quarta-feira, 15 de abril de 2015

Hihihihi-hiena


Este distinto senhor com uma cara super simpática e que tem ar de ser açoriano, a julgar pela Lagoa  de Furnas que leva dentro da barriga e cujo vapor lhe sai pelo nariz e boca é...advogado de José Sócrates. Agora se calhar estão aí a pensar: "Ó Leocardo seu maroto, este senhor é aquele do Trio Odemira. O advogado de José Sócrates é este":


Estou a ver que a nem o maremoto salomónico que foi a entrada em cena de Marinho Pinto conseguiu limpar por completo o bom nome dos advogados portugueses. É possível ainda que a maioria se lembre de João Vale e Azevedo primeiro como presidente do Benfica, e só depois como advogado - ou nem isso. Os adeptos do clube da Luz recordam-no com carinho, e no fundo desculpam-no por ele ter usado o cargo para...nem eu nem ninguém sabe muito bem, mas não foi para ganhar títulos, com toda a certeza. Bem que podia ser ele o advogado do ex-PM eleito o homem mais "sexy" de Portugal pelo Correio da Manhã pelo mesmo motivo que também o impede de ser: ambos conhecem o sistema judicial português...por dentro e por fora. Mas calma lá, que isto é sério, e a partir de agora quem quiser chamar os bois pelos nomes, convém acrescentar antes "alegado". Chamemos o primeiro.


Aqui está, mas pela forma como o fumo lhe vai saindo pelos orifícios, diria que era mais uma "vaca sagrada". O dr. João Araújo tem sido o representante legal de José Sócrates desde que - e agora reparem como isto é tão giro - alegadamente alguém lhe disse que era seguro regressar a Portugal, pois caso tivesse que prestar depoimento a respeito de alegadas investigações que davam conta de alegadas ilegalidades da sua parte, não ficaria detido a aguardar alegado julgamento - e aqui não me enganei, pois é bem possível que agora o julgamento que tantos querem "para ontem" poderia nunca se realizar caso ao ex-PM fosse aplicada outra medida mais ligeira. Não estou a insinuar nada, mas temos casos do passado em que os julgamentos chegaram tarde ou a más horas ou nunca chegaram, e nesse período fez-se o habitual trabalho de diluir o tempo e a pertinência nas habituais tecnicalidades: julgam-se uns peixinhos miúdos, adia-se duas ou três vezes, o tempo passa, os jornais mais "chatinhos" começam a "esquecer" o caso, já se sabe, e não é a toa que pela primeira vez temos um figurão do calibre de um ex chefe de Governo a dar com a coiraça na choldra. Posso falar assim, dr. João Araújo? Ou é preciso acrescentar "alegadamente"?

Depois de saltitar de "gaffe" em "gaffe" e protagonizar uma célebre arruaça com uma jornalista (a relação dele com os média é directamente proporcional à sua "fotogenia"), o dr. Araújo volta à carga contra os julgamentos do seu cliente feitos na praça pública por pessoas que tinham o dever de se  pautar pela isenção : magistrados, que também são pessoas, mas aqui a praça pública é virtual - o Facebook. Foi o próprio dr. Araújo que expôs o caso numa entrevista dada por si em Fevereiro na TV, acusando um grupo de procuradores do Ministério Público de "fazerem comentários públicos a decisões judiciais", e o problema é que aqui a "decisão" foi a de administrar a medida coerciva que já sabemos ao seu cliente. A notícia agora é que os tais "feicebuqueres" bateram de frente com a "face" na parede e são agora de processo de inquérito por parte do Conselho do MP. Mas foi mesmo assim tão grave? Melhor do que explicar é ver alguns destes comentários, acrescentando a respectiva interpretação no contexto. Para o efeito resolvi transcrevê-los por ordem de importância, critério inteiramente da minha responsabilidade:

