terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sonho oriental


Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com factos ou pessoas reais é apenas coincidência.

Consideremos dois personagens: Manel e Maria, um feliz casal da Bobadela dos meados dos anos 90. Manel era um simpático talhante da Brandoa, enquanto Maria trabalhava a dias na Reboleira. Com dois filhos pequenos, lá iam sobrevivendo e trabalhando duro para pagar as contas no fim do mês. Manel aproveitou um dinheirinho extra de umas casas que o avô lhe deixou para tirar um curso de qualquer coisa à noite. Não era fácil estudar e acordar às seis da manhã para ir descarregar os lombos, os leitões, os coelhos ou as codornizes, mas Manel ia aguentando bem. Um dia soube por um primo no ministério/amigo na Câmara/cunhado nas Finanças que “precisavam de gente em Macau”, e chega excitadíssimo a casa para dar a notícia à Maria. Feitas as contas, a pataca era vinte e tal paus na altura, vinte e tal mil patacas são quase quinhentos contos, portanto a única opção é partir.

Os miúdos vieram também, fizeram logo amigos entre os filhos da nata da sociedade que também estudavam no Liceu. Manel era um caso de sucesso: indispensável na sua companhia, via o contrato renovado ano após ano, e era o "Sr. Dr. Manel". Maria já nem precisava de trabalhar: ficava a tomar conta da casa, saía para a amena cavaqueira com as mulheres de outros manéis, era um descanso. Os filhos compravam tudo o que queriam e que nunca imaginariam ter se tivessem ficado na Bobadela. Iam às lojas de Hong Kong com os amigos, e aos fins-de-semana gastavam mil patacas à noite. Quando iam de férias a Portugal no Verão, eram os putos mais ricos da Bobadela e arredores.

Como era diferente a vida em Macau. Na Bobadela jantavam fora nos aniversários e domingos santos, sempre no Zé da Rolha, em Alfornelos. Em Macau comiam fora todos os dias, e às vezes em hotéis de luxo. O mais longe que tinham ido quando viviam na Bobadela foi quando foram passar a lua-de-mel numa pousada no Alentejo, em 86. Agora conhecem “toda a Ásia”, e não se inibem de falar com naturalidade de Tóquio ou Singapura aos vizinhos, amigos e primos, que nunca foram a lado nenhum e ficam a ouvir com um sorriso amarelo. No Natal vão à Tailândia fazer praia, coisa normalíssima que até já enjoa. Nos tempos longíquos da Bobadela iam acampar na Costa da Caparica, Verão sim, Verão não. Em Macau a empregada “deixa o jantar feito”. Na Bobadela o jantar era às vezes o resto do cozido de Domingo ou uma pizza congelada. No Verão vão de férias a Portugal, atenção, Por-tu-gal. Manel e Maria deixaram a Bobadela e agora têm uma vivenda em Loures, tornando-se assim cidadãos de bem.

Os anos passam e Maria já faz parte do "jet-set" macaense. A antiga sopeira que não acertava num puzzle da Roda da Sorte ou num prémio bom do 1,2,3 começa a frequentar eventos sociais, concertos que a aborreciam imenso e exposições ridículas. Não falta ao lançamento de um livro de um autor local, e leva sempre uma cópia autografada. Diz que “consome cultura” e pertence praticamente a todas as associações lusófonas. Grande homem e apreciador de uma boa farra, Manel começou a sair com os amigos, primeiro em fartas jantaradas, uma ocasional bisca, e uma visita à sauna ou clube nocturno onde saltam as margaridas frescas.

