Assim como na Liga dos Campeões, esta semana ficámos também a conhecer os finalistas da Liga Europa, cuja final se realiza a 28 de Maio no Stadion Narodowy, em Varsóvia, capital da Polónia. O Sevilha, detentor do troféu, que como se devem lembrar conquistou no ano passado na final frente ao Benfica, confirmou a presença no jogo decisivo na defesa desse mesmo troféu. Depois de vencer a Fiorentina por expressivos 3-0, os andaluzes foram a Itália voltar a vencer, desta feita com dois golos sem resposta, da autoria do colombiano Carlos Bacca e do defesa português Daniel Carriço, aos 22 e 27 minutos, respectivamente. Ficava praticamente impossível à equipa da casa dar a volta ao texto, pois seriam precisos marcar seis golos em 60 minutos, e do outro lado não estava uma equipa qualquer. E pode-se dizer que este troféu da Liga Europa, conhecido até 2010 por Taça UEFA que perdeu muito do seu prestígio com os constantes alargamentos na Champions foi "talhado" para o Sevilha, que em nove anos atinge a quarta final, e fica com oportunidade de repetir este ano o "bis" de 2006 e 2007.
E pela frente o Sevilha vai ter nem mais nem menos que o Dnipro Dnipropetrovsk - ora diga lá isto depressa três vezes e sem se enganar. Mas já vamos falar desta equipa cujo nome surpreende especialmente quem não percebo uma chavo de futebol (a minha mulher, por exemplo), e onde curiosamente joga um português, o extremo-direito Bruno Gama. E apesar de ser habitualmente titular, foi do banco que o extremo luso viu a sua equipa fazer história ao chegar a uma final de uma competição europeia, tornando-se a terceira equipa ucraniana a fazê-lo, mas apenas a segunda desde o fim da União Soviética e a independência do país, em 1992. O Dnipro já tinha feito história com a presença nas meias-finais, mas a para a festa a ficar completa nada como tirar do caminho os italianos do Nápoles e ir até final como gente grande. E assim foi mesmo em ambiente de festa que o Dnipro recebeu no Estádio Olímpico de Kiev - onde realiza os seus jogos nas provas da UEFA e venceu os comandados de Rafael Benitez, com um único golo de Evhen Selznyov, depois de na semana anterior ter empatado a uma bola no Estadio de San Paolo. O Dnipro encontra-se no terceiro lugar do campeonato da Ucrânia com menos dois pontos que o segundo, o Shaktor Donetsk, e menos nove que o líder e praticamente campeão, o Dinamo Kiev, pois são exactamente nove pontos que faltam disputar nas três jornadas que restam da prova. O Dnipro va ter um verdadeiro ciclo infernal pela frente; assim joga já este fim-de-semana em Kiev frente ao líder a contar para o campeonato, e a meio da semana vai a Donetsk jogar a segunda mão das meias-finais da taça frente ao Shaktar, tendo perdido em casa no primeiro encontro por 0-1, e depois antes da final europeia com os espanhóis há outro jogo em casa contra este mesmo adversário para o campeonato. Dois dias depois da final de Varsóvia há a última jornada do campeonato frente ao Hoverla, equipa da cauda da tabela. Ou seja, a época do Dnipro pode-se jogar toda nestes próximos 15 dias em que realiza cinco encontros decisivos; se ganha todos fica com o troféu da Liga Europa, acesso ao "play-off" da Champions, onde a presença seria uma estreia (pelo menos no presente formato), e ainda tem um direito a um jogo suplementar e outro troféu, caso se qualifique para a final da taça do seu país. Perder um destes jogos e empatar outro pode ser o suficiente para não ganhar nada. Parece que poupar jogadores para qualquer uma das competições em que o Dnipro está envolvido.
