sábado, 12 de fevereiro de 2011

Os blogues dos outros


Não restam dúvidas sobre a direcção firme dos ventos da História. O mundo está hoje menos autoritário e mais livre. O povo do Egipto está de parabéns por esta revolução e pelo avanço do espírito democrático. Hoje todos somos egípcios.

Paulo Godinho, Oriental Praia

Hosni Mubarak estrubuchou 18 dias tentando adiar o inevitável. Ontem, em 20 segundos, reconheceu a evidência: “Em nome de Deus, o misericordioso, cidadãos, durante as difíceis circunstâncias que o Egipto atravessa, o Presidente Hosni Mubarak decidiu deixar o cargo de Presidente e encarregou o Conselho Supremo das Forças Armadas de administrar o país. Que Deus ajude toda a gente.” Este o teor do curto comunicado que o vice-presidente Omar Suleiman leu na televisão estatal. Que pôs fim a um período de 30 anos de governo tirano, despótico, cleptómano, do ditador egípcio. Hosni Mubarak tentou todas as manobras possíveis para se manter agarrado às rédeas do poder. O ditador, que já tinha preparado a sua sucessão dinástica, num processo em tudo semelhante ao norte-coreano, tentou abdicar formalmente de alguns poderes (que convenientemente transferia para o seu fiel vice-presidente), prometeu a realização de eleições livres (algo que recusou durante 30 anos), dramatizou o seu abandono do poder (geraria o caos). Cego e surdo perante as vozes que gritavam na Praça Tharir pedindo que abandonasse a cena. Gritos que ecoavam um pouco por todo o Mundo e que se tornaram ensurdecedores quando Obama anunciou o fim do regime egípcio. Sem o apoio americano, a queda de Mubarak era um dado adquirido. A questão que permanecia era quando aconteceria o anunciado fim. Foi ontem. Tombou o ditador. Mas permanece a ditadura. Os militares, que nunca ostracizaram Mubarak, também ele um militar, afirmam que "não se vão substituir à legitimidade desejada pelo povo". O que se deseja agora é que a estas palavras se siga, no mais curto espaço de tempo possível, a realização de eleições livres, a instauração de um regime democrático no Cairo, a pacificação do país. A queda de Mubarak representa só o início de um processo que tem que culminar numa total mudança de regime no Egipto. Tombou o ditador, permanece a ditadura. E, enquanto a ditadura não for afastada, o risco de aparecer outro ditador é muito real. A ser assim, a revolta da Praça Tharir seria perfeitamente espúria. Porque é bom que se perceba que, como escrevia o Pedro Correia, não há ditadores bons e ditadores maus. Assim como não há ditaduras boas e ditaduras más.

Pedro Coimbra, Devaneios a Oriente

As imagens que nos entram do écran para casa são incontornáveis. Sob a enorme explosão de revolta popular e depois de avanços e recuos Hosni Mubarak, o ditador do Egipto renuncia ao poder e passa-o ao Conselho Superior das Forças Armadas. Esse o anúncio do vice-Presidente Suleiman há momentos na CNN. Espera-se agora o anúncio da junta militar que governará o Egipto. Duas conclusões imediatas parecem possíveis: onde há luta há resistência e é sempre possível lutar contra as ditaduras ainda que isso involva sacrifícios pessoais; todos os tiranos têm o seu fim e o poder que parece eterno revela-se afinal efémero; segundo a democracia não é exclusivo de uma civilização, de uma parte do mundo, é a gritada exigência de todos os povos na procura de dignidade, de um sentido de respeito pela sua condição de seres humanos; terceiro não há religiões adversárias da liberdade e da democracia, nem valores culturais estranhos a ela. O povo quando quer pode tomar a luta nas mãos e vencer os maiores obstáculos. O apelo da liberdade é irresistível e nada há que substitua a Santa Liberdade: nem o comodismo, nem o sentido precário de segurança. As imagens deste 11 de Fevereiro lembram-me um 25 de Abril há muitos anos, a mesma explosão de alegria, os tanques e as pessoas a saudar os militares, o fim da ditadura e a fuga do ditador algures para uma aeroporto. Há trinta e tal anos acorri ao Quartel do Carmo e nos dias seguintes nada mais fiz do que viver esse instante único de liberdade esperado e chorado. No Egipto escreveu-se esta noite, 11 de Fevereiro, história. Huntington onde descanças ouve o eco das tuas premonições: nasceu a 5.a Vaga da Democracia. Ela varre o Médio Oriente na voz, nos acenos, nos gritos, nas bandeiras e nos festejos da gente comum, homens, mulheres e crianças. Ontem na Tunísia, hoje no Egipto, amanhã não sabemos aonde. O local onde terá nascido a civilização judaico-cristã retempera-se nesta grande festa da Liberdade e de Alegria. Alá em toda a sua misericórdia proteja e acalente o povo egípcio que é digno da sua Palavra e mensagem de Amor e Solidariedade. A mensagem da Sua civilização entrelaça-se com a nossa.

