quarta-feira, 4 de maio de 2011

Considerações sobre uma certa gafe


A gafe da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) só pode ser isso mesmo: uma gafe, nada mais. Num boletim de candidatura a um concurso público dizia-se que se dava preferência a um candidato “que falasse uma língua estrangeira: mandarim, inglês ou português”. O inglês que se lixe, mas considerar o português e o mandarim “línguas estrangeiras” no território não lembra a ninguém, até porque são as únicas línguas oficiais da RAEM.

O cantonense nem a língua chega, e não passa de um mero dialecto que por acaso é falado por 100 milhões de pessoas (provavelmente serão até mais, não se sabe!). A DSPA justificou-se alegando que afinal não era isso que queriam dizer. Aquilo significava “outras línguas” que o candidato fale, além da “língua materna”...o cantonense, portanto. É o idioma das massas em Macau e em Hong Kong, que olham ainda com alguma desconfiança para o "forasteiro" que fala mandarim ou cantonense quebrado.

Pereira Coutinho ficou furioso, chamou-lhe de “desleixo” e pronto, está a fazer o seu papel, e eu não o censuro. Mas exagera um pouco. Eu não diria tanto que foi um desleixo, mas diria que foi mais uma mensagem adequada ao segmento de mercado. A DSAP provavelmente procura preencher os lugares do quadro com pessoas de Macau (ou mun yan), e para isso simplificou as coisas. Vendo bem ainda foram simpáticos dando “preferência” a quem fale “outra língua”.

Isto demonstra (e ainda bem) a enorme força que o cantonense ainda tem na região. Em Macau não sei, mas tenho a certeza que aqui ao lado os honconguenses nunca aceitariam deixar de falar cantonense e ir aprender mandarim. Foi a falar cantonense que Bruce Lee e Jackie Chan se celebrizaram. São os filmes policiais de Hong Kong, falados em cantonense, que encantam e inspiram outros filmes no Ocidente. O cantonense é falado por uma grande massa dos chineses ultramarinos, no Vietname, na Malásia, na Indonésia, nos E.U.A., Reino Unido, Austrália e Canadá. Não estou a dizer que o cantonense é maior que o mandarim, mas que não é para ser menosprezado.

Já a Escola Portuguesa de Macau (EPM), por seu lado, achou por bem ensinar o mandarim como língua chinesa, completamente alienada da realidade que a rodeia. Talvez tenha sido uma visão futurística dos responsáveis da EPM, prevendo qual oráculo o desaparecimento do dialecto cantonense e a imposição do mandarim nas gentes do sul da China e arredores. Isto levará que no futuro os (bons) alunos saibam ler chinês e falar mandarim, mas sejam incapazes de comunicar com grande parte da população local.

Ou tratar-se-á de influência do norte, que tenta há vários anos impôr – debalde – a língua oficial num país onde existem 293 idiomas (um extinto), derivados de outros maiores e em alguns casos com diferenças quase mínimas, faladas por milhões e milhões de pessoas. Os números são esmagadores, sem dúvida, e impôr uma língua única afigura-se uma tarefa hercúlea, que certamente encontrará resistência de quem fala a língua dos seus ancestrais, e as transmite aos seus filhos.

12 comentários:

Anónimo disse...

200 milhões de pessoas a falar cantonense? Duvido.

Paulo39 disse...

Existe até quem considere o Cantonês uma língua e não um dialecto (daí designá-lo Cantonês e não Cantonense), uma vez que a definição de língua implica que duas pessoas que não falem a mesma língua não se compreendam. Por outro lado, duas pessoas que falam dialectos diferentes da mesma língua devem conseguir compreender-se mutuamente.

Anónimo disse...

ensina-se mandarim para chinês ver e sempre está mais enquadrado com a realidade acabando o disparate de ensinar francês na China.

Anónimo disse...

Aprender cantonense para ficar analfabeto quando se vai a China?
Que perda de tempo!
Alem disso a maioria da populacao ja comunica em ingles; so as velhotas que arrastam os chinelos e comem haam yu, ou os velhotes que andam a passear os passaros e que nao falam.Mas alguem quer falar com esses?

Anónimo disse...

Há cerca de 70 milhões que falam cantonense/cantonês. Mais de 200 milhões? O Leocardo deve estar a confundir cantonense com português. Se o cantonense é falado por mais de 200 milhões, como é que não aparece em lado nenhum como uma das 10 línguas mais faladas do mundo, enquanto que o português é a sexta língua mais falada do mundo? São 70 milhões, Leocardo, incluindo os que o falam "overseas".

Leocardo disse...

Primeiro peço desculpa pelo lapso, queria dizer 100 milhões de pessoas. Se a população de Cantão são 95 milhões (já assumindo que nem todos falam cantonense), mais os 8 milhões de Macau e Hong Kong mais os chineses ultramarinos, parece-me um número redondo bem realista.

Anónimo das 19:57: "Aprender cantonense para ficar analfabeto quando se vai a China?" Por essa lógica em Portugal deixava se ensinar português, e passava-se a leccionar em inglês, espanhol ou francês, já que eventualmente a malta pisga-se de lá toda e vai fazer a vidinha noutro sítio.


Cumprimentos.

Anónimo disse...

O Pereira Coutinho ficou furioso porque tem que ficar assim para justificar o seu TACHO.

Anónimo disse...

"Aprender cantonense para ficar analfabeto quando se vai a China?" Quem vive em Macau,Hong Kong ou na região de Cantão, basta saber cantonenense,o mandarim não serve para nada em macau,a não ser para falar com as putas das saunas de macau.

Anónimo disse...

A opção pelo ensino do mandarim na EPM foi muito acertada.
Pena é que não seja levado muito a sério pelos pais do alunos em primeiro lugar e consequentemente pelos próprios alunos e pela escola.
Tal como está a ser leccionado, tanto faz ser mandarim como cantonês, até podia ser tailandês ou tagalog. Os míudos não aprendem nada e até vão tendo boas notas, ninguém parece importar-se muito...

Pedro Coimbra disse...

Obrigar alguém a aprender uma língua é impossível.
O Prof. do IPM cai nesse erro hoje.
Abraço

Anónimo disse...

É "impor", sem acento. Só "pôr" é que leva acento circunflexo. "Impor", "apor", "repor", "dispor", "compor" e por aí adiante não levam o acento, porque não precisam dele. "Pôr" leva acento para se distinguir de "por". E já era assim antes do A.O..

Anónimo disse...

e já agora, cedilhas no c, antes de "e" e "i" nunca.. e isso desde que fiz a primária, há muiiiitos anos!!