Fiquei um mês fora de Macau, futura cidade dos pandas Leu Leu e Xu Xu, e este foi o mês de Agosto que me lembro mais incidentado no território. Não que tivesse sido assim tão incidentado, mas os outros anos eram mesmo cinzentões. Desde o caso da Sagres (a outra que não a cerveja), com um epílogo de guerrilha entre directores de jornais, uma ou outra declaração polémica, uma certa ponte que foi construída a tempo e horas, pouca coisa.
A Sagres não foi autorizada a aportar em Macau, e a notícia caíu que nem uma bomba...aqui. Eu estava em Portugal e alguém comentou a notícia comigo, mas esteve longe de estar no top dos temas de conversa. A mim pouco me interessa que a Sagres venha aqui ou não. É um facto pífio. O que a gente precisa de se começar a lembrar é que nos bilhetes de identidade de cidadão nacional emitidos pelo Consulado Geral, diz na residência “República Popular da China”. Mais nada. Não diz “Macau”. Nós aqui estamos no estrangeiro, na China, noutro país. Como residentes permanentes usufruímos dos mesmos benefícios dos cidadãos que aqui nasceram e cresceram (e nem todos...), chegava a altura de parar com aquela coisinha de protestar sobre tudo o que parece um “ataque aos portugueses”. Não considero aquilo humilhação nenhuma, não me sinto ofendido, e epá, deixem V. Exas. atracar quem quiserem.
Mesmo assim,
quem divulgou a notícia foi o nosso grande João Severino, que mesmo longe vai estando atento aos assuntos de Macau. E haja lá em Portugal alguém que ainda pense em Macau, que vão sendo cada vez mais poucos. Tendo sido isto uma “cacha” para Severino, o director do JTM, José Rocha Dinis, aproveitou para o “picar” aproveitando para isso
um editorial em jeito de resenha sobre o que se foi passando em Macau em Agosto. Em defesa do seu antecessor nas lides do Hoje Macau, Carlos Morais José
respondeu no dia seguinte, no estilo frontal e directo que nos tem habituado. Um verdadeiro puxão de orelhas, ou em linguagem bélica, um “golpe fatal”. Ainda o sangue do oponente fervia na arena, e CMJ
levava logo a resposta, em jeito de risota. Como todos se riem imenso, conclui-se. Um combate renhido e interessante de seguir entre os dois monstros sagrados (no bom sentido...) da imprensa escrita do território.
Entretanto os democratas voltaram a ser “malcriados” (opiniões...), e
atacaram um dos secretários do Governo (secretária, neste caso). Na cena política
aparece Jason Chao (excelente entrevista de Sónia Nunes), um jovem de 23 anos que preside agora à Associação do Novo Macau Democrático. Confesso que também não me sinto muito à vontade com o discurso do NMD, mas digam-me então, que discurso querem? Não pode ser sempre a dar graxa e a dizer que está tudo bem, porque não está, e não pode ser a falar mal porque é má-educação. O meio-termo nem sequer existe. Definam-se, e depressa.
O director da DSAL, Shuen Ka Hung, voltou a urdir mais uma pérola,
ao afirmar que “quem está mal, que se mude”, a respeito da situação dos trabalhadores não-residentes. Não o levo a mal, contudo. O que Shuen disse foi apenas o clímax de tudo o que se diz e pensa por aí todos os dias. Que quem se queixa é mau ou não ama a pátria, e se os estrangeiros não estão contentes, que voltem lá para casa, onde são mais felizes, e não queiram resolver os nossos problemas, que nós não pedimos. Se a população não está virada para sair em defesa da mão-de-obra estrangeira que praticamente fez tudo o que está feito em Macau, eles é que sabem. Não é assim que funciona a democracia e a liberdade?
Na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues vai-se construíndo esta ponte, encomendada à medida dos pangyaos da delegação da RPC ali perto. Tornou-se público há alguns meses que causava transtorno o facto dos funcionários daquele departamento precisarem de andar uns 50 metros para atravessar a rua. A China quer, o homem sonha, a obra nasce.
Finalmente queria tirar o chapéu ao JTM pela homenagem ao escritor e historiador Leonel Barros, por altura do seu 85º aniversário. Barros é um dos melhores escritores e contadores de histórias de Macau, e merece tudo de bom, e gente que o queira publicar. Aos 85 anos continua uma caixa de surpresas, e de certeza que mais 85 não chegariam para contar tudo o que Leonel Barros tem para partilhar. São contos, lendas, tradições, factos e curiosidades históricas ao nível do prof. José Hermano Saraiva, para dar um exemplo mais mundano. Que nos continue a brindar com a sua escrita por muitos e bons anos.
8 comentários:
Vista assim, essa passagem aérea parece uma aberração, tão perto que está do monumento ao "olho do cu". Não é que goste do dito cujo, mas não tem ponta por onde se pegue construir uma coisa dessas em cima de um monumento. O choque de volumetrias é mais do que evidente. Pobre Macau, "quo vadis"?
Cu a quem? Onde está o Vadis? É sapo?
O sapo talvez goste daquela aberração (ou daquelas, o monumento e a ponte), mas eu não. Acho que a seguir vão deitar o olho abaixo.
O olho do cú não deitam a baixo. O que seria do orgulho nacional?
Mas que a ponte foi muito mal parida lá isso foi...
AA
Será: "que vão sendo cada vez mais poucos"ou
"que vão sendo, cada vez mais, poucos".
a analisar....
AA
Caro Leocardo,
Vou voltar ao "caso" da Sagres.
Eu não me senti ofendido pelo facto de o navio não ter vistado Macau.
Fiquei desiludido.
Simplesmente porque gostava de ver o navio, que é muito bonito, e gostava que outras pessoas tivessem a oportunidade de o ver e de o visitar.
O que foi relevante neste episódio foi o imbróglio que se criou com uma situação que estava explicada há muito tempo.
Não existiam condições para o navio se deslocar a Macau, e as diplomacias dos dois países, bem como a Marinha, eram conhecedores desse facto.
Então porque é que não explicaram, clara, directa e sucintamente, essa situação quando a notícia surgiu?
Porque é que deixaram empolar um "caso" que nunca o foi?
Quem é que tomou tão levianas e irresponsáveis atitudes?
E com que intuito?
Perguntas ainda sem resposta.
Não veio o Sagres, mas há cá Super-Bock com fartura. E o Shuen Ka Hung devia beber algumas, para ver se ficava um bocadinho melhor do cérebro. Se houvesse um concurso de idiotas, ninguém batia o Sr. Shuen Burro.
em Portugal, e desde que Sócrates é o 1º, a Super Bock já bate mais que ganza.
Porque será, zombies?
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