Arnaldo Gonçalves, Exílio do Andarilho

Pela via popular e com o apoio explícito dos EUA, acabou uma ditadura com trinta anos. O regime musculado de Mubarak deu lugar à liberdade nas ruas mas a partir de hoje sob tutela militar. Que farão daqui para a frente os "capitães" egípcios?Conseguirão eles resistir à tentação de criar um MFA "rumo ao socialismo" (como a seguir ao 25 de Abril por cá), ou "rumo ao islamismo" (como no Irão)?

Luís Filipe Coimbra, 31 da Armada

Com desenvolvimentos a surgirem a cada momento e relatos divergentes a respeito do que está a acontecer no Cairo, a televisão estatal egípcia diz que Mubarak fará uma declaração em directo a partir do palácio presidencial. Mas poderá também estar já fora da capital. Contudo, outros media dizem que o Presidente partiu para a estância de Sharm Eshiskh, no Sinai. A Al-Hurra TV diz que o destino é os Emirados Árabes Unidos, devendo chegar em breve ao Dubai. E outros meios de comunicação dizem que o ditador egípcio partir para destino desconhecido. De acordo com a Al Arabiya, Mubarak foi num avião militar e foi acompanhado do chefe dos forças armadas, Sami Annan, não se encontrando já na capital.

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Os homens revelam-se na adversidade. "Muitos inimigos, muita honra", como diziam no velho Lácio ou, glosando Larochejaquelin, herói da Vendeia, "Si j'avance, suivez-moi ; si je meurs, vengez-moi ; si je recule, tuez-moi". Os líderes são líderes porque sabem dar o exemplo. O Egipto revelou ontem ao mundo como o sim e o não de um só homem podem ser decisivos para a vida ou morte de uma nação. Ao fim da tarde, as notícias anunciavam a resignação do velho leão. Fê-lo com dignidade e sem debandar, como tantos o fazem nas mesmas circunstâncias. Não cedeu, não se rendeu, não mandou entregar fiéis seus às mãos da plebe e não fez promessa alguma. Saiu como devem sair aqueles que nada devem: de cabeça erguida. É água cristalina que Mubarak vai ser entregue às feras e submetido aos maiores enxovalhos. Aqueles que virão - que não respeitam lei e legalidade alguma - tudo farão para que a tal justiça que dá pelo nome de "islâmica" inicie a matança com uma morte ritual: a do homem que susteve o ambismo durante décadas. Sei que para o Egipto a democracia tal como a entendemos é coisa tão quimérica que nela so acreditará quem vive obnubilado. O Egipto vai ser - espero enganar-me - a fonte das dores de cabeça da Europa. Com a crise do Egipto aprendemos uma coisa: nos americanos não se pode confiar.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Hosni Mubarak nasceu em 1928 em Kufr el-Musailaha, uma aldeia situada no delta do Nilo. Filho de modestos agricultores, fez carreira no exército. Formou-se como piloto militar na ex-URSS e o seu desempenho na Guerra de Yom Kippur valeu-lhe o posto de Chefe da Força Aérea. Em 1975, Anuar el Sadat nomeou-o Vice-Presidente. Seis anos mais tarde, assumiu a Presidência na sequência do assassinato de Sadat. Assinou os acordos de Camp David, optando por um claro alinhamento com os EUA e foi, aos poucos, contornando o isolamento inicial que tal posição lhe valeu no mundo árabe. A sua permanência no poder ao longo de cerca de 30 anos resultou de sucessivos plebiscitos, apesar de ter prometido por várias vezes promover a realização de eleições livres. Durante as três décadas em que exerceu o poder montou um Estado totalitário, corrupto e militarizado. Mais de 50 milhões de egípcios nunca conheceram outro Presidente. E, de acordo com os planos de Mubarak, esperariam mais alguns anos até conhecer o próximo, o seu filho Gamal. Todavia, hoje, 11 de Fevereiro de 2011, como resultado da revolução que eclodiu nas ruas do Cairo e em confluência com os ventos de liberdade que sopraram da Tunísia, foi obrigado a abandonar o poder e a entregá-lo ao exército. Começa, assim, a história do novo Egipto. Esperemos que as páginas seguintes se escrevam em liberdade. E que se encerre definitivamente o capítulo da tortura, da opressão, do sangue e do sofrimento.

