segunda-feira, 25 de maio de 2015

Vão-se as ligas, ficam as taças


Ficou concluída ontem a edição 2014/2015 da Liga NOS, a divisão principal do futebol português, e que consagrou o Benfica como bi-campeão nacional. A equipa de Jorge Jesus é, por muito que me custe dizê-lo, uma justa vencedora, e mesmo com um "penalty" mal assinalado aqui ou um fora-de-jogo duvidoso ali, ganha quem no fim tem mais pontos, tem pontos quem ganha mais jogos, e finalmente ganha mais jogos quem marca mais golos que o adversário. Os encarnados festejaram pela primeira vez em mais de 30 anos o bi porque conseguiram ser a equipa mais regular e contaram ainda com a boa forma das suas peças essenciais nos momentos decisivos da época; ora Talisca e Eliseu, inicialmente, depois Lima e Jonas, uma dupla de avançados que rendeu 39 dos 86 golos da equipa, e durante a época inteira a dupla argentina Sálvio e Gaitán fez o papel municiador do ataque. Pizzi compensou bem a saída de Enzo Pérez, que se transferiu para o Valência com a abertura do mercado de Inverno, e lá atrás Maxi, Luisão e Jardel garantiram a estabilidade necessária, numa zona que não é dada a que se façam muitas experiências, enquanto a baliza esteve entregue a dois brasileiros, Arthur e Júlio César, com primazia para este último. As "nemesis" de Jorge Jesus foram Sérgio Conceição e André Vilas-Boas; o primeiro teve o mérito de com o "seu" Braga infligir a primeira derrota no campeonato e eliminar da taça os encarnados, enquanto o treinador dos russos do Zenit é o grande responsável do fracasso europeu do Benfica, ao vencer ambas as partidas entre ambos na fase de grupos da Champions, relegando a equipa portuguesa para o último lugar. O Benfica ainda pode juntar ao título mais uma Taça da Liga, troféu que poderá conquistar pela sexta vez (em oito edições) caso derrote na próxima sexta-feira à noite em Coimbra o Marítimo na final.


O FC Porto fica pela segunda época consecutiva sem ganhar qualquer título, tendo sido o último a Supertaça relativa à época 2012/2013, conquistada a 11 de Agosto de 2013 por Paulo Fonseca numa partida em que derrotou o V. Guimarães por 3-0. O Porto havia acabado de perder João Moutinho e James Rodríguez, duas pedras basilares da equipa, e Fonseca não foi feliz, acabando por ser despedido ainda durante o decurso da temporada. Este ano a aposta foi num treinador praticamente desconhecido que no seu currículo tem apenas o título de campeão europeu de sub-21, conquistado em 2013 em Israel, Julien Lopetegui, que trouxe consigo alguns jogadores espanhóis que variavam entre o muito bom, caso de Cristian Tello, e o sofrível, ou mesmo medíocre, como é exemplo o avançado Adrián López, por quem os dragões pagaram ao Atlético Madrid mais de 8 milhões de euros. O Porto até não começou mal, com três vitórias nos primeiros três jogos, ao que se seguiram três empates, um deles em casa com o Boavista, mas o campeonato ficaria perdido à jornada 13 com a derrota em casa frente ao Benfica. Na Taça de Portugal ficou-se pela primeira eliminatória, perdendo para o Sporting, enquanto na Europa chegou a fazer um brilharete, chegando aos quartos-de-final da Liga dos Campeões e derrotando na primeira mão o poderoso Bayern Munique por 3-1, acabando por ser goleado na Alemanha por 6-1.


Na época passada o Sporting recuperou a dignidade perdida graças a Leonardo Jardim, que depois sairia para o Monaco dando o lugar a Marco Silva, que vinha de duas épocas de sucesso do Estoril-Praia. O jovem treinador contou com Nani, um ídolo dos adeptos que veio por uma época emprestado pelo Manchester United, mas cedo se percebeu que não era esta a época de glória do leão; quatro empates nas primeiras seis jornadas eram pontos perdidos a mais, quando se deu a primeira derrota na nona jornada a equipa ficou a seis pontos do líder Benfica, e a partir daí pouco mais o Sporting podia aspirar em termos de campeonato do que a uma vaga na Liga dos Campeões. E por falar em Liga dos Campeões, nessa prova o Sporting pode-se queixar da falta de sorte, pois além do modesto NK Maribor, a oposição era de respeito, com os ingleses do Chelsea e o os alemães do Schalke, com quem os leões seriam prejudicados pela arbitragem. Com o 3º lugar no grupo da liga milionária, seguiu-se a Liga Europa, onde a equipa portuguesa seria eliminada pelos também alemães do VfL Wolfsburg. A época poderá ficar salva em caso da vitória na final da Taça de Portugal no próximo Domingo frente ao Braga, no Jamor.


