Todos temos a nossa história para contar quando viajamos em “tour”. É um facto que o turismo é uma indústria, uma máquina bem oleada, com o intuito de fazer dinheiro. Em Macau não é diferente. É mais que sabido que algumas agências de viagem limitam-se a levar os turistas do hotel para os casinos, às tais lojas negras e de volta ao hotel. Eventualmente faz-se uma passagem pelas Ruínas de S. Paulo ou outro
ex-libris da cidade. Só que se a indústria é igual em todo o lado, já os turistas são uma espécie mais heterogénea.
Um grupo de turistas originários da província de Heibei, no norte da China, perdeu ontem a paciência e causou tumultos na praia de Hac-Sá, em Coloane, ao final da tarde. As versões são, como sempre, contraditórias, mas os turistas dizem-se “enganados” pela agência responsável pelo seu périplo pela RAEM. Queixam-se que passaram por muitas lojas e visto pouco do território. A última gota terá sido quando um dos guias terá alegadamante dito aos turistas que “gastaram pouco dinheiro” ou que vêm a Macau “comer e beber de graça”, ao mesmo tempo que convencia os turistas a pagar 300 patacas para assistir a um espectáculo na Venetian.
A situação tomou contornos dramáticos quando um agente da PSP, ao passar pelo local, tentou serenar os ânimos. Segundo um dos turistas, uma mulher, o agente tê-la-a agredido, mas testemunhas no local dizem o contrário. O caldo ficou entornado quando a polícia destacou uma centena (!) de agentes do piquete anti-motim para o local. Os turistas queixam-se de “uso excessivo da força”. Pudera. As altercações terão durado mais de três horas, e terminaram com a detenção de quatro dos elementos do grupo.
A notícia mereceu destaque imediato nos orgãos de comunicação de Hong Kong, naquilo que se pode considerar mais um capítulo na antiga rivalidade entre os dois territórios. Os operadores de Macau passam a bola para a RAE vizinha, afirmando que os turistas vinham “indispostos” pela forma como tinham sido tratados em Hong Kong. Um dos turistas queixosos é membro da conferência consultiva do povo chinês, e alguém o terá ouvido dizer que ia voltar para a RPC e “dizer mal” de Macau. Alguns dos turistas acusam mesmo os guias de chantagem. É mau.
A deputada Kwan Tsui Hang chamou hoje a atenção para o problema de alguns pacotes turísticos que vendem “gato por lebre”, ao oferecer viagens gratuitas. Veja as imagens dos incidentes
aqui e
aqui.
16 comentários:
É com estas cenas caricatas que Macau consegue aparecer nos telejornais e noticias de Portugal. Ora bem, são podem ser boas noticias cá para a malta...
um abraço do Armando
As FSM vivem problemas internos graves, e as únicas mensagens de "união" que conseguem passar são estas cenas tristes. Foi o 1 de Maio e agora isto.
A médio longo prazo será insustentável para a RPC continuar a injectar largos dos seus milhões para Macau, pois ela própria tem problemas que cheguem e falta de recursos.
Isto de viver à mama, para além de insustentável torna-se instável. Para o bem de Macau, será melhor apostar ainda mais forte numa imagem de Cidade internacional e cosmopolita.
Foi muito bonito de se ver os recordes anuais de nº de turistas chineses em Macau. Agora não nos esqueçamos também como é que tradicionalmente os "chineses" tratam os seus, das mais variadas etnias.
Recordo-me de um episódio, de um dirigente do canal de TV chinês da TDM, pós 1999, a pedir ao seu homólogo português para ver se não dava um jeitinho (cunha) para os médicos portugueses tomarem conta do seu amigo que estava no hospital Conde S. Januário internado, tudo porque afinal "os chineses" tinham tomado conta do Hospital... Olha-me esta falta de coerência! Quando à meia-noite de 20 de Dez. de 1999 os portugueses eram pintados que nem bichos do mato... Está bem, está, um pouco mais de coerência fica sempre bem a qualquer um. Como o português é um tipo nacional-porreirista, lá se tentou safar o amigo do homem, não vá pintarem-nos ainda pior.