Rui Rocha, Delito de Opinião

O meu portugal revolta. Parece que revolta a todos mas de formas diferentes. A uns causa revolta a classe política, assim, por inteiro; a outros causa revolta viver num país em "que para ser escravo é preciso estudar"; ainda a outros causa maior revolta que uma música possa estar a espelhar essa revolta (ainda se fosse do Zeca...). Mas como é que se revolta uma "geração sem remuneração"? "Vão sem mim que eu vou lá ter" que agora estou aqui no conforto do sofá a ver a revolução no Egipto na Aljazeera porque hoje somos todos egípcios! Somos todos egípcios o CARA...ças! Eu não sou! Não sou porque me recuso a, com a minha passividade, insultar um povo que agiu, em vez de calar em angustia a revolta; agiu, quando percebeu que não se chega a lado nenhum com cantigas, nem com palavras; agiu, quando em vez de escrever desabafos estéreis (assim como este), levantou o AlCú do al-sofah e decidiu fazer alguma coisa: pedir um Egipto para eles. Nós temos lá tempo e paciência de exigir um Portugal com P maiúsculo (ou mesmo um Egipto com Pê) para nós! isso envolve manifs e assim. E nas manifs há muita gente. E depois não há lugar para estacionar o carro.

João Moreira de Sá, 31 da Sarrafada

10 comentários:

Anónimo disse...

acho uma piada a estas merdas... até agora NINGUÉM falava no Egito. Tenho 30 e poucos anos, e nem sonhava que aquilo era assim tão mau.

cambada de merdas hipócritas, este mundo.....

o que importa é vender jornais e similares.

o flavour of the week chama-se egito. What will be the next one, next week?

Anónimo disse...

Santa ignorância.
O anónimo acha esta revolução do povo egípcio contra uma ditadura de mais 30 anos que comandava um dos exércitos mais poderosos do Médio Oriente e que pode ser um ponto histórico de viragem no mundo islâmico, nas relações estratégicas com os Estados Unidos e no balanço de forças na questão de Israel um mero "flavour of the week"?????

Credo, ou você vive numa aldeia sem internet nem TV/jornais e não percebe (nem tenta perceber) minimamente o que se passa à sua volta. Ou então só pode ser burro que nem uma porta.

Anónimo disse...

O que interessa a esta malta e' o Carlos Castro e o nome da rua. Revolucao no Egipto? Isso e' um flavor of the week que nao interessa a ninguem lol

Anónimo disse...

concerteza que o mubarack deve ter assuntos para tratar em Genebra... uma conta bancária de centenas de milhões convém ir controlando.....
ás tantas ainda lhe acontece como o stanley ho.

Anónimo disse...

Estes muçulmanos são mesmo fantáticos usam sempre o nome de DEUS para justificar tudo,quando o Mubarak andava a fazer dinheiro sujo a custa da corrupção será que também pensava em Alá?

Anónimo disse...

Pois é anónimo das 18h50,os terroristas muçulmanos quando fazem explodir um avião ou uma bomba dizem logo "Alá é grande" antes de fazerem explodir tudo ehhehe

Anónimo disse...

o W também invadiu o Iraque porque "Deus lhe disse"....

não sejamos ingénuos, vai dar tudo ao mesmo.

Anónimo disse...

Se os idiotas do acordo ortográfico decidiram que agora se escreve "Egito" (sem P), espero que sejam suficientemente coerentes para escreverem "egícios" (também sem P). Isto é que verdadeiramente me preocupa.

Anónimo disse...

Sem dúvida que o Egipto era uma ditadura para o seu povo, mas eu estive no Cairo há cinco anos e encontrei uma ciade de ambiente descontraído, embora carregada de polícias que pelo menos faziam com que, para minha surpresa, a cidade fosse muito segura. Volto a dizer que era uma ditadura, mas não era conservadora, pois vi mais mulheres sem véu do que com ele e estive em cafés onde, também para minha surpresa, vi pares de namorados, perfeitamente apaixonados e de rostos muito próximo. A ideia que fiquei do Cairo, ao contrário do que previamente tinha pensado, era de que estava no país das mil e uma noites.

Anónimo disse...

É deixar a democracia chegar ao Egipto e os partidos islâmicos tomarem conta do poder, e adeus mil e uma noites...