Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro

Vi esta manhã o filme "Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro", do realizador José Padilha ("Ônibus 174", "Tropa de Elite"), e fiquei deveras impressionado. Nem sei como este filme não está na lista de candidatos ao Oscar em todas as categorias, tal é o retrato fiel do lado mais negro da podridão humana.

"Tropa de Elite 2" é muito melhor que o seu antecessor, "Tropa de Elite", de 2007, aos mais vários níveis. Em "Tropa de Elite" o enredo tratava da cumplicidade entre traficantes, polícias e população, de como os fins justificavam os meios, e tudo isso. No primeiro filme conhecemos o Coronel Roberto Nascimento, interpretado por Wagner Moura, que lhe valheu os mais diversos elogios.

Em "Tropa de Elite 2" temos o mesmo personagem a combater um inimigo muito mais poderoso: o polvo de interesses em volta do tráfico de droga e de armas que se extende da mais insignificante favela do Rio de Janeiro até aos gabinetes do planalto de Brasília. O filme diz que é uma obra fictícia, mas poderão haver coincidências com acontecimentos reais.

Eu não duvido. Aquilo que vemos nas notícias sobre as guerras de traficantes nas favelas é apenas a superfície de um problema muito mais grave. Ninguém se mata para se divertir, é claro que estamos a falar de milhões e milhões de dólares envolvidos. Desconheço o impacto que este filme teve na opinião pública brasileira, mas em muitos outros países lançaria uma onda de protestos e caos.

A grande diferença entre o cinema brasileiro, que consegue produzir filmes deste calibre, e o cinema português, que é uma merda, é a forma como os brasileiros conseguem dar aos filmes um toque de realismo. A primeira parte do filme leva-nos a Bangu 1, uma prisão onde estão detidos os criminosos mais perigosos do Rio de Janeiro, e à forma como os presos são sistematicamente executados ou mortos em brigas de gangues rivais. A interpretação de Seu Jorge no papel de Beirada, um traficante detido em Bangu 1, deu a entender que estávamos na presença de um filme de enorme qualidade no departamento do argumento e do desempenho dos actores.

Wagner Moura merecia um Oscar para melhor actor (mas muito melhor que Colin Firth ou James Franco) no papel de Coronel Nascimento, um homem mais duro que o Rambo, mas com sentimentos. No papel de mau da fita está Sandro Rocha, que entra na galeria de grandes vilões do cinema, e merecia um Oscar para melhor actor secundário. O seu Major Rocha, um PM corruptíssimo e sem escrúpulos mete medo. Ao nível de Jack Nicholson no seu melhor.

André Ramiro e Milhem Cortaz voltam no papel de capitão André Matias e Coronel Fábio Barbosa. Um negro, disciplinado e justo, o outro branco, covarde e corrupto. André Mattos aparece no papel de Fortunato, um obeso Deputado Estadual e apresentador de um programa de televisão sensacionalista. Não sei porquê, mas fez-me lembrar alguém conhecido, assim um misto de Paulo Rangel com professor Herrero.

Não vou contar partes do filme, mas para os adeptos dos tiros, execuções, violações, tripas de fora, etc, vão adorar. Sim, o filme é extremamente realista e violento, mas para quem não tem estômago fraco ou não é mariconço ou mulher, aguenta-se muito bem. Dou um rating de 9.1/10. Ao nível de grandes filmes do género, como "Goodfellas" ou "Cidade de Deus".