sábado, 1 de dezembro de 2007

O medo


"(...)é tarde
estou doente no milénio que finda
as grandes rotas da paixão aborrecem-me
outro corpo magoa o esquecimento do meu
tenho saudade duma mão sobre o rosto
a melancolia dos olhos dos afogados
mas nunca pedi à morte um pano limpo
para vender ou polir o âmbar dos teus

resta-me este texto antigo deserto de asas
sobre a pele mordida pelas cinzas do voo
as horas como feridas de aguçados dentes
onde tremem alguns corpos que foram meus"


In "O Medo", Al Berto (1948-1997)

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