Manel, que já não sabia o que era uma anca estreitinha desde os anos 80 do século passado, fica louco com as russas, as mongóis (ou “mongolóides” como ele as chama), as tailandesas e as indonésias. Tudo fruta dos trópicos ou das estepes, e Manel deixa sempre uma notinha de mil ou duas pelo menos uma vez por semana. Seria um escândalo lá na Bobadela, com a Maria a atirar os pratos ao Manel enquanto gritava “eu mato-te, desgraçado”, mas aqui é tudo muito mais suave, quente e húmido. O Manel não é “má pessoa” ou sequer um “adúltero”, é simplesmente um daqueles simplórios (lá no fundo), que gosta de se divertir de vez em quando, e pronto, o conceito de diversão é pessoal e variável. Além disso as russas, mongóis, romenas, etc. têm a “escola toda”, e fazem “coisas” que a Maria “nem sabe que existem”. Parece que existe uma relação íntima entre o facto de ter dinheiro e poder e querer fornicar tudo o que apareça pela frente. E um homem não deve morrer estúpido, além disso tirando as experiências “com as primas lá na terra”, tudo o que o Manel sabia do sexo oposto antes de vir para Macau, aprendeu com a Maria.

Maria sabe, ou pelo menos desconfia das escapadelas de Manel. Para ela tudo bem, desde que o homem não dê muito nas vistas, e principalmente que “não deixe as amigas saber”. Maria sabe que pedir o divórcio a Manel por este andar metido com meninas da pouca vergonha adianta pouco, e ainda os amigos advogados do Manel lhe faziam a caminha, e lá voltava ela para a santa terrinha com as calças na mão. Manel pouco se rala se Maria sabe ou não sabe, portanto duas ou três vezes por semana lá há reunião no escritório “até tarde”, e “não vai ser preciso esperar para jantar”, e acima de tudo “o telemóvel está em meeting”. Entretanto os filhos estão na universidade, ou já casados, e fizeram vida lá em Portugal, onde estão remetidos à vulgaridade da Bobadela ou da Brandoa.

E lá vão Manel e Maria vivendo até ao limite o sonho oriental. Pelo menos enquanto ainda dá...

30 comentários:

Anónimo disse...

este texto está minado de erros ortográficos...
Leocardo, escreva o seus textos no Word, assim o PC corrige o texto...

Pedro Coimbra disse...

Um post bestial!!
Sociologicamente, está um mimo.
Quem é que não conhece os manéis e as marias?
Muito bom mesmo.

Anónimo disse...

Somos todos um pouco manéis e marias, enfim...

Anónimo disse...

Eu não sou. Nasci em Lisboa, o meu pai era engenheiro, o meu avô só chegou a capitão porque se meteu na revolução monárquica do Paiva Couceiro e o meu bisavô era general.

Anónimo disse...

Onde estão os erros ortográficos, anónimo das 17:42?

Anónimo disse...

Leocardo, tenha cuidado, voce esta a ficar com mentalidade de "portugues radicado".
Vi muitos desses quando ca cheguei nos anos oitenta.
Vieram nos anos cinquenta e sessenta fazer a tropa, e por ca se estabeleceram.
Era ve-los a destilar odio aos "comissionistas" que vinham de Portugal. Nao percebo a embirracao mascarada de ironia com o Manel e a Maria. A maior parte dessas pessoas sao super decentes e vieram para ca fazer o mesmo que toda a gente, isto e, tratar da vidinha.Ou sera que prefere os Maneis e as Marias aqui do Dalu,que veem especular no imobiliario, jogar o dinheiro da aldeia ou estoirar o subsidio para a construcao de uma qualquer escola que ruiu no terremoto?

PEDRO CHINA disse...

INFELIZMENTE HOJE ESTES MANÉIS ESTAO QUASE RESERVADOS AOS JURISTAS...

Anónimo disse...

Está um texto muito bom, uma delícia. Uma bela critica a muitos maneis e marias que conhecemos.

Mas concordo com o anónimo que me antecedeu. Essa réstia de ódio que tem aos seus, muitas vezes estampada em prosa, pode tornar-se num problema grave se crescer muito.

AA

Anónimo disse...

Leocardo, adorei a sua história; adorei ainda mais a reacção dos nossos compatriotas. Normalmente não nos sentimos atingidos quando a ironia feita não é sobre nós, não é verdade? Infelizmente, está aqui um grupo de pessoas que realmente fazem figura ridícula e que ridiculariza o resto dos portugueses.

