Fui hoje à Taipa, facto que só por si é notícia, tal a a aura de raridade com que se reveste, e uma vez lá pelas ilhas a prioridade, antes de todo o resto, era almoçar. Fazia planos de ir até ao espanhol da Rua do Regedor, ou quem sabe dar um pulinho até à Marisol (me gusta los tacos y burritos), mas descendo pela azinhaga da velha Taipa, deparei a Portugália. Esta Portugália, filha mais nova da autêntica, da genuína, da alfacinha este ano nonagenária, foi inaugurada há alguns meses, e lembro-me de ter tido uma acesa discussão (pacífica, note-se) sobre a sua localização. Também não tinha bem a certeza, mas dei com ela sem querer, e por isso...porque não? Vamos lá "matar o bicho", então.
Este era o aspecto do interior do local, não muito amplo e muito menos concorrido. Sim, era Domingo, sim, vim para almoçar, mas também já passava das 4 da tarde, pelo que a esta hora calculo que se tenham dado por findas as hostilidades das duas horas seguintes ao meio-dia. Bem, espero que tenha sobrado alguma coisa...
Que disparate, claro que sobrou - estamos aqui a falar de uma Cervejaria, não de um restaurante de finórios (mesmo que aqui as linhas se cruzem, mas não se nota). O menu é um "notepad", muito bem, "very sofisticated", mas a hora da verdade aproxima-se: afinal, o que se come aqui?
Para entrada umas ameijôas à Bulhão Pato - "not too shabby", nada como algo mais previsível para começar, e assim não pareço muito extravagante. E como estavam? Di-vi-nais! O molho estava no ponto, bem guarnecida de limões e o pão onde se ensopava o referido molho era pão como deve ser, não aquele plastificado das padarias chinesas. Mesmo ameijôas eram umas senhoras ameijôas, e não aquelas bicharocas subdesenvolvidas que apanhamos por aí no mercado, com mais areia do que outra coisa. Aprovado e comprovado.
Para o prato principal pedi Pica Pau, que é daquelas coisas que "does the job" quando toca a encher a barriga. Em Macau já é um sucesso quando o bife não está rijo como os cornos de quem o cozinhou, mas aqui deixem-me dizer-vos que estava mastigável e deglutível ao ponto do soberbo: nem rijo, nem se desfazia na boca. Em suma, parecia mesmo que estava ali a comer qualquer coisa de jeito. Os picles e as azeitonas estavam tal e qual como eu gosto. É como podem ver aqui na imagem, senhoras e senhores, meninos e meninas.
A minha acompanhante optou pelo célebre "Bife à Portugalia", algo cuja fama dá ao deprimente "bife à casa" comum um outro "elan". Julgo que nunca provei o autêntico, mas pelo menos no que a bifes grelhados mergulhados em molhos turvos onde na composição é apenas possível identificar vestígios de vinhaça diz respeito, este anda pelo "suculento" e o "de chorar por mais" - para não exagerar nos louvores, que são mesmo assim inteiramente merecidos. A acompanhar tivemos batatas fritas, que apesar de serem obviamente congeladas, não vinham ocas por dentro e ensopadas em óleo, como ja é tão comum encontrar em Macau, que já nem o mais exigente dos "gourmet" desespera. Para beber pedi uma caneca de imperial Heineken, servida com grau de frescura perfeito, e no fim "saltámos" a sobremesa e fomos directos para o café.
Fomos superiormente atendidos por este senhor, que após uma breve consulta na net fiquei a saber responder pelo nome de Diogo Vieira. Palavras para quê? Olhando para ele dá para ver logo que ali se come bastante bem; e nao me refiro apenas à sua ampla moldura (tanto melhor, que assim fica menos vulnerável a apanhar gripe), mas tambem pela simpatia e boa disposição que irradia. Um bom cozinhado é no fundo um pouco como uma boa queca: dá para perceber se a pessoa comeu bem - nos dois sentidos, lá está - ou se teve que se contentar com qualquer coisa feita à pressa, sensaborona, e em alguns casos de origem duvidosa e muito longe da frescura ideal. A conta ficou em pouco mais de 700 patacas, o que se pode considerar alto puxadote para duas pessoas, mas já em jeito de conclusão deixem-me que vos diga apenas isto: recordo a ida a Portugália por aquilo que comi, e nao pelo que paguei. E um dia destes volto para "investigar" os bichos do mar. Até breve!
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