Hác-Sá, é uma terra de gente tão pacata e tão tranquila, e é preciso muito para se fazer um chavascal nesses domínios.
Nem no tempo do "123" os habitantes locais e em especial o régulo imperial (Regedor de Hác-Sá) deixou de dar ordens para abastecer em mantimentos os militares e a comunidade portuguesa (metropolitana e macaense)!
Tem piada que mesmo com o aval imperial chinês essa pequena comunidade indígena não deixou de ser grande amiga de Portugal e até tendo sido incorporada na Nação Portuguesa, afinal de contas são meus directos antepassados, do Clã "Ho" que tem os seus mortos sepultados por toda a região de Hác-Sá, dos Montes ao Westin, foi/é tudo nosso.
Caro Leocardo
O principal problema radica na indústria das excursões organizadas por redes de agências do Continente, Macau e Hong Kong e que trazem turistas em grupo a preços extremamente baixos.
O lucro é conseguido através do dinheiro gasto nas compras em lojas que vendem produtos de qualidade duvidosa a preços de artigo de luxo.
Esta é uma prática generalizada e que só não produziu mais conflitos visíveis porque os turistas (apesar de incultos e pouco civilizados) se sujeitam a estas regras.
Diziam as notícias que neste grupo estava alguém com responsabilidades políticas e ainda agentes da polícia militar.
É óbvio que não gostaram da tentativa de extorsão de que foram alvo e reagiram.
O conflito era apenas entre os turistas (ou melhor os líderes dos grupos de turistas) e os guias locais que agiram como verdadeiros criminosos.
A intervenção do agente da PSP destinar-se-ia a tentar serenar os animos.
Diz-me alguém que o agente foi agredido por uma turista quando começou a falar cantonense com os guias, uma atitude que foi entendida como colocar-se ao lado dos criminosos.
As imagens da televisão de Macau mostram uma turista a atirar-se para o chão à frente de um polícia que não lhe toca. Penso que este incidente é já posterior à agressão que envolveu o agente da PSP e a turista.
As imagens mostram também os turistas a carregar sobre agentes da PSP que guardam o carro patrulha onde estava o agente que primeiro interveio no caso.
Face a isto, nada mais restava do que chamar reforços sob a forma do corpo de intervenção, uma vez que do outro lado estavam algumas pessoas com formação militar.
A autoridade policial foi efectivamente posta em causa como mostram as imagens.
Conclusões:
- os serviços de turismo devem suspender imediatamente as licenças dos guias envolvidos no caso e, caso a investigação assim conclua, a licença deve ser simplesmente retirada.
- os serviços de turismo devem repensar este modelo de turismo de massas que nada de bom dá a Macau. Uma solução poderá ser limitar o número de excursões que entram em Macau.
Ouvidor Arriaga
Ainda não vi as imagens televisivas, mas a análise do Ouvidor Arriaga parece-me bastante adequada. Acrescentaria só que esta prática de enfiar os turistas em lojas e mais lojas, em vez de os levar aos sítios que interessam, é exactamente a mesma que é seguida do lado de lá da fronteira. Ainda me lembro das viagens que fiz pela China nos idos de 90, através dos Serviços Sociais da Adm. Púb. de Macau, em que os guias das cidades que visitávamos nos enfiavam o tempo todo em lojas, armazéns e fábricas, sobrando pouco tempo para realmente conhecermos essas cidades. Protestávamos, mas eles eram inflexíveis. Chegávamos a dizer que nos recusávamos a entrar em mais uma loja que fosse e eles, então, deixavam o autocarro parado à entrada da loja seguinte durante as duas horas que era suposto estarmos lá. Mesmo que não saíssemos do autocarro, eles não partiam enquanto não decorressem essas duas horas.
