Estamos no Natal. O Natal amolece os corações mais frios e insensíveis. Ou será que é mesmo assim? Temos uma tendência demoníaca para nos preocuparmos com os nossos, se estão bem, se não lhes falta nada. Se temos um velho no lar levamo-no para casa. Pelo menos uma vez por ano não o deixamos ao abandono. A mesa é farta, as crianças sorriem ao abrir as prendas, e temos o sentimento do dever cumprido. Que bonzinhos que somos.
Perdoem-me esta introdução um tanto ou quanto amarga. É que custa, custa mesmo ver todos os dias este pobre desgraçado ali pelo largo do Senado, acompanhado de um carrinho com as suas tralhas. Apesar de velho, passa o dia de pé, cabisbaixo, espinha dobrada, atitude de quem já não espera mais nada. Só a morte. Seria interessante saber a sua história. De onde veio, como foi ali parar, se tem família, ou se simplesmente não quer ajuda porque tem dignidade ou somente porque é teimoso.
O que custa ainda mais é perceber que este velho sem nome vive ali, mesmo junto às multinacionais da Levi's ou da Starbucks, que parecem ignorar a sua existência. E se ignoram não é porque não se apercebem, pois este cidadão que a sociedade cuspiu dos seus brônquios mais sujos emana um cheiro a urina que se espalha além da limitada área da sua insignificante existência. Será porque simplesmente "são boas pessoas", e não vão correr com o velho dali.
E é agora no Natal que custa mais engolir a miséria humana. Principalmente aquela que nos dá uma bofetada com a sua luva mais imunda. Reportando-me ao meu último "post": será que ele sabe que é Natal?
11 comentários:
Feliz Natal para si Leocardo.
Um grande Natal para o meu caro amigo João Severino, e que 2008 lhe traga o sucesso que merece.
Parabéns por este post. Das suas amargas, mas sinceras palavras comungo sem hesitar. Da minha breve passagem por Macau, há pouco tempo, também retenho em mim a imagem desse pobre homem. Para ele e muitas outras pessoas como ele, tudo deverá parecer vão. Vidas tristes que nem os natais alegram. FELIZ NATAL para si e para todos os macaenses!
Bom, tive que apagar um comentário bem triste e despropositado. Enfim, alguém que se meteu nos copos ainda antes da consoada...
Muito bem Leocardo. Confesso que estava a preparar uma posta semelhante,talvez não tão "forte". Mas quando vejo este senhor, ou quando ao passar sinto aquele odor, por vezes duvido que esteja em Macau.Aquele senhor está lá a apodrecer e eu sou mais uma, no meio de centenas, que passam por ele e nada fazem.Algo aqui está errado.Não sei se também já reparou num outro senhor que está sempre com os mesmos calções e t-shirt a dormir pelos bancos.Ontem vi-o a ser levado numa ambulância (fiquei contente: sei que passou um Natal bem mais "quente" e "aconchegado").Mantive a esperança mas ao chegar ao tal local reparei que houve quem não tivesse a mesma sorte...
Certo, minha cara Lei, dói ver e não fazer nada, mas não nos cabe a nós agir. Num território onde dinheiro é coisa que não falta, é difícil perceber porque é que isto acontece e bem no meio do centro turístico. E logo com a Santa Casa mesmo ali em frente. Se o pobre velho estivesse plantado em frente a um casino, já há muito que tinha de lá saído.
Um grande abraço de bom Natal e desejos de próspero ano novo para si e para os seus.
Gostava de saber porque o meu comentário frontal e "sem espinhas" ou rodeios foi apagado sr leocardo. Julgo que esses tiques ditatoriais lhe ficam mal nesta quadra tão bela.
É bonito soltar lágrimas pelo senhor e fazer pedidos ao céu, mas não vejo ninguém de bom coração, e com comentários semelhantes aos que aqui li, disposto a ajudá-lo e a dar-le um futuro melhor.
PS: Já alguma vez pensaram que ele pode não estar ali obrigado?
Um Abraço do Armando
Meu caro Armando, penso que soluções como "levar o velho para casa" ultrapassam os limites do surrealismo. E para mais deixe lá o o João Severino em paz, se o quiser atacar ele tem lá um blogue onde você pode fazê-lo. Isso é que fica mal nesta quadra tão bela.
Cumprimentos e boas festas.
Prezado leocardo,
Permita-me, uma vez mais, discordar consigo. O meu comentário sublime e frontal sobre o "velhote" do Leal Senado tocou-lhe na ferida; como eu esperava, mas espero que tenha percebido o alcanse da mensagem.
Quanto ao Sr Severino, apenas interroguei-o, sem ofensa nem reservas, sobre se estava a pensar visitar Macau nos seus próximos tempos.
Um Abraço do Armando
«Alcance», Armando, «alcance»!
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