquiste o título", debitam sempre um chorrilho de momices sem sentido mas que caem sempre bem, desde que incluam boas intenções do tipo "ajudar os mais pobres", "educação gratuita para as crianças", "apoio às mulheres oprimidas". Se a pergunta é sobre cultura geral e a resposta não foi previamente estudada, arrisca-se a entrar para o vasto museu de calinadas das misses.
Chega a fase decisiva, com as últimas seis finalistas. Elege-se a miss fotogenia e a miss simpatia, e estas duas aceitam o prémio com um sorriso amarelo, pois sabem que desta taluda só levam a terminação. Das outras quatro escolhem-se as duas damas, as vice, que idem idem, aspas aspas, ficam a ranger o pepsodent sem perder a compostura, pois já sabem que perderam. Sobram duas, e quando é anunciada a vencedora, esta leva as mãos ao rosto de espanto, chora uma lágrima de crocodilo e dois minutos depois está novamente com expressão de manequim à espera da coroa. A que sobra bate umas palmas surdas, mantém uma expressão sorridente, mas lá dentro está a pensar da rival: "que grande puta...deu a volta painel de juízes inteiro e convenceu-os com golpes de rata". Beija a feliz vencedora, mas o que lhe dá vontade é de lhe arrancar uma bochecha à dentada.
Não tenho nada contra estes concursos "per si", e a bitola de que são "humilhantes para a condição feminina" para mim não passa de papo lésbico. O que parece mais que evidente e irrita sempre seja em que tipo de evento for é a politização da coisa. Alguém me vai convencer que o sucesso da Venezuela não tem nada a ver com o facto deste ser o maior produtor de petróleo dos países a concurso? A miss Arábia Saudita, sem burka e com as virilhas depiladas seria uma fortíssima candidate. A Miss Portugal, por exemplo, nem vê-la. Porquê, mas porquê em tantos anos nem uma menção honrosa para as nossas misses, como dão ao Manoel de Oliveira nos festivais de cinema. Os concursos internacionais de beleza conseguem ferir-nos ainda mais no orgulho que o Festival da Eurovisão.
Mas falando de beleza, nestes concursos esse conceito sofre de uma grande dose de relatividade. Quando eu era miúdo e assistia ao concurso de Miss Portugal - porque só existiam dois canais e à hora que as misses passavam no primeiro o segundo já tinha terminado a sua transmissão - ficava sem entender os critérios. Pensava então com os meus botões: como é que estas gajas são o melhor que temos en matéria de beleza no nosso país, se aqui no bairro conheço pelo menos três garinas que dão de mil nestas? Afinal é preciso ter um nível de educação superior, ou pelo menos estar a caminho, falar não sei quantas línguas, ter mais de um e setenta e passar pelo teste das apalpadelas por parte dos representantes dos patrocinadores do concurso. Não é uma competição para se escolher a mulher mais bonita, enfim. A que ganha é apenas "o melhor que se pode arranjar".
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