Um jovem Durão Barroso na sua fase de apaziguador
O presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, está debaixo do fogo dos franceses, que não gostaram de certas afirmações suas. O governo francês defende a excepção das indústrias culturais nas negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos, garantindo assim a protecção da produção artistica na Europa. Barroso não gostou da rebeldia e chamou os franceses de “reaccionários”, o que não caíu nada bem na aldeia dos irredutíveis gauleses. O presidente da CE defende-se dizendo que as suas afirmações foram “mal transcritas”, mas eu próprio recuso-me a acreditar – Durão Barroso apanhou essa mania de chamar “reaccionários” a toda a gente dos seus tempos de militante do MRPP. Ontem o “Le Monde” foi especialmente duro com o português, chamando-o de “camaleão” e acusando-o de se estar a posicionar para um alto cargo na ONU ou na NATO, que lhe possa garantir “uma bela reforma”.
O nosso Zé Manel foi um dos pontas-de-lança do cavaquismo, tendo ficado celebrizado ainda enquanto Secretário de Estado dos Assuntos Externos e Cooperação com a assinatura em 1991 dos Acordos de Bicesse, uma iniciativa sua, que estipulou um cessar-fogo entre o MPLA e a UNITA e a realização das primeiras eleições livres e democráticas em Angola. Apesar do fracasso da paz na ex-colónia portuguesa (culpa da teimosia de Savimbi), Durão Barroso era um jovem politico a seguir com atenção, e mais tarde chegaria a Ministro dos Negócios Estrangeiros até a derrota do PSD e o fim do reinado laranja em 1995. Foi em 2002 que regressou triunfante como secretário-geral do seu partido, vencendo as legislativas e terminando com sete anos de governo PS. Ficou célebre uma afirmação da sua mulher Margarida de Sousa Uva durante a campanha, quando num comício disse que se o marido fosse um peixe, “seria um cherne”. Não terminou o mandato que exerceu em coligação com o PP, pois em 2004 foi convidado para o cargo que ocupa actualmente em Bruxelas. Decisão sensata, pois já naquela fase a situação em Portugal não cheirava muito bem. Teve visão, o senhor. O “Le Monde” anda mal informado, portanto, quando o apelida de “camaleão”. A mulher chamou-lhe de “cherne”, e depois esgueirou-se que nem uma enguia para a Comissão Europeia. Quem sois, ó Durão?
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