terça-feira, 3 de maio de 2011

O suor do rosto (e muito mais)


Tive um almoço com um ex-colega chinês (de que me arrependi, diga-se de passagem), e em cima da mesa estava o tema da pujança económica económica da China, e como os chineses “deram uma lição ao mundo”. Lembrei-lhe então de que a única forma que a China deu este enorme salto foi através do trabalho semi-escravo (e do câmbio do renminbi, mas isso é outra conversa), e que no dia que os gajos que trabalham por um dólar por dia comecem a pedir dois dólares por dia, isto vai ser um grande problema.

O meu amigo disse-me então muito paternalisticamente que não, e que – atente-se a isto – “muita gente na China está contente com um dólar por dia”. Insisti que não, que cada vez menos isso é verdade, e que quem não tem emprego pelo menos não precisa de labutar que nem um moirão 14 horas por dia, enquanto que alguns empresários, patos bravos e afins ganham um milhão de dólares por dia (Mao Zedong ia ficar com os poucos cabelos em pé!). O meu amigo começou então a deambular sobre como tanta gente conheceu dificuldades maiores, e como vi que a conversa ia parar à parvoíce, dei-lhe razão e resolvi falar de outra coisa qualquer.

Realmente os chineses deram uma lição ao mundo, sem dúvida, mas não da forma que o meu amigo pensa. Não foi cantando e rindo. O meu ex-colega, sendo uma pessoa já um pouco avançada na idade (pelo menos mais velho que eu) até não é mal intencionado. Está apenas mal informado, coitado. E desactualizado. Atentemos ao caso da Foxconn de Shenzhen, que ficou célebre o ano passado pela onda de suicídios entre os seus funcionários. Estamos aqui perante o exemplo da mecanização (ou maquinização) do ser humano.

Os funcionários da Foxconn, que como se sabe produzem os componentes de marcas ricas e famosas como a Apple, a Nokia ou da HP, trabalham oito horas por dia, comem e dormem nos aposentos providenciados pela empresa, e recebem 1000 yuan por mês (cerca de 100 euros). Quando digo que trabalham oito horas por dia, digo mesmo que trabalham, no bullshit. Mesmo quando precisam de cinco minutos para ir à casa-de-banho, precisam de esperar que o capataz lhes arranje um substituto, tal é a intensidade da produção. Às vezes precisam de fazer horas extraordinárias para satisfazer as encomendas, e escusado será dizer, essas horas não são remuneradas.

Depois de um dia assim bem passado, tudo o que um gajo quer fazer mesmo é comer e dormir. Os funcionários da Foxconn têm um companheiro de quarto, mas duvido que haja energia ou disposição para umas cervejas, um mahojong ou mesmo uma conversa. Contudo alguns ainda se vão contentando de ter cama e comida, atendendo às suas necessidades mais básicas, e no fim ainda ficam com mil paus para mandar para a terra, onde a família está ansiosamente à espera para (chuif, chuif) COMER! E ESTUDAR! Sim, caro leitor pouco familiarizado com o mercado de trabalho chinês, é pior que em Portugal, onde uns gajos que não fazem nenhum ainda acham 250 euros por mês “poucochinho”. Não surpreende que alguns trabalhadores da Foxconn rebentem um fusível e tenham vontade de saltar de uma janela, pois quem sabe se do outro lado encontram finalmente algum descanso.

Quem sobreviveu aos dolorosos dias da revolução cultural, os mais velhos portanto, terá sem dúvida um critério diferente de um jovem de 25 ou 30 anos, que cresceu aproveitando as reformas económicas encetadas por Deng Xiaoping. Acredito que quem chegou a ver toda a gente morta de fome à sua volta e tenha sobrevivido dê valor a um dólar por dia. É quem realmente sabe dar mais valor ao simples facto de estar vivo, de respirar o ar e beber a água, que pelo menos ainda são grátis. Mas para os tempos de relativa paz e do triunfo das pessoas sobre as ideias, e para qualquer pessoa com o mínimo de inteligência, isto são só balelas. É grave, gravíssimo se a forma como a China levantou a sua economia é a única fórmula de sucesso para as economias mundias. Aí acredito que os nossos filhos e netos estarão tramados, meus caros amigos.

17 comentários:

Anónimo disse...

Pois, a China superou o Japão mas a miséria continua no país. É um crescimento global, mas o PIB per capita continua miserável. Por outras palavras, é um crescimento absurdamente assimétrico e desigual, mas tanto para os chineses como para os economistas no geral o que importa é que a economia chinesa esteja a crescer nem que ela seja de facto insustentada.

Anónimo disse...