E falando do Braga e dos seus vizinhos de Guimarães, eis as duas equipas que têm sido consideradas as melhores depois dos três grandes, ambas do Minho, e ambas a aproveitar da melhor forma os jogadores da formação que "rodam" nas equipas "B", ambas a disputar a Segunda Liga. Os bracarenses, treinados pelo irrascível Sérgio Conceição, terminaram no quarto lugar e estiveram a "morder os calcanhares" ao Sporting na luta por uma vaga na Champions, e ainda vão discutir com os leões a conquista da Taça de Portugal. Os vimarenenses também voltaram a obter uma classificação honrosa, o quinto lugar, na quarta temporada de Rui Vitória ao comando dos "conquistadores". O Belenenses fecha a leque das equipas qualificadas para uma prova europeia, ao terminar no sexto posto com mais um ponto que o Nacional e o P. Ferreira. Os azuis de Belém entram na terceira pré-eliminatória da edição 2015/2016 da Liga Europa, enquanto o Guimarães entra no "play-off" e o Sp. Braga está qualificado para a fase de grupos.


No fundo da tabela tinha ficado tudo decidido na penúltima jornada, com Gil Vicente e Penafiel já condenados a descer à Segunda Liga. Os gilistas tiveram um início de época para esquecer, obtendo a primeira vitória apenas à 16ª jornada, já depois do treinador João de Deus ter saído para dar lugar a José Mota, que encetou uma recuperação que os deixou acima da linha de água à 20ª jornada, mas os minhotos voltariam a claudicar e terminariam na penúltima posição. O Penafiel regressa à Segunda Liga um ano depois de ter conseguido a promoção com o Moreirense, e nem três treinadores, Ricardo Chéu, Rui Quinta e finalmente Carlos Brito lhes valeram para fugir ao último lugar da tabela. Outras equipas que estiveram "com a corda na garganta foram o V. Setúbal e o Arouca, que viram confirmada a manutenção apenas na penúltima jornada, ou ainda o Estoril e o Boavista. Os boavisteiros, regressados este ano ao convívio dos grandes depois de sete anos de ausência, conseguiram com a equipa mais "económica" da liga realizar um campeonato mais ou menos tranquilo, apesar das dificuldades iniciais. De recordar que os axadrezados disputavam na época passada o Campeonato Nacional de Seniores, o terceiro escalão, tendo entretanto vencido o recurso do caso "Apito final", que esteve na origem da despromoção administrativa dos axadrezados.


Na Segunda Liga, um campeonato disputado por 24 equipas (!) e que por isso tem 46 jornadas, houve emoção até ao último minuto, com cinco equipas a discutir as duas vagas de acesso ao escalão principal na derradeira ronda da prova. Tondela e União da Madeira dependiam apenas de si mesmo, e não enjeitaram a oportunidade de estar entre os grandes na próxima época. Para os tondelenses vai ser a estreia, depois de ontem terem obtido em Freamunde o resultado que precisavam para se sagrarem campeões: o empate, que foi a uma bola. O União foi a Marvila, na capital portuguesa, derrotar o Oriental por claros 3-0, deixando Sp. Covilhã e Chaves, que venceram também os seus jogos, a "morrer na praia", em igualdade pontual mas com desvantagem no confronto directo. Mais remotas eram as possibilidades do Feirense, que precisava que essas três equipas perdessem, e ainda de uma vitória fora frente ao Farense. Não só a concorrência não lhes deu o gosto, como ainda saíram do Algarve vergados ao peso de uma derrota por 4-1. Lá em baixo Atlético, Marítimo "B" e Trofense desceram ao Campeonato Nacional de Seniores, destino que já lhes estava reservado antes da última jornada.


Numa nota final, gostaria de destacar o Clube Desportivo de Mafra, onde alinha o "nosso" David Kong Cardoso, e que no ano em que comemora o meio século de existência conseguiu a subida à Segunda Liga, e logo no dia exacto do seu 50º aniversário - ainda dizem que não há coincidências. O clube dos arredores de Lisboa foi campeão da zona sul do CNS, depois de na semana passada ter obtido um empate decisivo nos Açores frente ao Operário da Lagoa, venceu este Domingo em casa o Louletano e...fez-se história! A acompanhar o Mafra na subida de divisão vai o Famalicão, e ainda uma terceira equipa, que sairá do vencedor do "play-off" entre o Varzim e o Casa Pia.

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