“Deixa-me rir!! Uma boa parte do PS podia mudar-se para Évora. Quiçá para o Estabelecimento Prisional”
Bom. Este comentário  - e nem preciso de dizer que não estão publicados os nomes dos seus autores e nem isso tem importância - foi feito a propósito da eventualidade do ex-PM "pôr a boca no trombone", enquanto já se fazia a romaria entre o Largo do Rato e Évora. Uma maldadezinha sem importância, e repare-se no cuidado com a linguagem e compostura: "deixa-me rir", com dois pontos de exclamação, como quem usa metade de um pacote de açúcar para adoçar o café, é o seu lado "rebelde", o limite da loucura. "Uma boa parte do PS" não generaliza de todo e este "quiçá" (quem é que usa "quiçá" num grupo de Facebook?) é apenas uma possibilidade. E note-se como se refere à jaula, choldra, xadrez, gaiola, etc. como "Estabelecimento Prisional". Fosse o Facebook inventado na era dos telegramas, e tínhamos aqui o exemplo de uma comunicação caríssima. Fico sem perceber porque é que está o dr. João Araújo tão indignado com este "alguns podiam e quiçá possivelmente talvez" sem referir um único nome ou dar nenhuma pista, com o seu cliente atrás das grades e o país inteiro para lá daquele espaço numa rede social a saber disso. Sim, já sei que o jogo tem regras, e o dr. Araújo então está sempre a querer que a bola role.
“Que corrupio na cadeia de Évora…estarão todos com o rabo preso? Dizem que quem lá vai são os entalados do regime. Se assim é, ainda a procissão vai no adro. E saem todos satisfeitos. Talvez porque se sentem aliviados…por enquanto LOL…mas atenção que o homem não se cala”
Mas atenção...chegou o espertalhão. Este magistrado despachado não diz "estabelecimento prisional" coisa nenhuma, é "cadeia" e mánada. Aquelas insinuações de índole sexual que acabam no alívio dos personagens e um motivo religioso pelo meio dão a entender que este era 1) o cábulas da turma, filho de um bate-chapas que foi escravo na Alemanha durante 15 anos para pagar o curso ao ranhoso, ou 2) a fina-flor de um novo estilo de magistrado, da escola do Direito direitinho. Quando condena um violador, sente-se todo justiçado e atira com um "então ó fodinhas, foi bom? agora fazes no tijolo da jaula, e é se não fores tu o tijolo". À entrada para um julgamento, encontra um advogado seu amigo a conversar com um cliente, dá-lhe um tapa nas costas e exclama "Olhó petas...o que é esse 'não fez' ah ah, epá não vou à bola com o tipo...tem focinho de pedófilo. Mas devemos entender estas coisas do ponto de vista humano, pois afinal os magistrados são pessoas como as outras, com a pequena diferença que ganham o triplo, ou mais, do que o cidadão médio mais desenrascado, mas que escreve LOL como toda a gente. Mas isso é irrelevante para o essencial, e com isto até já pareço o dr. João Araújo.
“Com toda a razão, afinal ele estava habituado aos mais requintados restaurantes em Paris.”
Este outro magistrado comenta os protestos da parte dos outros detidos no EP de Évora após a chegada de Sócrates, que exigiram "um secador de roupa e melhor comida no refeitório, e finalmente..
"Há dias perfeitos. Hihihihihi". 
O "hihihihihi" é suspeito, mas tirando isso não vejo que mal é que tem um magistrado, que supostamente deve zelar pela qualidade da justiça, fique feliz com a detenção de um famoso larápio. Ooops! Alegado larápio. Larápio em estado de casulo, falta a formalidade do julgamento para que se transforme em borboleta, com o senão de esbarrar nas grades quando tentar voar "quiçá para Paris". E é por isso que o dr. João Araújo desespera: pela impossibilidade de convencer seja quem for de que o seu cliente é inocente, ou que a medida de prisão preventiva que a ele foi aplicada não se justifique. Quem olha para o Engº  José Sócrates vê ali um aldrabão trapalhão, apanhado tantas vezes com as calças na mão que se já se torna impossível acreditar que tudo não passa de uma cilada armada contra ele, ou que são apenas "coincidências".

Agora já sei o que estão a pensar, e deixem-me dizer-vos que não vou nessa tanga: os "julgamentos na Praça Pública" existem sim, mas é tudo no éter ilusório da popularidade, e pronto, do "bom nome", se quiserem, mas quem se sentir lesado tem os meios legais todos à sua disposição - Portugal (ainda) não é uma anarquia. Ninguém convence que os magistrados, e aqui deixem-me recordar que o nosso país é um dos mais elogiados a nível mundial pela qualidade do Direito, se vão deixar influenciar pelo que ouvem na rua ou pelo que lêem nos jornais, que até os mais simples estucador ou trolha sabem que tudo o que ali vem se acredita na base do "depende quem e do quê", e é mais ou menos público qual a filiação partidária dos directores ou a tendência das linhas editoriais de cada jornal.

Essa manobra de diversão que é atirar à opinião pública a culpa pela caca que os seus representados fizeram cai no saco roto na hora de ir à mesma opinião pública pedir os votos. Portanto, quer dizer que não me é permitido abrir a boca para simplesmente achar inoportuno que um tipo que apresentou não sei quantos planos de austeridade para Portugal vá depois viver como um lorde em Paris? E a não ser que os franceses também estejam alinhados com os anti-Socrates, isto é verdade e nem há como o desmentir. A questão dilui-se um pouco nas lutas partidárias e não é por acaso; é mais fácil culpar a oposição pelas escutas onde se houve um político assumir as maiores canalhices e recorrendo à sua boçalidade latente para o fazer, do que simplesmente dizer "epá este gajo é uma besta, vamos correr com ele antes que fiquemos indelevelmente associados ao seu nome". Ah, e já agora, não sou o José Maria Carrilho em disfarce, se é isso que estão a pensar. Pode muito bem atirar-se para o chão a pedir "penalty", Dr. João Araújo, mas a bola está no seu meio-campo, na sua área, e está prestes a entrar a contar para golo.

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