terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Notas sobre a crise no Egipto


Centenas de milhar de egípcios aglomerados esta tarde na Praça Tahir, no Cairo

Tenho assistido em estupor à crise no Egipto (é triste ver "Egito" escrito nos noticiários de Portugal, enfim...), e começo a sentir que 2011 poderá ser o ano em que cai o bloco árabe, como 1991, há exactamente 20 anos, caíu o bloco soviético. Mubarak, um ditador de 82 anos,há 30 anos agarrado ao poder no país dos faraós, parece ter perdido o respeito do povo egípcio, e já não é mais um papão.

O pequeno-almoço de Mubarak chega todas as manhãs de Paris, com direito a um provador particular, não vá alguém querer envenenar o senhor. Mubarak teve um harém de amantes, isto apesar de no Egipto e pena para quem tem relações sexuais fora do casamento é a prisão. O seu filho mais novo Gamal, que estava na senda de suceder ao pai, é um banqueiro com dupla nacionalidade (egípcia e britânica, algo que Mohammed Al-Fayed, um cidadão respeitável e um benemérito que fez muito mais pelos ingleses que o filho do ditador, não tem) e que ameaçava perpetuar o reinado de cleptocracia de Mubarak. Não é por acaso que os ricos foram os primeiros a apanhar o avião para fugir do país: os ratos são sempre os primeiros a abandonar o navio.

Manuel José, treinador de futebol que regressou recentemente ao comando do Al-Ahly, o maior clube africano, está optimista quanto ao desfecho desta revolução. Manuel José saberá mais que nós, que não vivemos no Egipto, mas eu no lugar dele não estaria assim tão tranquilo. É imprevisível saber em que mãos cai o poder quando cai na rua, e tanto pode cair nas mãos da oposição liderada pelo Dr. Mohamed ElBaradei, o que seria mais recomendável, ou nas mãos dos radicais, e uma repetição do que aconteceu em 1979 no Irão não está fora da lista de possibilidades.

Nada que preocupe Mubarak, que espera agora um exílio dourado na Arábia Saudita ao lado do ex-ditador tunisino, Zine El Abidine Ben Ali. A Arábia Saudita é o ninho de retiro de todos os cleptocratas muçulmanos, uma espécie de inferno na Terra. Eu tenho um bom feeling em relação a tudo isto. Espero que as águas do Nilo tragam desta vez marés de igualdade e justiça. Aquele povo tão sofrido merece.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ora vá cagar mais os comentários ao Hosni Mubarak especialmente sobre a sua vida privada que não interessa nada a ninguém. Todos os ditadores que se safam à "escuxina" pelo povo (ou por alguém por ele) morrem na cama em exílios dourados. Os outros na forca como o Sadam Hussein do Iraque.O que interessa é o que fizeram na gestão da vida pública. Hosni Mubarak para além de ter mantido os muçulmanos no redil (o que agradou aos americanos do Bush filho e Bush pai, não conseguiu que o Egipto saísse do carril medieval e entrasse na senda do progresso. Não percebeu que a juventuda egípcia é demograficamente mais importante do que a gerontologia do país. Além disso cedeu (como todos os ditadores cedem) ao nepostismo cego, esperando que seu filho lhe sucedesse como patrão da "casa egípcia". O Egipto não é de facto um país árabe, nem uma ex-colónia do "Império Otamano". É um país homogéneo, com mais de seis mil anos de história. Ainda por cima situado num ponto geografica e estrategicamente vital.
O que resultar do que se vai passando alí há-de ter ecos e profundos (garanto eu e apenas do fundo do meu instinto)em todo o Médio Oriente. Ou temos o islamismo triunfante a provocar mais dores de cabeça ao mundo, ou novo tipo de democracia que irá provocar igualmente dores de cabeça ao mundo. Em parte parece um reedição serôdia da "revolução verde" do "capitão" Khadafi da Líbia dos anos 70. Que conhava unir o médio oriente numa só bandeira árabe. Lembram-se da "República Árabe Unida"? Não já ninguém se lembra já que só durou meia dúzia de anos, se tanto.
Enfim. Isto tudo só para dizer que a vida privada do idoso Mubarak e a sua sorte é o que menos interessa neste contexto.