Os chineses não trabalham como escravos,trabalham é MUITO,alias basta ver aqui em portugal,para perceber isso,quando os restaurantes e lojas dos portugueses estão fechados ou foram para as férias,os chineses estão a trabalhar nas lojas chinesas e restaurantes chineses,até no natal e ano novo 1 de janeiro,estão abertos,enquanto tudo está fechado,os portugueses são preguiçosos e os chineses muito trabalhadores,essa que é essa e não vale a pena portugueses dizerem que não é.A china comunista tem como filosofia de vida o bem estar do povo.Em portugal o povo que se lixe.

Anónimo disse...

na China continua a faltar Jesus...

Anónimo disse...

O seu amigo mostra a ignorância habitual dos ou mun ya (criaturas que vivem num mundo à parte e nascido habituados a viver à mama farta dos outros) em relação aos mainlanders. Quem pense que eles vivem com um dólar por mês está bem enganado! E quem pensa que a RPC irá a continuar a basear a sua economia na mão de obra barata também. Há outros paraísos no globo melhores e com mão de obra ainda mais barata. E os idiotas, como o seu amigo, sem ofensa, que a chinezada está feliz com salários baixos, bem que vão ficar surpresos aquando das revoltas sociais que ai se avizinham.


AA

Anónimo disse...

Os mainlanders chineses devem ser pobres coitados,quando vão para macau compram joias,ouro,relógios etc

Anónimo disse...

É ver os macaenses todos contentes a irem comprar iphones e afins feitos à custa do trabalho escravo de uns quantos compatriotas

Anónimo disse...

O comentário do anónimo das 05:27,é uma autêntica aberração, só possível de um ignorante!!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

É uma aberração porquê minha besta? É mentira que os macaenses andam aí todos contentes com os iphones e os ipads? É mentira que esses aparelhos são feitos com trabalho escravo? Pergunta ao pessoal da Foxconn

Anónimo disse...

Besta é a puta da tua mãe ó cabrão, só os macaenses é que usam iphones e ipads ó atrasado mental ignorante

VICI disse...

Parabéns, o artigo é muito interessante. O que não percebo é por que é que Portugal tinha de ser para aqui chamado. Não sei o que ao certo significa "fazem nenhum" e também me custa avaliar se 250 euros são "poucochinho" - creio que tudo é relativo e subjectivo. O que sei é que, em Portugal ou noutro qualquer local do planeta, não quereria ter de viver com esse ordenado. Tal como, certamente, não quererá o Leocardo.

Abraço.

Anónimo disse...

O que eu sei é que 1000 yuans na China dá para mais do que 500 euros em Portugal.

Anónimo disse...

trabalho escravo???Mas quem que os obriga a trabalhar naquilo?Não são obrigados,se a mão de obra é mais barato na China é normal que hoje em dia muitas coisas são Made in China.Ainda há umas semanas atrás,comprei umas botas NIKE em Portugal,custou cerca 120 euros e era MADE IN CHINA

Anónimo disse...

1000 yuans são cerca de 1000 patacas e 500 euros cerca de 5000 patacas.Como é que 1000 yuans na china dá mais do que 500 euros em portugal?Ès maluco

Anónimo disse...

Dá para mais porque é tudo mais barato, idiota!

Anónimo disse...

Mais barato???Pois,deve ser por isso que os aldeões da china mainland fartam-se de viajar e quando vão para macau compram ouro,joias,relógios,vão as putas etc.100 yuans dá para muita coisa em macau LOL.Eu aqui em Portugal gasto 500 euros só em putas e futebol em duas semanas.

Anónimo disse...

O comentário do anónimo das 20:15 é muito básico, mas não me surpreende, porque muitos portugueses, especialmente da esquerdalhada, continuam a achar que a China é um grande modelo de sucesso económico e social. A China tem tido um crescimento espectacular ano após ano, mas baseado num modelo que só funcionaria numa ditadura ou num país que partisse do nada.
Não penso que esse modelo seja exportável para nenhum país minimamente desenvolvido, embora tenha certamente aspectos merecedores de atenção.
Uma vez, vi um membro do governo indiano dizer numa entrevista à BBC ou à CNN que os grandes projectos eram mais fáceis de concretizar na China do que no seu país porque ali o governo não tinha que dar cavaco a ninguém, enquanto que na Índia tinham que compatibilizar as posições das diferentes partes interessadas ou afectadas pelos projectos.

Anónimo disse...

Anónimo das 06:53, tu não és tão anónimo como pensas, pois os teus comentários são muito fáceis de identificar. São sempre aqueles sem pés nem cabeça, em que não dizes coisa com coisa.