Até em programas feitos especificamente para mim e mais um ou dois acompanhantes, os guias da China Travel Service (que é a agência "oficial" da RPC) nos impingiram lojas e mais lojas, desviando-se completamente do programa escrito que a CTS me tinha entregue e que correspondia à minha solicitação (e ao elevado montante que eu pagara para ter um programa personalizado).
Em suma, é esta a mentalidade comercial de grande parte deste povo. Ser bom comerciante é saber vigarizar. Vigarizam os estrangeiros e vigarizam os seus próprios turistas internos.
Um pouco por todo o mundo existem casos como este, só que, normalmente, não terminam da mesma forma. Também em Portugal existem excursões, a custo muito baixo, cujo objectivo é o mesmo. Um outro exemplo a que assistimos em Portugal foi a venda de "timesharing", o processo de venda era muito similar, atraíam os potênciais compradores com o engodo de um brinde e, depois, levavam uma autêntica lavagem ao cérebro.
«Potenciais», sem acento.
Gostei do corrector residente e estou a começar a curtir o Bairro do Oriente. Como alguém já disse já cá estão quase todos!!!!
Obrigado, tenho também uma vírgula a mais em "...excursões, a custo muito baixo...", são as pressas, estou ainda a recuperar o tempo perdido numa discussão fútil em que me vi envolvido recentemente.
Certo. Todas estas opiniões são bastante válidas. Mas a imagem que passa para o exterior é, temos que admitir, negativa. Quem vê a BBC viu um contingente de cem agentes armados com escudos e bastões para fazer frente a um grupo de turistas. Agora quem se quiser inteirar da complexidade da indústria do turismo na região...
Caro Leocardo
Regresso ao assunto para dizer que, neste caso, até é bom que a imagem de Macau fique em causa.
Pelo menos junto dos potenciais turistas do Continente.
Pode ser que assim venham menos a Macau, que haja menos autocarros nas ruas, que parte do nosso espaço nos seja devolvido e que os industriais do jogo repensem os seus investimentos.
Em último grau tudo isto se traduzirá numa crise com a queda do número de turistas o que provocará também uma recessão no imobiliário... com os efeitos que todos conhecemos.
Mas... estarei apenas a sonhar uma vez que o apelo do jogo é demasiado forte para os chineses que nos visitam a rodos tornando a nossa vida impossível.
Caro Leocardo,
Ainda se recorda dos tempos áureos do turismo em Macau (anos 70/80) em que os visitantes eram na sua maioria vindos do Japão,da Coreia, de entre outros países asiáticos para além de europeus e americanos?
Haviam japas que por razões históricas tinham especial interesse em conhecer Macau por ser um enclave português.
O problema que se coloca prende-se com a dicotomia quantidade e qualidade.
Se Macau quer ganhar com o fluxo turístico do continente, deve ser ainda mais selectivo e elitista, realizando campanhas dirigidas às elites económicas e culturais, como que uma fase de estágio antes de se mandarem para a Europa ou EUA, só isso bastava.
Bom, confesso que não mer recordo, uma vez que só cheguei a Macau em 1991. Mas sim, ouvi dizer. Os turistas japoneses eram a jóia da coroa do turismo macaense.
e os coitados dos japoneses eram continuamente enganados em lojas, restaurantes, etc, a pagar preços até 10 vezes mais caros do que o resto. É também por isso que deixaram de vir e agora só temos esta merda de turismo que temos.
Boa!
Falando dos turistas japoneses, até gente supostamente séria de Hong Kong os engana: uma vez, o gerente do Hotel Marco Polo, em Tsim Sha Tsui, um tipo de Malta que conheci no resort da Malásia onde me encontrava de férias, confessou-me que o seu hotel praticava preços mais elevados para os turistas japoneses, argumentando que isso não era discriminação, mas qualquer coisa como segmentação de mercado...
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