quarta-feira, 12 de junho de 2013

Todos os santinhos


O meu "vizinho", Santo António

Hoje é dia 12 de Junho, feriado em Macau e em Lisboa, mas por razões diferentes. Em Macau comemora-se o Barco Dragão, que como dia de folga é sempre bem-vindo (o próximo feriado é só em Outubro!), mas que a nós portugueses não nos diz muito. Em Lisboa é dia de Santo António, o primeiro da trindade junina dos santos populares que prossegue no dia 24 com S. João, e termina dia 29 com S. Pedro. Santo António diz-nos muito a nós portugueses, pois era nosso compatriota. Nasceu Fernando Martins Bulhões em Lisboa e morreu em Pádua, na Itália, aos 35 anos. Foi um dos primeiros santos da Igreja Católica, e é conhecido pelo patrono das pessoas perdidas, mas conhecido sobretudo pela sua faceta de “casamenteiro”. Todos os anos neste dia são muitos os casais que dão o nó em homenagem ao bom franciscano, cumprindo uma tradição antiga. Em Macau Santo António dá nome a uma freguesia e a Igreja a ele dedicada fica mesmo aqui ao pé de casa, em frente ao Jardim Camões (é um luxo ter Camões e Santo António como vizinhos). Tinha um amigo macaense que teimava comigo que Santo António “esteve em Macau”. A teimosia era tanta que de nada valeu explicar que os portugueses chegaram pela primeira vez a Macau mais de 300 anos depois da morte do mártir. Cada um acredita no que quiser, enfim.

Para os lisboetas festejar o Santo António é uma ocasião especial. Apesar dos cortes a que os portugueses se sujeitaram em nome da penosa mas necessária austeridade e dos malabarismos do actual Governo com o fim dos feriados, ninguém ousou mexer com o Santo António de Lisboa. Os alfacinhas nunca iriam admitir o sacrilégio. Apesar de ter nascido em Lisboa, vivi sempre no Montijo, onde o padroeiro é S. Pedro. Não me identifico com a festa lisboeta, cujas marchas populares onde compete os bairros antigos faz lembrar um Carnaval do Rio em ponto pequeno e menos cosmopolita. Além disso não me agrada o ambiente populista um tanto ou quanto vulgar das marchas. Deve ser devido à presença assídua da Rita Ribeiro, Wanda Stuart, João Baião, Carlos Quintas, Miguel Dias e outros conhecidos “artistas” que personificam a “loucura” da noite santo-antonina (será assim?), muito “castiça” e não sei quê. Perdoem-me os adeptos da festa, mas quando penso na noite de Santo António imagino facada no Bairro Alto, varinas ao estalo por causa do marido bêbado de uma delas que se fez à outra, adolescentes engravidadas pelo vizinho do lado de que é amigo de infância, calçadas tortas com lençois pendurados na janela, sei lá, a mim não me diz muito. Outra vez: há quem goste e eu respeito.

Mas se há algo que é comum aos santos populares é a alegria do povo, e isso é sempre bonito de se ver. O clima de Junho é provavelmente o mais agradável de todo o ano (especialmente à noite), as aulas terminam, o calor e o calendário de festas leva a que as pessoas encarem a vida de forma mais positiva e deixem o piloto-automático no modo “diversão”. O ar que se respira mistura-se com o fumo das sardinhas, e além destas entram na ementa as febras, o chouriço assado, os couratos, a entremeada e o tinto “lá da adega”. É tão delicioso que custa a acreditar que ainda é barato. Se fosse possível organizar o tempo de modo a trabalhar que nem um mouro de Setembro até ao fim de Maio e depois passar os três meses do Verão na farra seria perfeito. É o ambiente ideal para gozar a vida, e já agora, e se sobrar tempo, pedir ajuda aos santinhos. É isto que a malta da Troika e os alemães nunca vão entender. A sra. Merkel nunca se enfrascou na água-pé, nunca bateu com martelinhos de plástico no S. João, não sabe o que é acampar no INATEL da Costa da Caparica ou ir trabalhar para o bronze no Meco. Podem ser ricos e tal, mas serão realmente felizes? Nós somos e só nós é que sabemos porquê. Vivam os santos populares!

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