Crónica de um almoço solitário do Dia de S. Valentim

Nota prévia: este post contém o vírus da clubite crónica

Foi um Dia de S. Valentim frio e com chuva, que veio acentuar ainda mais o clima deprimente da data. Entre mongolóides que se passeavam com ramos de flores (devia ser para nos lembrar a toda a hora), fui almoçar sem o meu amor a um restaurante no centro da cidade onde estavam também outros portugueses. Três deles conversavam sobre futebol, sobre as incidências da jornada de ontem, e fiquei tonto com a conversa que ouvi.

Aparentemente lá pelos futebóis dos Portugáis o Benfica ganhou, e o Porto ia jogar em Braga, então aí estava uma oportunidade para os adeptos encornados, perdão, encarnados, puxarem pelo Braga. Mas o Braga perdeu, então o tom de conversa dos meus amigos passava por dizer que um tal de Domingos "abria as pernas" ao Porto, e contra o Benfica os jogadores do Braga "comiam a relva". E gostava de sublinhar que a esta altura estava eu a tentar saborear um caldo verde em condições.

Outro dos convivas, claramente do FC Porto pelo tom embrutecido e pela forma como falava com a boca cheia de pão, dizia qualquer coisa como "bochês shão muito shantinhos". Falava-se já de arbitragens, mencionavam-se nomes de não sei quem do conselho de arbitragem, pela conversa os senhores deviam ser juristas ou coisa que os valha. E ia por aí fora, com muita vinhaça à mistura (também posso estar a exagerar um pouco para dar um toque mais dramático).

Em menos de dois minutos a discussão ia no mérito europeu de Benfica e FC Porto. O benfiquista dizia que o Porto "ganhou finais da treta e o Benfica ganhou ao Barcelona e ao Real Madrid". O portista retorquia que naquele tempo "a bola era quadrada", e como não tinha nascido, chegando a dizer que "ainda balançava nos...", bem, vocês sabem o resto.

A conversa subia numa espiral de caganeira, e eu já pensava que aqueles senhores tão bem compostos iam começar ali a partir as garrafas de Super Bock na cabeça uns dos outros. O terceiro ria, fazia cara séria e ficava simplesmente calado. Devia ser sportinguista. Assim como no Campeonato, também na vida real os lagartos gostam de ficar de fora das grandes discussões.

Uma conversa completamente escusada, com homens na casa dos 40 anos ou mesmo 50 a comportarem-se como crianças. Será que os homens não sabem falar de mais nada sem ser de futebol? Precisavam da companhia daquele leitor do Bairro do Oriente que diz que o desporto dele é "comer gajas". Assim já não falavam tanto do tal Domingos, que é UM HOMEM, "abrir as pernas". Meus amigos-ss-ss, não havia nexexidade, hmm, hmm.