quarta-feira, 8 de maio de 2013

Os perigos da internet - parte LXVIII


Um tal Leung Kin Wai, docente do Instituto Politécnico de Macau, defende que as redes sociais e os chats de internet “podem ser perigosos”, pois “nunca se sabe quem está do outro lado”. Isto a propósito da notícia de um jovem de 22 anos que engravidou uma adolescente de 15, que conheceu num desses media de conversação no ano passado. Ambos namoraram durante alguns meses, e terminaram a relação em Março. Quando os pais da jovem descobriram que esta estava grávida, denunciaram o caso à Polícia Judiciária, que prendeu o malvado plantador de sementes em útero alheio. Uma história triste, realmente – menos quando os dois se divertiam a “fabricar” a criança. Aí deviam estar a pensar em tudo menos neste desfecho.

Trata-se de uma relação ilícita, sem dúvida, pois implica o envolvimento de um menor de idade, que nestes casos é quase sempre a parte feminina. A jovem terá sido seduzida pelo rapaz, já um jovem adulto, e este não mediu as implicações do relacionamento com uma menina que, como se diz na gíria, é “chave da cadeia”. Não me cabe julgá-los. Se calhar amavam-se mesmo, indiferentes ao impedimento etário, e até por isso mantiveram uma relação amorosa durante meses. Agora a minha dúvida é a seguinte: o que raio tem a internet a ver com isto?

O sr. Leung, o tal docente, alerta para o perigo destes encontros, pois, repito, “não se sabe quem está do outro lado”. É possível que muita gente tenha ficado desiludida com algum “encontro às cegas”, ou que alguns criminosos utilizem estes espaços na rede para concretizar intentos menos honestos, mas o que tem isso a ver com este caso? Os dois encontraram-se, envolveram-se romanticamente, e a pequena não engravidou através do rato, do ecrã ou do teclado do PC. Nem através do cybersexo (que já foi mais popular) se dá o encontro entre o espermatozóide e o óvulo. Então um não sabia quem era o outro? Conheceram-se na internet, sim senhor, mas tudo o que aconteceu a seguir nada tem a ver com o virtual. Foi autêntico, foi bem real.

A internet, as redes sociais, os forums e as salas de conversação são tecnologia que está hoje ao alcançe da maioria, e como todas as restantes invenções do génio humano, foram idealizados para ser utilizados para o bem. Quem os usa para fins ilícitos ou com propósitos desonestos, terá que responder pelos seus actos, e já existe legislação que cubra os crimes informáticos e todas as práticas criminosas que possam advir do uso da rede. Conhecer uma pessoa através da internet não é muito diferente do que conhecê-la na festa de um amigo, num baile da paróquia ou na biblioteca da faculdade. Os tempos são outros, e existem mais formas de aproximar as pessoas – e ainda bem, digo eu!. São as pessoas que podem ter intenções maldosas, não a internet.

Começa a ser cansativo escutar estes sabichões atribuir à internet a culpa por acções que são apenas da responsabilidade dos indivíduos que as levam a cabo. É comum escutarem-se histórias mirabolantes de jovens que foram enganados, raptados, violados, mutilados e o diabo a sete por gente “que conheceram na internet”. Se a solução é impôr algum tipo de censura – e às vezes penso que é essa a motivação inerente – o que fazer quanto às vítimas de criminosos que não conheceram na internet? Os profetas da desgraça que culpam a rede pelos males do mundo que respondam, se puderem.

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