Anónimo disse...

A "fauna" macaense é ainda muito mais extensa.
Há muitas situações bem distintas mas não menos ridículos.
Mas, no fim de contas e pelas mais diversas razões, todos cá estamos porque estamos melhor do que estariamos se regressássemos.

Anónimo disse...

Cada um e' que sabe de si.

Anónimo disse...

Cada um sabe de si e não tem que dar contas a ninguém...Mas aqui em Macau, TODA A GENTE SABE DE TUDO E DE TODOS!!!

Anónimo disse...

O retrato está com muita piada e tem especial aplicação naqueles muitos casos em que os manéis e as marias são pretenciosos. Não fora isso e não haveria nada a dizer.

Anónimo disse...

Em Macau sabe "de tudo e de todos" porque o meio turga e' pequeno como em qualquer pequena cidade.

Anónimo disse...

Pois eu não sei nem quero saber de ninguém e recuso-me a ir a eventos sociais cheios de portugueses que vão para se mostrar. Prefiro o submundo do que isso.

Anónimo disse...

" Mas aqui em Macau, TODA A GENTE SABE DE TUDO E DE TODOS!!!" é natural,com quase 30 km2 é normal isso acontecer,até quando alguém peida na rua em macau todos sabem.Uma vez fui as putas em macau,no dia seguinte todos já sabiam.

Anónimo disse...

Os tugas podem ser muita coisa, mas o que e certo, e que Macau tinha muito mais piada quando tinha mais tugas, no tempo da administracao portuguesa.

Anónimo disse...

"Macau tinha muito mais piada quando tinha mais tugas" Mas porque?Agora há também bastantes portugueses.

pedro china disse...

Agora há também bastantes portugueses,mas muitos a trabalhar no duro, ao contrário do tempo doutra senhora...

Anónimo disse...

Trabalhar no duro???Só se for sentado na secretária a coçar os colhões ou a cona e a ler os jornais do dia.

Anónimo disse...

O anónimo das 03:01 deve estar a descrever o seu próprio emprego. É que no meu trabalha-se, independentemente da nacionalidade, religião ou sexo.

Anónimo disse...

Pois no tempo da outra senhora nenhum tuga trabalhava, iam para o cafe a toda a hora e no fim do mes recebia um chorudo salario. Talvez o Pedro China e' um deles e agora como tem que trabalhar de verdade queixa-se.

Anónimo disse...

Sim no tempo da outra senhora os tugas de Macau coçavam os tomates e conas e liam jornais e passavam assim o dia no trabalho e ganhavam bem,belos tempos não é.O Pedro China esteja caladinho porque certamente não deve ter vivido em Macau no tempo da outra sennhora,por isso não venha dar lições de vida.

Anónimo disse...

No tempo da outra senhora havia muita corrupção e tacho em Macau e pouco ou nada se trabalhava,eu trabalhei durante anos no IDM em Macau e passava o dia a não fazer quase nada.Até dava para ler muitos jornais,estudar,conversar,tomar café,ir a sauna no mesmo prédio etc A pior coisa é estar sentado sem fazer nada,é uma grande seca e o tempo custa passar.Eu prefiro ter muita coisa para fazer no trabalho para o tempo passar mais depressa.

Anónimo disse...

Eu agora também vou coçando umas conas, tem é de ser ao fim-de-semana.

Anónimo disse...

Então anónimo das 18H32,dias de semana coças o que?Ou não coças?

Anónimo disse...

Nos dias de semana tenho de trabalhar.

pedro china disse...

no IDM podia fazer sauna dentro do serviço...ou seja corrupção e iligalidades continuam a ter, por praticados mas limitado a certo tipo de pessoas e não todos como no tempo da outra senhora...

Anónimo disse...

O anónimo das 19h52 sabe muitas coisas de corrupção em Macau,será que...

Tugas são labregos, sorry disse...

O Leocardo acertou na 'mouche' com este texto, eh eh eh. Cambada de bimbos, os tugas...