Agora falando do nome do clube, que só se consegue pronunciar correctamente sendo russo e estando embriagado, muitos devem achar estranha a repetição do primeiro nome, que soa a qualquer coisa como "dinheiro", mas acabado em em "epro" - "dinhepro", seguido de um "pé-troves-que". Porreiro, isto tudo tem uma razão de ser claro, e não acontece por acaso nem se justifica como todas as coisas do mesmo tipo: "são russos e estão bêbados". E assim é porque estes gajos do "Dinhepro" são, helas, ucranianos. Isso mesmo, os tais tipos que andam aí por Portugal a fazer pela vida, e alguns, coitados, com menos sorte, acabam a cravar trocos à malta, usando como "quebra-gelo" uma frase que pronunciam assim: "Dez culpe, más o zénhor poude fázer-mé um fávor?". E que quer dizer este nome, afinal? Ora podem deduzir pelo barquinho que se vê no emblema do clube, anda ali metida qualquer coisa de marítima ou de fluvial, e por acaso é fluvial - "Dnipro" é o nome do rio que, agora atenção à chave do mistério, atravessa a cidade de Dnipropetrovsk, onde fica sediado o clube de futebol de que hoje vos falo.
À vossa esquerda podem ver a cidade de Dnipropetrovsk, atravessada pelo rio Dnipro, que é o maior afluente do Volga, e banha também Kiev, a capital da Ucrânia. É a quarta maior cidade ucraniana depois da já referida Kiev, Cracávia (Kharkiv) e Donetsk. Fui fundada em 1787 por Catarina a Grande, imperatriz da Rússia (os russos são todos "grandes", e por isso levou o nome de Katorynoslav, oui Ekaterinoslav. Depois da revolução boi-que-chique bolchevique foi rebaptizada em 1926 com o nome do rio que a atravessa juntamente com o apelido do governador da então novel República Socialista da Ucrânia, Grigrory Petrovsky, que é o senhor que vêem na direita e que poderá fazer lembrar um pouco o Coronel Sanders, o fundador da cadeia de restaurantes KFC. Pois este não tem mesmo nada a ver com esse, quer em número, quer em grau. Petrovsky foi um dos redactores do documento que deu origem à fundação da URSS, bem como do tratado de Brest-Litovsk, eventualmente decisivo para a vitória dos aliados na II Guerra Mundial. Para não se ficar com dúvidas quanto ao seu papel na História, foi também um dos mentores do Holodomor, o holocausto ucraniano idealizado por Estaline, que visava matar os ucranianos todos de fome. Em menos de um ano calcula-se que terão morrido perto de 7 milhões.
O clube propriamente dito foi fundado logo após a revolução soviete, em 1918, e foi apenas a partir dos anos 80 e ainda debaixo da alçada de Moscovo que amealhou os seus únicos títulos até hoje, tendo vencido o campeonato da URSS em 1983 e 1988. Nesta última ocasião participaram na penúltima edição da antiga Taça dos Campeões, e na altura encontraram o Benfica nos quartos-de-final. Um "penalty" de Magnusson logo aos seis minutos deu uma vitória tangencial à equipa portuguesa no jogo da primeira mão em Lisboa, e já em Dnipropetrovsk, no estádio Meteor, a equipa então treinada pelo sueco Eriksson venceria por esclarecedores 3-0, curiosamente com dois golos apontados por Lima - não o actual avançado brasileiro que o Benfica foi buscar ao Braga, mas um tal Adesvaldo de Lima, que teve uma passagem mais fugaz pela Luz. Na altura as águias perderiam na final frente ao AC Milan, e para o Dnipro, que na altura era conhecido pela versão soviética Dnepr, foi o melhor resultado de sempre em provas europeias...até ontem. Apesar dos dois títulos de campeão da URSS e ainda uma taça e uma supertaça, o Dnipro não se conseguiu impôr no campeonato da Ucrânia, cujo domínio vem sendo partilhado por Dinamo Kiev e Shaktar Donetsk, que conquistaram em conjunto 22 dos 23 campeonatos nacionais disputados até hoje. Neste particular Dnipro tem "corrido por fora" , e o melhor que tem para mostrar é dois segundos lugares na liga e três derrotas na final da taça. E agora isto. Parabéns "dinhepronjeprotectosvy" ou lá o que é.
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