Uma das desvantagens de não ter limpeza a seco em casa é a necessidade do recurso à lavandaria. Existe uma aqui a 10 minutos de casa onde já vou há mais de dez anos, e hoje fui lá levar uns casacos e buscar outros. Exigências deste Inverno rigoroso que temos tido este ano. Pelo caminho, enquanto levava os casacos, a minha mulher liga-me e diz que me esqueci do recibo, pelo que não poderia levantar os casacos limpos. Disse-lhe que já estava perto da lavandaria, e então sugeriu-me que dissesse o número do recibo, e como já tinha acontecido noutras situações análogas, levava os casacos sem problema.
Acontece que, azar dos azares, a proprietária da lavandaria não estava, como habitualmente, e deixou no seu lugar uma outra senhora que nunca vi em toda em minha vida. Expliquei-lhe o problema, e disse-lhe que precisava dos casacos para amanhã, e depois levava-lhe lá o recibo, enfim, o costume. A senhora diz que gostava muito de me ajudar, mas que “só está ali a substituir por dois dias”, e que não se importa de me dar os casacos “desde que eu deixe o número do bilhete de identidade”. Por um nanosegundo senti-me tratado como um vulgar ladrão de casacos, e até olhei para trás para me certificar que não tinha entrado na Polícia Judiciária ali mesmo em frente. Mas não, estava mesmo na lavandaria. (Se calhar tenho mesmo cara de ladrão de casacos, pois procrastinei a barba).
Mas depois percebi a angústia desta minha amiga substituta da outra, pois o que não falta em Macau é ladrões de casacos, ladrões de guarda-chuvas, ladrões de lugares nas filas e nas listas de espera, todo o tipo de ladrões. É de fartar vilanagem. Voltei então a casa para buscar o recibo e voltei, o que me fez perder aí uns vinte minutos da vida que podia ter passado a fazer qualquer coisa mais interessante. Dormir, por exemplo. Não me vou queixar da situação à senhora da lavandaria quando esta retomar as suas funções. Afinal a culpa foi minha, esqueci-me do recibo, e não contei com o “dia da empregada estúpida e incompetente”, que se festeja hoje.
Um pouco por toda a parte em Macau é assim: gente que não se quer responsabilizar, que não quer assumir, que “não é de cá, só veio ver a bola”, que morre de medo de se enganar. Desde o empregado do 7-11 que não nos quer trocar uma nota de quinhentos porque tem medo que sejamos falsificadores, o empregado do Pizza Hut que nos traz uma pizza diferente da que pedimos e ainda nos pergunta “se não nos importamos de comer na mesma”, os telefonistas que nos deixam em “hold” cinco minutos ao som de musiquinha de elevador. Há patetas em toda a parte.
Não espero nenhum tipo de tratamento especial pelo simples facto de ir quase todas as semanas durante mais de dez anos à mesma lavandaria, claro. Tenho a certeza que o leitor também trataria de ânimo leve o facto de ir, por exemplo, a um café que frequenta há vários anos e conhece toda a gente, e ser tratado como um estranho.
6 comentários:
Não se deve confiar em estranhos.
entao portugueses..
Uma vez no taxi em lisboa so tinha uma nota de 50 euros para pagar cerca de 14 euros,ui caiu o carmo e a trindade,o taxista não tinha trocos para 50 euros e começou aos palavroes a discutir comigo e eu respondi-lhe que não tenho culpa que o multibanco desse só uma nota de 50 euros para mim,começamos a discutir aos insultos,quase a porrada,depois veio um policia perguntou-nos o que se passa e expliquei e pronto o fdp do taxista acalmou,e depois teve que me levar até a rua mais proxima com multibanco para eu levantar uma nota de 20 euros e ele ter finalmente troco
Confiar em gajas é que o ponto fraco dos homens.Então se foremm bonitas então estamos lixados.
Se o Leocardo procrastina mais uma vez, não me responsabilizo pelo que vou fazer a este blog.
Cago nas suas ameaças.
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