sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os blogues dos outros


Num autocarro converso durante dez minutos com uma israelita que me garante que as notícias sobre o Egipto estão bloqueadas em chinês. Foi há dois dias. Pergunto - Mas tentaste ver? - Não mas a minha amiga/meu amigo (my friend) tentou. Acho estranho demais. A censura não funciona assim. Hoje dia histórico no Egipto, no Global Times em chinês (aquele que os chineses visitam) cá está a foto reportagem. A China também sabe o que se passou no Egipto.

Maria João Belchior, China em Reportagem

O futebol em Macau segue de vento em popa, com a selecção macaense a ser eliminada por essa potência chamada Camboja da Challenge Cup. Nada de estranho num meio onde se promove a mediocridade e xenofobia.

El Comandante, Hotel Macau

Distingamos. Para além do País real, onde, genericamente, se vai mourejando, sofrendo privações, sobrevivendo, - para além de todos nós, em nossa casa, na rua, no nosso trabalho ou no nosso desemprego, existe o outro, uma espécie de saudável (para quem lá reside...) país de faz-de-conta. O país político, como fácilmente se adivinha. É o país onde a Esquerda desvaloriza a eleição presidencial do candidato da Direita, apontando-lhe o baixo número de votos com que ele alcançou... a maioria absoluta! Como se a abstenção não respeitasse a todos. E é o país onde a Direita, confrontada com uma moção de censura ao Governo socialista, da iniciativa da Esquerda, em vez de aderir, vem arremessar aos promotores uns "pseudos" - arma nova, de confecção e utilização ainda mal conhecidas, mas comprovadamente letal para as aludidas moções. Por isso se mantém o Governo, incólume ante a auto-flagelação dos seus oponentes. No país político, o que menos faz de conta são os BMW topo de gama, deslizando ininterruptamente pelos acessos a S. Bento, a transportar deputados. As mordomias dos residentes no país político - essas são o que há de mais real.

João Afonso Machado, Corta-Fitas

A semana anterior marca a divisória entre um partido semelhante aos outros e um partido a baixo dos outros porque menos que os outros. O Bloco de Esquerda está a desistir de se opor e de resistir. Colapsa internamente, fractura-se a pretexto bendito da pseudo-moção de censura, devido à qual membros fundadores batem com a porta, tal o absurdo. É o começo do fim, o que se compreende já que o único partido que, a pretexto de umas presidenciais quiméricas, por um momento se uniu ao PS, ao dinheiro sujo de todas as sodomias políticas, torna-se pior que o PS, contaminado de PS até aos ossos. Acabou-se a benevolência com o pantomineiro Bloco. Espera-o um destino análogo ao do PRD.

Joshua, PALAVROSSAVRVS REX

A produção de decretos-lei do executivo caiu 30% no primeiro ano desta legislatura (de 26/10/2009 a 26/10/2010), quando comparada com igual período da primeira legislatura com José Sócrates à frente do governo (12/03/2005 a 12/03/2006). O Ministério da Cultura e o Ministério da Ciência e do Ensino Superior, por exemplo, não chegaram a produzir um único decreto-lei desde a tomada de posse, quando na legislatura anterior são da autoria de Mariano Gago sete decretos-lei e José Pinto Ribeiro - à época com a pasta da Cultura - produziu quatro. Outro ministério com um grande tombo é o da Administração Interna: Rui Pereira, no primeiro ano como ministro, produziu 22 decretos-lei; na segunda legislatura não passou dos três. Entre os ministros de Estado o trabalho legislativo também declinou. A Defesa, que passou das mãos de Nuno Severiano Teixeira para as de Augusto Santos Silva, passou de dez decretos-lei em 2005/2006 para três na actual. Já a pasta dos Negócios Estrangeiros no primeiro ano deste governo produziu apenas um decreto-lei, que compara com quatro do primeiro executivo de Sócrates.

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Sendo um homem de fé, sou por natureza e feitio anticlerical. Mas habituei-me a ouvir e a respeitar D. José Policarpo. Um homem que soube projectar uma outra dimensão da Igreja portuguesa, pontuando o seu discurso pela lucidez. Sinal da sua atenção aos problemas do seu tempo e que, ao contrário do que alguns teimam em rejeitar, são também os do seu templo. Marcou a sociedade portuguesa com a oportunidade da sua intervenção cívica, com a autoridade do conhecimento e da razão, e tentou renová-la à medida das suas possibilidades. Muitas vezes discordei do clérigo, poucas do homem, porque respeitar é também compreender o outro na discordância. Talvez que o facto de ser um fumador contribuísse para marcar a diferença num mundo que aceita sem resistência o cada vez maior número de espartilhos à liberdade individual em nome de uma sociedade asséptica e amorfa. D. Jorge Ortiga diz tratar-se de um acto normal por D. José ter atingido o limite de idade. Eu acredito que sim. Só que nos dias que correm a sua carta de renúncia, sendo aceite, deixará este país mais pobre. Com menos uma voz como a dele não será só a Igreja a perder. Perdem todos. Ateus e agnósticos incluídos. Pela simples razão de que a humanidade não tem credo, cor, raça, ideologia ou sexo, e depende de homens como ele.

Sérgio de Almeida Correia, Delito de Opinião

Acreditem no amor - o amor eterno, o amor para sempre, etc., etc.
Porque o melhor do mundo não são as crianças.
O melhor do mundo são as crenças.


Rui Zink, Rui Zink versos livro

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