sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Os arcebispos da pobreza Franciscana contra os "Duponts" do Gent (não o Genk)



A participação das equipas portuguesas nesta ronda europeia terminou ontem à noite com a recepção do Sp. Braga aos belgas do Gent. Atenção para não confundir Gent e Genk, que é muita gente pensa ser a mesma equipa, e para ajudar à confusão, as duas estão na fase de grupos da edição deste ano da II divisão europeia, cuja resposta à pergunta "quem vai ganhar" é normalmente "o Sevilha, ou outra porcaria qualquer". O Gent com que o Braga jogou é conhecido em francês por "La Gantoise", mas fica na cidade de Ghent, na região de Limburgo, na Flandres, que é no leste da Bélgica, e faz fronteira com os Países Baixos. Ali fala-se flamengo, que é uma língua semelhante ao neerlandês com que comunicam os vizinhos holandeses, e soa tudo igual ao cozinheiro sueco dos Marretas (do "Muppet Show", para as novas gerações, isto é se souberem do que se trata...). Não vale a pena tentar entender o que dizem, pois quase de certeza que estão a resmungar pela independência e a chamar nomes feios aos belgas francófonos, que acusam de ser "preguiçosos", e de viverem "à mama" deles. O costume, vindo de gente tão "trabalhadeira". O Gent foi campeão pela primeira vez em 2014/2015, e se não sabiam disto é normal, pois ninguém liga àquela liga merdosa que toda a gente pensa que o Anderlecht ganha sempre, e são apelidados de "os búfalos", e não é devido ao emblema que o clube ostenta, um índio americano de perfil. Sim, um e não dois, pois quando deixaram de se chamar La Gantoise, os gajos adoptaram o emblema de um índio a olhar para a esquerda, e passado alguns anos, já mais velho, como podem constatar, cansou-se de ver sempre o mesmo e virou a cara para a outro lado. Ah, a razão porque se chamam "búfalos" deve-se a uma visita de Buffalo Bill a Ghent, esse mesmo, o próprio, que se apresentou aos gentenses...genteses...gentães...bem, os gajos de Ghent, juntamente com o seu circo. Conta-se que o sucesso foi tal que os locais decidiram chamar à sua equipa "os búfalos". É um bocado difícil de engolir, esta história, e até pode ser apenas uma lenda. Se calhar chamam-se "búfalos" devido à sua higiene descurada, que faz com que se anunciem com um intenso odor bovino. Eu prefiro esta explicação, agora escolham vocês a vossa.



Agora o Genk, que é "completamente diferente". Porquê? Porque acaba com "k", só! Genk é uma cidade também em Limburgo, na Flandres, e onde se fala igualmente o flamengo, e fica 138 km a sudeste de Ghent, e com Bruxelas exactamente entre as duas. Imaginem um jovem limburguês bruxelense que anuncia aos pais que "no fim-de-semana vai ficar na casa de amigos em GHENT", e estes entendem "Genk". O miúdo nunca mais dá notícias, os cotas ficam preocupados, e tal, e metem-se num carro e vão até GENK procurá-lo, fazendo 87 km na direcção errada! E quanto aos clubes a situação torna-se ainda mais pitoresca. 



O Racing Genk, como também é conhecido, chamava-se até 1988 KFC Winterslag, mas adquiriu o nome actual depois de se fundir com outro clube daquela cidade, o Waterschei Thor. O emblema actual é o que vemos à esquerda na imagem, que substituiu o que vemos à direita, que faz lembrar uma almôndega de carne enrolada em tagliatelle. Fizeram bem em optar por outro mais ergonómico (não ficasse a cidade apenas a 20 km da europeísta Maastricht, no outro lado da fronteira), e nenhum italiano fica ofendido com aquele "G" grotesco - "G" de Genk, atenção, e não de "Gent". Bom, a fusão foi bem sucedida, em todo o caso, pois o Genk que dela derivou foi campeão 3 vezes, todas já neste século, e a última delas em 2010, e com tudo isto as participações em provas europeias começaram a ser frequentes. Os sorteios são sempre animados, e até consigo ver os responsáveis do Braga a comentar o grupo que lhes saiu:

-  Olha, apanhámos o Cháquetar Dónesque da Ucrânia, o Conhasporte da Turquia e o Gent da Bélgica. 
- Queres dizer o Genk, da Bélgica?  
- Não, o Gent, que também é belga. 
- O Gent que foi campeão da Bélgica em 2001, 2002 e 2010?  
- Não, isso foi o Genk. O Gent foi campeão em 2015. 
- Olha, f...-se.


Portanto antes tínhamos duas equipas chamadas La Gantoise e Winterslag, e agora passámos a ter o Gent e o  Genk. Epá assim é muito melhor, e evitam-se confusões! Que belgas tão burros, estes. Pelo menos o Dupond & Dupont das histórias do Tintim a gente apanhava a "punchline" - eram gémeos idênticos que falavam ao mesmo tempo e diziam a mesma coisa, e não dava para distinguir um do outro. Giro. Mas...o que é isto??? Imagino como seria o relato de um jogo entre o Gent e o Genk. "Goooolo...do Genk!"...ou será do Gent? Se for adepto de um deles, devo festejar ou ficar triste? E ainda há quem ache que ter o Feirense e o Farense no mesmo escalão do futebol português é um problema.


Falando agora do jogo propriamente dito, se por um lado o Gent e o Genk são mais ou menos a mesma m..., e de vez em quando aproveitam a nítida decadência que o Anderlecht vem evidenciando desde os anos 90, o Braga conseguiu ser ainda pior. Os minhotos, que eram teoricamente mais fortes que a equipa belga - e não digo "belgas" porque dos 13 jogadores do Gent que estiveram em campo só um era belga - fizeram uma exibição à medida do seu treinador, o coruchense José Peseiro, que se deve inspirar no fertilizante da lezíria ribatejana para montar as suas estratégias para os jogos. O sérvio Milicevic adiantou o Gent logo aos seis minutos com um golo de fazer levantar qualquer estádio, um "tiraço" do meio da rua, mas se nesse lance não se pode acusar a equipa nem o seu treinador de nada, os restantes 84 lastimosos minutos têm a marca do treinador que no Porto perdeu a  final da taça em Maio último exactamente para o Braga. Se calhar está-se a vingar, minando por dentro a equipa que o derrotou, não sei, mas parece que o central André Pinto não terá entendido bem a táctica, e marcou o golo do empate aos 24 minutos. O jogo foi uma bela caca, em suma, e se em matéria de desencanto as equipas equipararam-se, em posse de bola o Gent levou vantagem, com 60% - a jogar na "pedreira" de Braga, convém recordar. Peseiro é que continua míope que nem uma toupeira: no final disse que "o Braga merecia ganhar". A sério? Ainda se fosse treinador do GENK e estivesse a falar de um jogo contra o GENT, ainda lhe dávamos o benefício da dúvida. Agora assim...

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