quarta-feira, 19 de junho de 2013

O outro Brasil (há vida além do futebol)


This is not the Lambada, gringo

O mundial de futebol de 2014 vai realizar-se no Brasil, como se sabe, pela segunda vez na História. A primeira vez que o nosso país irmão recebeu a maior competição do desporto-rei foi em 1950, e que teve uma final triste para os adeptos canarinhos, reconhecidos mundialmente como os maiores adeptos da bola, bem como os seus artistas mais talentosos. Há 63 anos o título mundial discutia-se numa ronda de quatro finalistas, e depois de derrotar a Suécia e a Espanha, bastava ao escrete um empate frente ao vizinho Uruguai para garantir que a copa ficava em casa, e o Brasil se sagraria pela primeira vez campeão do desporto que os ingleses inventaram, mas que eles embelezeram. No dia da final os jornais traziam a fotografia da equipa brasileira e lia-se em letras garrafais: “Eis os novos campeões do mundo”. Os festejos antecipados faziam-se em toda a parte, e eram teoricamente justificados. Bastando um empate no recém-inaugurado Maracanã com 200 mil gargantas a puxar pela equipa, só podia dar certo. O jogo era apenas uma formalidade. Mas os uruguaios tinham outros planos, e apesar de chegarem ao intervalo em desvantagem, levaram a cabo uma reviravolta épica, vencendo por 2-1 e levando o título para o Uruguai pela segunda vez. No Brasil foi a desilusão, choros de desespero, consternação generalizada, e até suicídios em massa! Foi preciso esperar que Pelé e companhia conquistassem três títulos para que o escrete recuperasse a sua arrogância que teimam em não disfarçar. A confiança para o mundial do próximo ano é muita, e poucos querem a repetição daquele fatídico dia em 1950.

O Brasil está de novo em alvoroço por causa da copa, mas por razões diferentes. Milhares de brasileiros têm saído à rua nos últimos dias em protesto pelo despesismo que representa a organização do mundial. A FIFA concedeu a organização da copa ao Brasil em 2008, fazendo a festa do futebol regressar à América do Sul pela primeira vez desde 1978, ano em que se disputou na Argentina do ditador Videla. Mas como organizar uma competição desta natureza passa por muito mais do que jogar dentro das quatro linhas, a FIFA exigiu que o país do futebol se equipasse de infra-estruturas muito mais modernas e dispendiosas que da organização do longínquo ano de 1950. Em nome do desporto que amam, os brasileiros meteram mãos à obra, e propuseram-se a oferecer 10 estádios com condições para receber as 32 selecções que disputam o troféu no país do samba, bem como reforçar o aspecto da segurança, uma das maiores preocupações dos visitantes. Decorre no Brasil desde Sábado a Taça das Confederações, o torneio intercontinental entre as selecções campeãs das suas confederações que se realiza habitualmente no país organizador do próximo mundial no ano anterior a este. A organização aproveitou este torneio para testar a sua capacidade e identificar eventuais falhas, mas não contavam com a “traição” dos brasileiros. Mesmo simpatizando com o seu desporto favorito, os brasileiros não vêem com bons olhos os milhares de milhões de olhos que tudo isto custa, as suspeitas de corrupção com as verbas destinadas ao mundial, e que mesmo assim não evita o atraso nas obras. Para piorar as coisas o preço dos bens de consumo tem sido inflacionado à medida que o mundial se aproxima, e um novo aumento da tarifa dos transportes fez transbordar o copo e originou o estado de sítio, com lojas destruídas e incendiadas, confrontos com as autoridades e outros actos de vandalismo. Os brasileiros aproveitaramo a própria Taça das Confederações para manifestar o seu descontentamento, e a presidente Dilma Roussef foi vaiada durante a cerimónia de abertura, em Brasília. Enquanto alguns fazem uma leitura política deste facto, para o resto do mundo a revolta constitui uma surpresa: o país do futebol está contra…o futebol.

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