domingo, 31 de maio de 2015

Fogo em palha seca


Foi como atear fogo em palha seca, assim sem mais nem menos, a Bloomberg diz que o desempenho da Economia de Macau é "deplorável", possivelmente a pior coisa jamais vista desde a Grande Depressão de 29. Esperem, muito, muito pior que isso. Cem depressões de 29. Macau é uma depressão de 2900. Como já disse aqui várias vezes, *detesto* Economia, mas gosto de gráficos de barras, tabelas, estatísticas, em suma, em Economia sou um bocado como as crianças mongolóides e os chimpanzés mais ou menos inteligentes: gosto de coisas coloridas, que façam barulho e andem à roda, e de preferência com luzes que piscam. E é exactamente o gráfico de cima "que pisca" para os gajos da Bloomberg, que se não é impressão minha, estão apenas a alinhar na "caixinha" que os nossos amigos americanos têm feito ultimamente no sentido de provocar a China, por tudo e por nada. Ora Macau é isso mesmo, China (mais do que aparenta, infelizmente, mas apenas porque gostávamos de ver concretizada a tal ideia do "elevado grau de Economia, entenda-se), e como tal um "crash" destes nos números da Economia dos últimos dois anos vem mesmo a calhar para que os gajos comecem para ali: - "Hey, loo'ka that! Geezus fuckin' Christ! Seen these numbahs of Macau's economy, God dam!" - "Oh fuck! Yeah! That's fucked up shit mudafucka" - "Ya bet, asshole! Just as sure as I came all over ya wife's face last night!".


Mas disto não falam eles, os sacanas, pois não? Olha ali o nosso PIB, todo vicoso, em crescendo, e agora permitam-me que cite o bruxo Alexandrino: "firme e hirto, como uma barra de ferro". É sempre a subir pelo rabiosque daqueles gajos acima, toma! Pois interessa lá se agora a China anda para lá a engavetar os gajos que cometem aqueles desfalques de centenas de milhões de remnimbis, à custa de empregos, da miséria de famílias, do desprezo pela vida humana ou pela solidez das infra-estruturas públicas, e depois vêm para aqui branquear o pilim pois caso ficássemos sentados à espera dos pindéricos dos locais para jogar estávamos feitos ao bife? Temos a dispensa cheia para o mais longo e rigoroso dos Invernos, não vêem? Tá bem, pois, agora parece que estão a despedir uns trabalhadores dos casinos, e anda por aí um regabofe que tal, mas isto deve-se apenas ao facto de um dos magnatas locais ter ficado com o coração nas mãos depois de só ter podido realizar um casamento de 60 milhões de dólares ao seu filho mais novo, que de olhos lavados em lágrimas recordou ao pai que poucos anos antes o irmão mais velho havia tido uma boda cuja conta ultrapassou os 100 milhões - isto são problemas dos ricos. Sim, eles também sentem, choram, e depois assoam-se em lenços da Bromley, da Duchamp, e por vezes até da Fiorio Milano. É triste.


E depois olhem para o nosso PIB per capita, o quarto maior do mundo! Aqui está a prova da desonestidade intelectual destes gajos: dizer que a Economia de Macau é "deplorável", ou que "bateu no fundo", é o mesmo que dizer que um residente de Macau aufere rendimentos e goza de uma qualidade de vida de fazer qualquer australiano, suíço ou canadiano babarem-se de inveja. Ainda bem que tivemos lá no Telejornal o Albano Martins, que essoutro sim, gosta de Economia (e de quadrúpedes, ruminantes, etc.) e explicou-nos que as coisas "não são bem assim". Nem bem, nem mal, não são assim e acabou a conversa! Macau não é bem uma Economia, quer dizer, é, mas é como dizer que a MLS e a J-League são ligas de futebol "sérias, competitivas e que dão gosto ver". É um bocado assim...qual é a palavra que eu estou à procura...ah! É uma farsa. Senão vejam:


Aí está a nossa balança comercial, e não, não está ao contrário. Aqui sim, somos a "number one in the world", quais quarto lugar, qual quê. Se os gajos da Bloomberg pegassem antes nisto, tinhamos aí aviões com ajuda humanitária a sobrevoar o céu de Macau em menos de nada, a despejar lá de cima sacas inteiras de sementes de girassol. Este foi o não-resultado do não-investimento na diversificação da Economia: é o que nos deu o tal Parque Industrial da Concórdia, do qual nunca chegou a ser lançada a primeira pedra. É que apesar de termos a pior balança comercial, pior  índice de investimento externo, um registo de vendas a retalho de meter dó, em suma, não vendemos um parafuso que seja para lado nenhum, mas temos uma folha de pagamentos limpinha, limpinha, reservas a dar com um pau, e uma taxa de desemprego de 1,7%, das mais baixas do mundo (certamente uma das mais baixas da Ásia). Ah sim, e não se esqueçam que os 98,3% da população activa que compõe o mercado de trabalho aufere rendimentos "per capita" superiores aos próprios Estados Unidos!


Agora...compararem-nos com a Grécia?!?! Haja dó. Estão a ver este gráfico aqui em cima? Isto não é o PIB grego, mas sim a percentagem da dívida do Governo em relação ao PIB. Isto vale por dizer que nos próximos cinquenta anos não vão nascer gregos que aceitem trabalhar de borla em número suficiente para liquidar esta dívida. Estes são uns tipos tão habituados ao calote que quando toca o telemóvel do gajo sentado ao lado deles já dizem compulsivamente: "se for para mim não estou". Quando um turista aborda um ateniense para lhe perguntar o caminho para o Partenon ou para o raio que o parte, o ateniense mostra-se arisco, e antes que o forasteiro abra a boca já soltou um "o que é, pá? pago-te amanhã, fogo! unha-de-fome!". Comparar-nos, a nós, com a Grécia? Isso é que é a grande tragédia.


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