Cheong Ü (este "u" lê-se "you", como em "f*** you") é actualmente o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura do III Executivo da RAEM, vulgo Macau pós-1999. Cheong Ü, que era um virtual desconhecido, foi indigitado para comissário para a corrupção em 20 de Dezembro de 1999, dia em que a tropa terminou o contrato de arrendamento desta loja e partiu para a tuga com os móveis de pau-rosa, os quadros, as pratas e os vasos
ming enfiados no contentor que mais tarde desaguou no cais de Alcântara. Bon voyage. Cheong Ü foi a figura de proa do CCAC durante dez anos, durante o consulado de Edmund Ho, e a vida corria-lhe às mil maravilhas até Dezembro de 2006, altura em que mandou prender Ao Man Long, um dos seus "pang-yaos" que se atreveu a juntar um pé-de-meia à revelia dos outros sócios, e que a malta de Hong Kong "tramou" ao fazer queixinhas a Pequim,. Os mandarins não acharam graça nenhuma à iniciativa privada do ex-secretário das Obras Públicas e Transportes, e mandaram os súbditos em Macau cortarem-lhe uma orelha e atirá-lo às formigas amarelas. Não existindoa menção de semelhante punição na Lei Básica, aplicaram-lhe o castigo mais parecido, e premiaram o engº Ao com uma estadia de 27 anos no Hotel Coloane. No dia em que prenderam o exmo. sr. dr. engº, Cheong Ü apareceu na televisão a anunciar a captura com olhos de cachorrinho morto, que até parecia que lhe tinha morrido a mãe. Era mesmo possível notar a voz tremida e o tom afectado, que até parecia que ia começar a chorar.
Dez anos à frente do CCAC, que levaram o bom Cheong Ü a andar de cabeça baixa na rua para não cumprimentar os restantes sócios da SARL da RAEM com medo de ser mal interpretado, valeram-lhe um prémio. Como em Macau os dirigentes nunca são despromovidos ou aposentados, mas promovidos ou transferidos para um cargo de igual importância, Cheong Ü foi para a secretaria dos Assuntos Sociais e Cultura, onde estava antes o grande Pow Wow Chui, que neste tabuleiro de xadrez fez uma "dama" e chegou ao posto mais alto, o de Chefe do Executivo. O homem que antes tinha a função de prender os mauzões e os corruptos, ia agora tratar da saúde dos residents, encarregar-se do turismo e organizar as festarolas: o festivais de música, de artes, da Lusofonia, e do Grande Prémio. Ah sim, e se sobrar algum tempo, dos pobrezinhos, dos velhinhos, das mães solteiras e dos malandros dos drogados, que pertencem na prisão, os bandidos. Para o seu lugar no CCAC foi Vasco Fong, que se destacou pelo seu exímio desempenho nas eleições legislativas de 2009, onde ficou célebre pela recontagem dos votos nulos - uma iniciativa que fez escola e foi repetida em Setembro último - e pela divulgação dos primeiros resultados várias horas depois do encerramento das urnas. Ai tu és isso? Ento vai para o CCAC. Cheong Ü passou-lhe a batata quente e disse "estás tu!", como no jogo da apanhada.
Cheong Ü tem um ar de bonacheirão. Lembra-me o xerife Rosco da sé "Dukes of Hazzard", ou em português, "Os três duques". Não quero ofender o exmo. sr. secretário e ir ao ponto de dizer que tem um ar obstipado, ou de beberrão militante, até porque o secretário fala português, e não se inibe de demonstrar os seus conhecimentos da língua de Camões para a malta da imprensa. Em vésperas deste Festival da Lusofonia que terminou no Domingo, Cheong Ü convidou a malta a ir lá dar um pulo - e nem precisava - e disse que ele próprio ia lá estar, a comer, a beber, e a dançar! A jornalista portuguesa perguntou-lhe se "sabia dançar", ao que ele respondeu "eu? uh uh...uh uh...eu sei dançar, ah? uh uh...uh uh". Levei a sério esta ameaça, levei comigo o colírio para os olhos, mas não o vi a dançar. Nem o vi, de todo. Alguém viu? Nas palavras do êxito de Bob Dylan, "has anybody seen my love?". Se calhar esteve lá, foi mais cedo, quando não estava ainda muita gente e por isso era fácil justificar porque não conseguiu um par para dançar com ele.
Agora chega o Grande Prémio, outra das jóias da coroa da tutela do sr. secretário. Quer dizer, o que são os asilos, os deficientes, a falta de um hospital público, de mais jardins de infância ou de creches comparados com o maior cartaz turístico do território, o Grande Prémio? Ainda por cima a 60ª edição, e em dois fins-de-semana em vez de um? Se fim-de-semana de Grande Prémio incomoda muita gente, dois fins-de-semana de Grande Prémio incomodam muito mais. Cientes da efeméride e destes números redondos, a malta da Administração ouviu dizer por aí que ia haver tolerância de ponto. Primeiro ouvi falar de dois dias, 14 e 15, e depois afinal era apenas a tarde de sexta, mas não, nada disso: Cheong Ü diz que não vai haver tolerância nenhuma. Vão trabalhar, seus malandros. Quer dizer, não me levem a mal, eu até nem me importo de ir trabalhar, que é para isso que me pagam. Mas a malta queria ir festejar, assinalar o sexagésimo GP de Macau. Só queriamos ir lá para comer...beber...e dançar, oh oh oh, dançar para o meio da pista, oh, oh, oh...
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